30.11.08

O GLORIOSO TITANIC

António Barreto: «O Governo continua a distribuir Magalhães, na convicção, fingida ou não, de que com tal gesto está a estimular a alfabetização, a cultura, a curiosidade intelectual, o espírito profissional, a capacidade científica e a criatividade nacional. Será que nas áreas do Governo e do partido não há ninguém que explique que isso não acontece assim?» Todavia, o sr. Canas, ontem, depois de uma reunião do politburo do PS, com aquela boquinha de cu de galinha, garantiu que tudo está como devia estar na "socralândia" e que não passa pela cabeça de nenhum "camarada" - sobretudo dos poucos a quem sobra uma cabeça - concorrer com o "camarada secretário-geral". Também assegurou que Maria de Lurdes Rodrigues está no caminho adequado. Só não explicou em que direcção. Têm, porém, sorte o sr. Canas e a fantasia eucaliptal de que ele é porta-voz (por favor, nunca o removam). Como escreve Pulido Valente, «a força de Sócrates vem da eficácia com que conseguiu meter o PS na ordem, da autoridade prussiana com que trata o Governo e do grande zelo com que policia os portugueses. Numa época ameaçadora e turva, o país prefere, como sempre preferiu, um "homem de pulso", mesmo gasto e pouco amado, a qualquer herói de circunstância, com um exército em revolta atrás de si. E é por isso que o PSD paradoxalmente mais se afunda quanto mais procura a salvação.» Este é, em suma, o glorioso "Titanic" em que navegamos. Sem salva-vidas que salve seja quem for.

29.11.08

A VIDA A DOIS ANOS DOS CINQUENTA




«Não há transição. A infalibilidade e a confiança perdem-se de repente. Ontem corria tudo bem, hoje corre tudo mal. Ontem não se fazia um erro, hoje só se fazem erros. A pessoa é a mesma: o corpo e a cabeça. As circunstâncias são as mesmas, os outros são os mesmos. Por mais que se procure, nada mudou. Só mudou o efeito que se produz no mundo. Um homem deita-se com o mundo aos pés e acorda com ele às costas. As mulheres fogem, os amigos desaparecem, os telefones desligam-se. Dantes andava-se e esquecia-se. Agora, a vida pára. Repete-se. Um mês é igual ao anterior e ao próximo e ao seguinte. Não acontece nenhuma coisa diferente, só acontecem coisas indiferentes. Por qualquer razão obscura, não se consegue descobrir o sítio onde as coisas acontecem; e elas já não acontecem onde aconteciam.(...) Um pequeno pânico instala-se. Ao princípio pensou-se que era um estado passageiro, uma época de azar ou de mau jeito. Mas depois o estado não passa, a sorte não vem e o mau jeito continua. Conta-se com angústia o tempo para trás e, a certa altura, conta-se com terror o tempo que sobra. Deixa-se de ter quarenta e três ou quarenta e sete anos e têm-se treze anos até aos sessenta ou dezoito até aos sessenta e cinco. E não será optimismo os sessenta e cinco? E vale a pena? Acontecem coisas aos sessenta e cinco? Não com certeza as que acontecem aos trinta.(...) Eu penetrei na impropriamente chamada meia idade desta maneira: ou seja, aflito. O céu caiu-me em cima sem aviso. Nestas crises, segundo o costume, as pessoas agarram-se: à família, ao trabalho, às ambições. Reparei que os meus amigos se agarravam. Um a um, consoante a sua natureza, transformaram-se em secretários de Estado, políticos respeitáveis, académicos triunfantes, altos funcionários ou pais extremosos. Vários preferiram a virtude, ideológica ou sexual. Com meritórias excepções, quase todos se encaminharam. Mas precisamente eu não pretendia encaminhar-me. Deus sabe que eu nunca fui assim.»

Vasco Pulido Valente, Retratos e Auto-Retratos, Assírio & Alvim

(Clip: Renato Bruson,Verdi, Macbeth. Ópera de Berlim, 1987)

28.11.08

O PIONEIRO


«[Maria de Lurdes Rodrigues] garante, contudo, que também tem tido bons momentos. "Muitos." Pede-se-lhe que partilhe um. "Uma carta que recebi de um menino que recebeu um computador para ter em casa, não sei já em que circunstância, e escreveu-me a dizer: 'Quando for grande, vou inscrever-me no PS. "É tocante."»

Jornal Público

UM PAÍS DE DULCAMARAS - 4

"Corno" poderia ser a nova designação de "contribuinte". Se o Estado "avalizar" um banco que se dedica a gerir fortunas privadas, que nome é que quer que lhe chamem?

