19.3.09

RESPOSTA A UM COMENTÁRIO

O José Pimentel Teixeira (JPT) engana-se. Quando me apetece responder a comentários, respondo. Da mesma forma que os deito para o lixo quando são insultuosos, redundantes ou simplesmente imbecis. O critério - e a inerente censura - é, naturalmente, o meu. Se o JPT aqui vem de vez em quando, já deve estar "familiarizado" com o que penso sobre Joseph Ratzinger. Em geral, e para resumir, penso bem. Muito bem, até. E sabe porquê? Porque o li antes de ele estar sentado na famosa cadeira de Pedro. Raztinger é, para além de um grande teólogo, um bom filósofo. E um bom filósofo, como ensinou Nietzsche, serve para incomodar a estupidez. Muitas das coisas que se lêem e escrevem sobre Raztinger relevam desta infeliz rasura intelectual. Se há alguém que "mede" bem o que diz, esse alguém é justamente o antigo Cardeal Ratzinger. Por outro lado, a Aura Miguel é uma jornalista (porventura a única portuguesa) que está, há anos, acreditada no Vaticano e acompanha, também há muitos anos, as visitas papais. Foi minha colega e tenho-a como minha amiga pelo que, por aí, JPT, estamos conversados. Sobre o pseudo-tema "de fundo", limito-me a deixar aqui dois comentários que respondem, na perfeição e melhor do que eu o poderia fazer, às suas "inquietações africanas". Para mais, não adianta obnubilar o carácter essencial de uma visita apostólica com a relevância desta com a habitual "lana caprina" do "diz-que-disse" para encher chouriços nas televisões e nos jornais com meias-verdades ignorantes.

«O que o Papa disse foi que a forma mais eficaz de combater a SIDA não é o preservativo e esta é uma afirmação confirmada pela realidade africana. Recomendo uma leitura atenta do documento “PROJECT LESSONS LEARNED CASE • STUDY - What Happened in Uganda? - Declining HIV Prevalence, Behavior Change, and the National Response “ apresentado à Conferência Internacional sobre a Sida em Barcelona 2002. O que a experiência nos diz no caso do Uganda, o maior caso de sucesso no combate à SIDA em África na década de 90, é que o preservativo não é um factor determinante nesse combate - “Condom social marketing has played a key but evidently not the major role: Condom promotion was not an especially dominant element in Uganda’s earlier response to AIDS, certainly compared to several other countries in east-ern and southern Africa” pag. 8. São estes os casos de relativo sucesso o do Uganda e do Malawi, já nos países onde a ênfase tem sido diferente com uma forte aposta na distribuição massiva de preservativos a situação agravou-se, e muito – é o caso da África do Sul e de Moçambique. A Igreja sabe bem do que fala, são homens e mulheres que estão lá onde os africanos morrem diariamente, e não passam a vida em seminários e workshops, quase todos patrocinados pelas multinacionais farmacêuticas. »

(do leitor Paulo)

«Admito que a forma como o Papa se exprimiu facilite as polémicas que se geraram, estamos cada vez mais habituados a reter só a frase em vez de nos determos uns minutos a reflectir no sentido global da mensagem completa. Mas há também uma enorme tendência para confrontar a Igreja com um simples sim-ou-não aos meios, numa tentativa de apagar a importância da orientação espiritual e as exigências de comportamento moral versus a eficácia da técnica e da ciência. Tornámo-nos uma sociedade de grande sentido prático mas de reduzido sentido de valores. Ora a ciência e a técnica bem precisam de uma boa ajuda da moral e da exigência individual, senão arriscam-se a não dar conta do recado. Vivemos uma sociedade de grande sentido prático, que com toda a facilidade dispensa discursos de moral ou de exigência ética e de comportamento, porque quer ver resultados já. No entanto, apesar dos esforços gigantescos para a prevenir e combater, a SIDA persiste como uma peste dos tempos modernos. A ciência, a técnica e a sociedade bem podiam aceitar a ajuda do apelo a outro tipo de comportamentos, tal como a Igreja defende, em vez de se escandalizarem com o que não querem entender. »

(da dra. Suzana Toscano)

10 comentários:

  1. Anónimo6:00 p.m.

    «O que o Papa disse foi que a forma mais eficaz de combater a SIDA não é o preservativo e esta é uma afirmação confirmada pela realidade africana»
    Nem para combater a gravidez precoce, como está à vista na Grã-Bretanha e arredores.
    Mas isto, digo eu, cada vez mais reaccionário. Ao falso progresso.
    JB

    ResponderEliminar
  2. Anónimo6:03 p.m.

