29.11.09

UMA LEITURA DE DOMINGO*

«Um mês bastou para se perceber o inevitável destino deste segundo governo “socialista”. Sócrates conseguiu irritar e hostilizar a oposição inteira durante quatro anos. A imagem de inflexibilidade e “determinação”, que ao princípio o serviu (de resto, por pouco tempo), acabou naturalmente por se transformar na imagem de suficiência e autoritarismo que hoje convida toda a gente a uma desforra exemplar. Ninguém acredita que o primeiro- ministro se transformou do dia para a noite no homem da conciliação, principalmente quando ele insistiu (e continua a insistir) que ganhou as legislativas de Setembro (que, de facto, perdeu) e ameaça cumprir o programa do PS como se estivesse em maioria absoluta. O carácter sobrevive à peripécia e o país vê nele o que ele até agora sempre quis que se visse – e que foi com firmeza rejeitado por milhões de portugueses. Pior ainda: Sócrates conseguiu juntar à animosidade política da esquerda e da direita, em princípio lógica e normal, uma execração pessoal sem precedentes. Por táctica ou vaidade, entrou numa guerra inútil e azeda com a televisão e a imprensa, que não lhe trouxe qualquer vantagem e o fez pagar pelo que devia e pelo que não devia. A obtusa (e frívola) tentativa de “gerir” a informação produziu exactamente o efeito contrário: o reino do boato, da “fuga” e da suspeita. Não admira que, com razão ou sem ela, o envolvessem em “escândalo” sobre “escândalo”: a licenciatura, o Freeport, a casa, a Face Oculta. Sócrates supõe que é vítima de uma ignóbil tentativa de “assassinato político”, mas não compreende que ele próprio a provocou. Governar pela propaganda e para a propaganda acaba, tarde ou cedo, mal. Em minoria, Sócrates não pode materialmente persistir na política que o levou ao desastre. Já recuou em matérias que há seis meses considerava intocáveis: na agricultura, na saúde, na avaliação dos professores. Fingiu que era por bom senso e vontade dele. Era por fraqueza. E, como não enganou a oposição, irá rapidamente passar da fuga à debandada ou à paralisia. Do Bloco ao CDS, o Parlamento não o estima, nem respeita e tem um objectivo principal: que ele saia de cena, mesmo a favor de outro PS. Verdade que discutir Armando Vara enquanto a bancarrota se aproxima raia a loucura. Só que no estado a que as coisas chegaram, nada se resolverá com Sócrates. A realidade é esta.»

Vasco Pulido Valente, Público

*Esta é apenas uma. Porém, um blogger faz sempre as suas, aos domingos, e encima-as com "um livro". Escolheu, desta vez, a História de Portugal coordenada por Rui Ramos. Não para a ler. Mas para a pesar. É o que há de "massa crítica" espalhada por aí.

12 comentários:

  1. radical livre7:33 p.m.

    de face oculta só conheço a burca

    o hara-kiri do pm
    é o do zé povinho

    ambição, cupidez, preversidade
    estão ligadas a mecanismos
    mentais e politicos de arrepiar

    nova edição do fantas-rato
    com todos os ratos em cena

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  2. Anónimo7:58 p.m.

    "no estado a que as coisas chegaram, nada se resolverá com Sócrates".

    Parece-me a primeira vez que vejo uma curta frase tão sábia, a propósito do execrável palhaço que gramamos vai para 5 longos anos!...

    PC

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  3. Aires Vilela8:27 p.m.

    A imbecilidade socretina não poderia rever-se em melhor espelho do que nesse pesador de livros.
    Que miséria!

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  4. Anónimo8:31 p.m.

    Começo a achar que foi bom que José Sócrates tenha ficado em S. Bento. O homem ainda acaba por ser defenestrado...

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  5. Vasco Pulido Valente volta a presentear-nos com uma excelente crónica (uma constante desde que saiu da TVI). Desta vez, se bem o interpreto, vem convidar o próprio PS, no seu seio, a encontrar uma alternativa a Sócrates.

    Há uns dias, algures no espaço etéreo da blogoesfera, eu próprio tinha feito essa sugestão, recusando-me a acreditar que no PS já não haja um número significativo de pessoas de bem.

    Como VPV sugere, é imperioso substituir José Sócrates.

    (*) - Imbecil, to say the least, é o comentário(?) de Eduardo Pitta à "História de Portugal" coordenada por Rui Ramos, livro que comecei hoje a ler com sofreguidão.

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  6. Anónimo9:47 p.m.

    ainda bem que li o Eduardo Pitta, pois assim sei que ele até comentou o livro. claro que para desconversar vale a pena fixar-se num dos pontos (e relevantes) da crítica e dar a impressão que não disse mais nada. a isso chama-se falta de honestidade intelectual.

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  7. Anónimo7:15 a.m.

    Faltou apenas a VPV sublinhar e nomear quem, na imprensa, faz de canídeo ao serviço de Sócrates.
    Falta explicar, e ele, VPV, poderia fazê-lo com propriedade e não eu, uma "anónima meramente".
    QUEL ALGUÉM DIGA ALTO E BOM SOM QUE HÁ JORNAIS E RÁDIOS PRIVADOS(dos públicos não vale a pena falar) QUE SÓ TÊM NOTÍCIAS DE CABOS DA GNR QUE MATAM MULHERES E COISAS QUE O VALHAM PARA CRIAR ESPAÇO PARA AS PEÇAS DE ACONCHEGO AO PRIMEIRO MINISTRO.
    Que outro objectivo não têm que não seja ser o martelo com que se bate em quem não gosta do pm ou o acolchoado para as suas noites invernosas.

    Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Diário Económico, TSF(esta ainda com um bocadinho de vergonha na cara) e ainda outros menos metálicos não têm outro fim que não seja alimentar e defender Sócrates. Alias, alguém reparou no papel da senhora Clara Ferreira Alves naquela coisa do Eixo do Mal??
    Muitos pontos acima do Marcelino ou congéneres do JN e do DE!
    Que piolheira este país está!!
    Ora, como Sócrates não faz isto tudo sozinho, quem XXL está do lado de fora a maquinar?
    Rita

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  8. "no estado a que as coisas chegaram, nada se resolverá com Sócrates".


    Não sei, o que sei é que o povinho vota nele e um voto do povinho vale o mesmo que o voto do VPV.
    É a vida.
    Aliás quer VPV quer MC já anunciaram o fim de Portugal e do Mundo por dez mil vezes.

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  9. Alexandrino.. Vc. então prefere papagaios que lhe prometem amanhãs qua cantam mesmo que não haja ninguém para cantar. Bom proveito.

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  10. Anónimo1:01 a.m.

    Falta ao PR fazer uma comunicação ao País a dizer que deixou de confiar neste primeiro-ministro e que o PS escolha outro candidato ao lugar. Motivos tem que sobra para tomar essa decisão. É preciso que o PS reconheça essa inevitabilidade. E quanto mais depressa melhor.

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  11. hajapachorra4:55 p.m.

    O PS não substitui o capo porque não pode. Ele tem-nos na mão. Não me perguntem porquê. Perversões.

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  12. Vc. então prefere papagaios que lhe prometem amanhãs qua cantam

    Não prefiro nem deixo de preferir, limitei-me a constatar dois factos.
    São mentira?

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