UM PAÍS DE DULCAMARAS - 3

O "jornal" dirigido pelo sr. Tadeu serviu há dias de "mote" para derrames deste género. O mesmo "jornal" fez hoje capa com a mesma conversa, mudando os alegados beneficiados e o montante em causa. Ainda não vi ninguém da matilha comentadeira "comentar" o assunto com a mesma fogosidade com que se atiraram ao Presidente da República. Depois do mel de Santana (para recorrer a uma "ideia" do dr. João Soares), chegou o mel de Sócrates?

UM PAÍS DE DULCAMARAS - 2



Um lamentável "erro de script" apagou o Dulcamara que aqui estava de manhã. Infelizmente para mim - e para alguma gente que se cruzou comigo ao longo da vida e que eu tinha por amiga - possuo uma "memória de elefante". Repito, pois, a ideia. A vida político-partidária portuguesa está cheia de Dulcamaras. No PS manda o "Dulcamara do Magalhães" o que impede demais candidatos ao papel do famoso "doutor" de aparecer. No PSD, não faltam candidatos ao papel do charlatão da ópera de Donizetti. De jovens "promessas" com quase cinquenta anos a qualificados caciques locais. Une-os o ódio ao "estilo" insosso da dra. Ferreira Leite, por natureza a anti-vendedora de "elixir". Talvez tenham razão. A Dulcamaras responde-se... com Dulcamaras. Avancem.

(Clip: Simón Orfila, L'Elisir d'amore, de Gaetano Donizetti, Teatro Liceu de Barcelona, 2004)

UM PAÍS DE DULCAMARAS


Ao passar num quiosque, reparo que Ricardo Costa, um dos mais proeminentes "jornalistas" do regime, vai "circular" dentro da galáxia Balsemão. Passa da SIC para adjunto do Expresso onde já lá está outra notabilidade, íntima do poder, o do laço. Talvez por isso seja oportuno recordar as palavras de Ramalho Ortigão em 1873, nas Farpas, enviadas por um leitor amável.


«A Imprensa de Lisboa não tem opinião. Aqueles que dos seus membros que por excepção pressentem as ideias próprias, vivas, originais zumbindo-lhes importunamente no cérebro, enxotam-nas como vespas venenosas. É que a missão do jornalismo português não é ter ideias suas, é transmitir a ideia dos outros. Por tal razão em Lisboa o homem que pensa não é o homem que escreve. O jornalista nunca se concentra, nunca se recolhe com o seu problema para o meditar, para o estudar, para o resolver. Nunca procura a verdade. Procura apenas a solução achada pelo público dele, pelo seu partido político, pelos consócios do seu clube, pelos seus amigos, pelos seus protectores (...). O jornal não é uma fonte de crítica, de análise, de investigação (...) O jornalista é o aguadeiro submisso e fiel da opinião. Não dirige, não a corrige, não a modifica, não a tempera(...). A Imprensa periódica é simplesmente o cano.» Esgoto, acrescento eu.

27.11.08

RÁDIO BLOGGER

Mais logo, no RCP, a partir das 23h, troco "impressões" com um ilustre militante do PS de Lisboa e membro do Câmara de Comuns. A avaliar por esta prosa, promete.

LELLO, UM IAGO DE PROVÍNCIA

«Se num primeiro momento houve quem visse no BPN uma espécie de Casa Pia do PSD, há agora quem, através dos Dias Loureiros de serviço, pretenda traçar o epitáfio do cavaquismo, colando o actual Presidente da República a uma "história de polícia" que, em última análise, traria à luz do dia o reverso do seu sucesso como primeiro-ministro. Esta subtil tese esconde, no entanto, objectivos bastante mais comezinhos, ocultando essencialmente a necessidade de fragilizar a única figura de Estado que goza de algum prestígio. Não por acaso, ainda esta semana, o dr. Lello, esse maître à penser do primeiro-ministro, se sentiu obrigado a negar a participação do PS na campanha de rumores e de insinuações que foi criada à volta do prof. Cavaco Silva. E por que haveria o PS de estar envolvido numa campanha destas? Para disfarçar a incompetência do seu governador do Banco de Portugal, que se considera alvo de um "linchamento público" só porque não foi capaz de exercer as suas funções? Para desviar as atenções dos péssimos resultados da sua política? Para que não se saiba que o fabuloso Teixeira dos Santos foi considerado o pior ministro das Finanças da Europa pelo Financial Times? Para silenciar a crise na Educação e os protestos dos professores? Ou, voltando ao princípio, para fragilizar uma das poucas vozes deste país que o Governo não consegue controlar? Se a resposta não fosse óbvia, o dr. Lello não se teria sentido obrigado a desmenti-la. Há desmentidos que se desmentem a si próprios.»