    Certíssimo, esperemos então uma "mudança de comportamentos". Mas enquanto não mudam, que se morra aos milhões.

    Até Cristo deve ter tremido com tamanha falta de sensibilidade por parte do Papa.

    É afinal isto a caridade cristã? Condenar pessoas à morte por um preconceito moral? A cada queca tem que corresponder uma nova vida? É essa a questão de fundo?

    Ah, é verdade, para além de católico praticante, como já afirmei num outro comment, tb sou um admirador da obra intelectual deste Papa.

    ResponderEliminar
  3. Há quem perca muito tempo a enfunar-se contra a Igreja e perde de vista o essencial: a mensagem que salva e que ela é depositária não é sanitária. É de sentido, tem implicações profundas na forma como nos relacionamos e interagimos incluindo no plano sexual. O preservativo, se for visto como a ração que falta à saúde dos africanos, não funciona. É preciso ir mais além.

    Fundamentalmente, o que as DST trouxeram ao Ocidente foi uma revisão geral de comportamentos. O sexo furtivo e fortuito leva preservativo e outros cuidados. Os exames fazem-se. Os parceiros têm em conta o background recíproco. No Ocidente engravida-se menos. Em África adoece-se mais.

    ResponderEliminar
  4. Anónimo7:35 p.m.

    1. sobre Ratzinger não comento. Não li. Mais, nada percebo de teologia, mesmo que o fosse ler não estaria capacitado para botar a "crítica" (fácil) que brilha. Dele tenho, apenas, uma ideia geral - que é a que V. aqui explicita - de ser um vulto fortissimo do pensamento católico actual.
    2. Do Papa não costumo falar. Sou ateu e muito me irrita a mania dos ateus (ou dos "agnósticos") que sistematica ou ciclícamente botam sobre o que a igreja católica "deve fazer" ou "deve ser". [blogoexemplo disso a parvoeira generalizada quando ocorreu a eleição deste Papa]
    Não sigo, julgo, um preconceito contra Ratzinger ou contra o Papa.
    3. De Aura Miguel conheço o texto que V. recomendou: explícita está a ideia de "uma sexualidade responsável", implícito está o conteúdo desta. Não valerá a pena discutir o quanto de impositivo isso tem [uma moral sexual muito particular, um modelo familiar e de controle individual muito particular, um processo histórico muito particular, um etc de particulares] e do quanto o texto não funciona. Em épocas de hoje, muito ligadas ao "multiculturalismo" todos optam por considerar que há diversos contextos culturais o que explicaria (ou não, para os adversários disso) outra moral sexual. Mas é real: em tanto lado não vigora o discurso da abstinência (pro-ascético), não vigora o discurso da virgindade pré-nupcial, não vigora o ideal do casamento tardio, não vigora o discurso da fidelidade, etc, etc. Em muitos locais africanos e não só. Dizer que deveria vigorar? Sim, é o que a Igreja fez, com diferentes sucessos na Europa e depois na América. Em África fá-lo agora (daí o crescimento dos católicos ser agora, não nos regimes coloniais). Mas não é só uma questão "cultural" - é também "social", de vivências: migrações, transumâncias, emigrações, poliginia.
    A jornalista pode conhecer bem o VAticano - mas o texto dela é completamente preconceituoso, ignorante.
    [E, já agora, mágico. O Papa em digressão é um enorme acontecimento político, social, religioso, mágico. Que se diga que este problema (o tal seu "pseudo-tema") não conta porque a visita é um sucesso popular está absolutamente no registo propagandístico que V. aqui costuma zurzir - quando os festejados não são do seu agrado]

    ResponderEliminar
  5. Anónimo7:46 p.m.

