8.9.09

«AFINAL O QUE IMPORTA É NÃO TER MEDO»


PASTELARIA

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os
olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com
fome
porque assim como assim ainda há muita gente
que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de
muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.


Mário Cesariny de Vasconcelos

5 comentários:

  1. radical livre11:26 da manhã

    dei comigo a pensar: Cesariny era "fino como um alho".
    "derepentemente" lembrei-me da origem da expressão conhecida durante a minha passagem pelo Porto.
    na I dinastia um tal Alho terá negociado com a Inglaterra a troca de bacalhau por vinho verde embarcado em Viana.

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  2. Os quatro malfeitores da Justiça estão reunidos conspirando para abafarem o caso Freeport até às eleições.No dia 27.9 é a altura de os abafar definitivamente.

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  3. Lembra, J.G.?
    «O Amor afasta o Temor...»
    (N.T.)

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  4. É uma das poesias de Cesariny de que gosto mais. Aprendi-a de cor há muitos anos. Também não é difícil. Mas é sempre um prazer relê-la (e ir recitando de memória ao mesmo tempo).

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  5. Acho que já o postei lá na Pastelaria mas relendo-o aqui ocorreu-me que está na altura de o repostar

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