Constança Cunha e Sá, Público

BENGALADAS

Alfredo Barroso regressou aos tempos em que pretendia desfilar no Chiado à espera de encontrar Manuel Maria Carrilho para lhe enfiar umas bengaladas. Também sou adepto desse saudável "método fin de siècle" apenas divergindo profundamente acerca das cabeças a alvejar. Barroso está, desde os anos Guterres, naquele clássico dilema do filósofo: sempre o mesmo querer e não querer o mesmo. Não vai tão longe como Alegre porque, ao contrário deste, não tem público. De resto, tem sempre o cuidado de terminar as suas bengaladas "virtuais" no PS de Sócrates com uns mimos "correctos" contra o PSD e, agora, contra Cavaco, um hábito que vem dos tempos em que ele, o seu tio e outros cortesãos se passeavam nos jardins do Palácio de Belém em cogitações, meio divertidas, meio sérias, sobre o que é que haviam de arranjar para "chatear o gajo". Dedique-se antes ao Camilo.

26.11.08

O EVANGELISTA DE OCASIÃO

Sá Fernandes, o antigo "Zé-é-que-sabe", "passou-se" para o PS. Se houvesse dúvidas acerca da transumância, a patética entrevista que concede na parte traseira do DN ao João Pedro Henriques acaba com as dúvidas. É um misto de cretinice política com oportunismo. Como é que um tipo que é vereador numa câmara que se caracteriza pela inacção pode afirmar que "este PS tem sido muito bom para Lisboa"? Ou que "este mandato tem sido extraordinário em termos de concretização de promessas"? Bem feito para aqueles que, com credulidade, acreditaram em mais um pequeno evangelista de ocasião.

GRANDEZA



Fiorenza Cossotto, Domingo: Verdi, Il Trovatore. Ópera de Viena, 1978, Karajan. Para fugir ao esterco, ou como escrevia alguém num comentário, "quando já pouco ou nada resta, a arte é a "ultima ratio"para nos mantermos vivos."

É NECESSÁRIO EXPLICADOR?

Aos poucos, como aconteceu com outro PR por causa de Macau, vai-se montando um cerco a Cavaco. Biltres de diversas extracções - uns mais "delicados" do que outros, mas a maioria a precisar de sangue e de "notícias" frescas para vender o respectivo peixe e "encobrir" o manto diáfano da fantasia que nos governa - insistem em "ligar" o Chefe de Estado ao tema BPN. Não é preciso ter trabalhado em "informações" - e eu trabalhei, nas militares, no tempo em que elas eram vivas - para entender o que é que se está a tentar perpetrar e porquê. Tenho pena que haja gente séria a fazer proselitismo com isto. Ou outros, como Alfredo Barroso, que na sua qualidade de ex-chefe da Casa Civil de Soares, deve saber perfeitamente do que é que estou a falar. Basta, no entanto, olhar à nossa volta - Parlamento, governo, gabinetes, partidos, elites da administração pública, banca - para ver como Macau acabou em bem. Em certo sentido, Cavaco é um "corpo estranho" a este regime. Mais. É o único órgão eleito directamente pelo povo - as autarquias não contam para nada a não ser para afundar mais o regime e à Madeira "já chegaram" - que não foi "absorvido" pelo absolutismo democrático em vigor. É necessário explicador?

25.11.08

TRISTEZAS

Ignorava que o antigo brigadeiro Pires Veloso sabia escrever. Livros, por exemplo. Para os mais novos (e como a blogosfera é mais infantil do que se julga), Pires Veloso foi comandante da região militar do Norte nos idos do PREC. Gostava de ter ido mais longe do que foi, mas a vida é mesmo assim. Cruel. Todavia, andou devidamente apascentado pelo PS e pelo PSD que, na altura, lhe criaram a ilusão de que tinha importância. Fizeram o mesmo a Pinheiro de Azevedo, aliás. Veloso nunca perdoou a alguns camaradas de armas ter ficado para trás. Sobretudo a Eanes. Parece que agora escreveu o "livro do seu ressentimento". Faz de Eanes - só quem não conhece Eanes é que pode dizer barbaridades destas - um "amigo" do PC e pretende retirar-lhe o papel que aquele efectivamente desempenhou no "25 de Novembro". É pena que Mário Soares empreste a sua Fundação para apresentação da "obra" de Veloso em Lisboa. Só que Soares está cada vez mais Soares "Ferreira Alves" e menos Mário Soares. E, aí, tudo pode acontecer. Até dar guarida a tristezas destas.

BRIGADAS


Não simpatizo nada com a figura política de Dias Loureiro e não aplaudi a sua escolha para o malfadado Conselho de Estado. Mas ainda consigo simpatizar menos com as diversas brigadas kitsch-policiais dedicadas à eugenia política - colocadas disciplinadamente às ordens do dr. Louçã e que visam mais longe e mais alto, como qualquer analfabeto já percebeu - brigadas essas que, segundo julgo saber, não só não conduzem a acção penal como não estão legalmente habilitados para efectuar uma investigação criminal. Poupem-se ao ridículo.

