14.6.09

O "GRANDE CAUDILHO" E A "CASA CIVIL"


«Afonso Costa não se enganava ao recusar paliativos. Em persistir no erro talvez estivesse a única salvação (...). Os próprios democráticos acusavam Afonso Costa de exercer uma «tirania grosseira e vexatória» sobre o país, o partido e «até sobre o grupo parlamentar». Ao que parece, ouvia apenas um círculo de amigos íntimos e apenas por ele distribuía os seus favores oficiais e outros. Este círculo juntava gente dúbia, como o seu irmão Artur, o seu cunhado José Abreu, o seu sócio de escritório Germano Martins, dois procuradores do dito escritório, um jornalista de O Mundo e um tal Tudela, cuja profissão não se conhece. E também, na periferia, alguns ministros sem prestígio nacional ou político entre os quais Alexandre Braga, um batoteiro notório, e Ernesto Vilhena, que viera directamente do franquismo para os democráticos. O grupo, pelo menos pouco saboroso, acabara por ter uma existência pública e por se tornar conhecido sob o nome de «casa civil». Segundo corria, a «casa civil» estava encarregada de espiar o partido, especialmente os deputados, e com ela Afonso Costa tomava todas as decisões importantes. Os órgãos formais de poder - o Conselho de Ministros, o grupo parlamentar e o directório do PRP - não eram ouvidos, recebiam ordens. Há provas de que não levavam a bem estes modos autoritários do «grande caudilho». Contou mais tarde o insuspeito Alexandre Braga que «muitos dos mais categorizados» dirigentes do partido não perdiam uma oportunidade de criticar Afonso Costa nos «lugares de conversa e de intriga política». nos «cafés» e nas «ruas» (...) As histórias da «casa civil», da sua influência oculta, dos negócios ilegais que patrocinava, das suas ligações aos subterrâneos da política e aos grupos terroristas talvez sejam, em parte, mitológicas. Sucede que eram dadas por verdadeiras no próprio PRP (...) Os notáveis democráticos desaprovavam os seus métodos, achavam a «casa civil» corrupta e prepotente e, como o resto dos portugueses, detestavam o «tirano». Mesmo no tempo terrível do exílio e da obscuridade não se sente em ninguém sombra de afecto pela criatura. Como António Maria da Silva declarou a Alexandre Braga em Maio de 1918, no apogeu do sidonismo, Portugal e o Partido Republicano viviam melhor sem ele.»

Vasco Pulido Valente, Portugal - Ensaios de História e de Política, Aletheia Editores, 2009

7 comentários:

  1. Anónimo12:49 p.m.

    Afinal o que é que aconteceu á Cancio ?

    É que nem no DN aparece...

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  2. Está no Sheraton Pine Cliffs

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  3. Codilharam o caudilho...

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  4. Anónimo5:03 p.m.

    Estava preocupado....

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  5. Sócrates não conseguirá ser uma reedição do Afonso Costa, apesar de tudo ter feito para isso.Mudando os nomes o texto de VPV assenta-lhe como uma luva.No dia 7 de Junho os Portugueses do sec.XXI disseram BASTA! e deram-lhe ordem de despejo.

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  6. Anónimo7:36 p.m.

    É engraçado, também me lembrei imediatamente da criatura quando li esta passagem.

    Mas ao contrário do mamífero, Afonso Costa não era completamente analfabeto.

    dutilleul

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  7. garganta funda....8:11 p.m.

    Não vamos ser brando com ele.

    Este tipo merece ser julgado por ter colocado Portugal à beira do precipicio.

    Muita empresa desfeita; muita família destruída; muita gente a fugir do país à procura de trabalho; muita trafulhice e corrupção; muita penhora e execuções em cima de gente humilde, enquanto os protegidos do regime continuam a não "ter bens no seu próprio nome"; muita Injustiça; muita ladroagem,etc.

    Tudo isto existe:Tudo isto tem um rosto.

    O rosto do regime mais sanguessuga e parasitário que houve em Portugal pós-25 de Abril.

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