    1. "as minhas inquietações africanas", como diz, que me fazem intervalar o silêncio sobre o que a igreja católica diz e faz, são de convivência com a doença: colegas que morrem, assistentes que morrem, alunos que morrem, vizinhos que morrem, amigos que morrem, empregados que morrem, "informantes" que morrem. Por saber que a hierarquia católica propala que a Sida é invenção dos brancos para conquistar Africa, que alguma elite intelectual também o diz, que o povo acredita que os preservativos são o meio de propagar a doença (o líquido dos preservativos em particular).
    Diz-se que os preservativos não resolvem. Claro, mas alteram. Há países com taxas de cerca de 50& de infectados (swazi, botswana) outros bem menos. O Uganda é um caso peculiar, sempre divulgado - a precisar também de estudos que expliquem porquê, também na sua dimensão política.

    O preservativo não resolve mas mitiga. Muito. Certo que é um mero pseudo-tema, mas é inacreditável afirmar o contrário.

    2. Nunca pediria que o Papa ou a hierarquia fizessem a campanha em seu favor. Toda esta questão é um obstáculo intransponível na mensagem ética-social da Igreja. Mas podia, em África, nesta década, elidir a oposição frontal e conduzir de outras formas a retórica evangelizadora, neste contexto. Não de uma forma facilitista, até porventura exigindo uma maior profundidade comunicacional.

    Isso sim seria "responsável" (no meu sentido particular de "responsabilidade"). Ou, e aqui estou no mero, senso comum, isso sim seria "cristão".

    São estas as minhas inquietações africanas sobre o referido pseudo-tema. Não sobre o diz-que-diz do dia. MAs também não na colecção de cromos (deste gosto, deste não gosto).

    OBrigado por me responder ao comentário

    ResponderEliminar
  6. Anónimo7:47 p.m.

    os alarves (caa é um deles) continuam a dizer mal do Papa.
    por fazer não venham mostrar mais ignorância.
    se a camisa resolvesse o problema não havia sida em washington.
    há demasiados cus e vaginas em portugal que não são locais recomendáveis.
    quando havia putas estas iam ao médico.
    a promiscuidade provoca doenças e mata

    radical livre

    ResponderEliminar
  7. Cinco estrelas. Eles não entendem, não querem entender, não são humanos. Ver para além do imediato é coisa a que poucos chegam.

    ResponderEliminar
  8. Anónimo1:08 a.m.

    Para qualquer leigo, há neste Papa uma postura profundamente irritante que é o de fazer afirmações completamente descabidas da realidade dos factos como se não fosse deste mundo. Toda a gente sabe e isso está cientificamente comprovado que o preservativo evita a transmissão de doenças infecciosas designadamente da SIDA. O preservativo garante, com relativa segurança, a "promiscuidade sexual, que se traduz por contactos com múltiplos parceiros, coisa que a igreja católica, evidentemente condena. Daí que, segundo a moral católica a utilização do preservativo seja moralmente condenável porque leva à promiscuidade. Por essa razão os católicos devem manter a abstinência sexual ou ter um único parceiro do sexo oposto durante toda a vida visando a procriação e a constituição da família. Ficam de fora todos os outros que, neste caso, são a grande maioria. Daí não entender a razão desta diatribe contra as declarações do Papa. O que ele defende é perfeitamente coerente com os princípios da Igreja. Ou estavam à espera que ele fosse defender o uso do preservativo!

    ResponderEliminar
  9. João, mais uma vez lhe agradeço o juízo claro e lúcido sobre o Papa Bento XVI.

    ResponderEliminar
  10. Anónimo12:04 p.m.

    Eu apenas gostaria de referir a coerência da Igreja (coerência no Tempo (séculos) e no Espaço (onde quer que esteja o Homem, de Nova York às florestas da Indochina e para lá delas). E uma coerência que faz sentido para milhões de pessoas, desde as mais cultas e viajadas às que não têm acesso ao "Mundo".

    Por comparação podemos recordar o que qualquer das nossas maiores sumidades (políticas, económicas, culturais e artísticas) diziam há 30 anos, há 20 ou há 5) e o que dizem hoje. E sempre com a certeza de que "debitam" a VERDADE ABSOLUTA. Se fossem um pouco mais humildes não pareceriam tão patéticos.

    Queria ainda agradecer ao João Gonçalves por, por vezes, nos poupar a comentários "excessivamente estúpidamente altivamente arrogantes" (embora os seus autores admitam desconhecer em boa parte do todo que é o assunto que comentam), principalmente quando vêem de alguém que parece pensar que sexualidade é ter relações sexuais com múltiplos parceiros ao mesmo tempo mas parece desconhecer que há casamentos poligâmicos.

    ResponderEliminar