SÓCRATES EX MACHINA

A OCDE reviu em baixa e em alta os indicadores que interessam para 2009, respectivamente, o crescimento e o desemprego. Para todos os países membros. Sócrates veio a correr afirmar que, ao pé de outros, até não estamos mal e que com o mal dos outros podemos nós bem. Foi em Trás-os-Montes onde esteve a lançar betão. Mas podia ter sido na estratosfera onde ele ameaça entrar mais rapidamente do que a velocidade que se há-de alcançar nas auto-estradas do Marão.

TEMPOS DIFÍCEIS E DE AUTORIDADE



«Só muito tarde na vida fui visitar o Escorial. Durante muitos anos, não tinha curiosidade. Há cerca de trinta anos, depois de a ouvir pela primeira vez, apaixonei-me pela ópera “Don Carlo”, de Verdi. Uma parte passa-se neste palácio, mandado construir por Filipe II, que ali morreu. Não descansei enquanto não fui visitar. É de grande beleza severa e rude. Tem uma estética de tempos difíceis e de autoridade.»

António Barreto, Jacarandá


(Clip: Don Carlo, Verdi, início do III Acto (Auto de Fé). Festival de Salzburgo, 1986. Dirige Herbert von Karajan)

25 DE NOVEMBRO: PRECISA-SE


«Diz-se que Medina Carreira terá avaliado em dois mil milhões de contos o montante de dinheiros mal parados recebidos da Europa por Portugal ao longo de vinte e cinco anos; ou seja, mais de setenta milhões de contos desaparecidos, dados, esbanjados, mal aplicados e desviados anualmente pelas curibecas agora finalmente postas a descoberto pelas primeiras [e tremendas] revelações do escândalo que abala o país. Compreende-se, assim, o atraso, a impreparação, a falta de competitividade das empresas e dos trabalhadores portugueses. Se a esta soma quase cósmica aduzirmos os milhões de milhões de contos gastos anualmente com a fulanagem inútil que serve os aparelhos partidários - os eurodeputados, os deputados, os presidentes de câmaras, as assessorias (vulgo boys), as aquisições de serviços a familiares, amigos, primos e protegidos - trememos de espanto e indignação. Portugal não pode sobreviver se continuar entregue a tal camarilha devorista. Temos sido, literalmente, sugados até ao tutano por gente que nem para arrumadores de cinema presta. Tempos houve em que o Estado era rico, pagava mal aos seus servidores e dava o exemplo a um país pobre. Hoje, com o Estado pobre, brincamos impudicamente com a pobreza sem esperança de um país definitivamente encostado à berma da história e pagamos regiamente a funcionários de partidos que ainda têm o supino atrevimento de chamar parasitas aos funcionários do Estado. O sistema, como está a funcionar, parece estar a fazer tudo para despertar messianismos.»

Miguel Castelo-Branco, Combustões

JÁ CHEGA

Por falar em Constâncio. Espera-se (deseja-se) que o governo não "invista" mais dinheiro dos contribuintes em mais um gesto de socialismo serôdio, e que não "nacionalize" um tal de BPP. Quem o criou, que o aguente. Não caia, porém, no nosso colo. Já chega.

COITADINHO

Parece que Constâncio se queixou de estar a ser "alvo" de um "linchamento público". Tenho tanta pena dele...

24.11.08

O EX-ALFERES E O VELHO MINISTRO


Em três televisões, três entrevistas. Constâncio foi à RTP. Jerónimo à TVI e Rui Patrício, o derradeiro MNE do Estado Novo, tentou falar com Mário Crespo na SIC-Notícias. Ainda cheguei a tempo - os outros dois "crónicos" não me interessam nada - de ouvir Patrício perguntar a um Crespo que lhe "atirara" (e que puxou de um calhamaço qualquer) com a opinião da "diplomacia americana" sobre o Portugal de então, se a diplomacia dos EUA serve de exemplo para quem quer que seja. Sobretudo depois do Iraque. O ex-alferes Crespo ficou com aquele sorriso improvável que teve ocasião de exibir, há dias, nas ruas Washington, quando andou de braço dado com Costa Ribas a celebrar Obama para a tv do dr. Balsemão. Um sorriso, como ele mesmo diria, a não perder.

OPINIÃO INSUSPEITA DE "CAVAQUISMO" E DE "IDIOTISMO"

«BPN: Cavaco Silva contra "tentativas de associar" o seu nome ao banco». Fez bem. Já lhe basta o incómodo de ver seus antigos colaboradores e amigos envolvidos na comprometedora história. Os titulares de cargos políticos, a começar pelo Presidente da República, também têm o direito de defender o seu bom nome e reputação contra as acções de "smearing" que muita imprensa pratica. Ao contrário do que pretende uma visão absolutista da liberdade de imprensa, os políticos não perdem o direito à honra só pelo facto de o serem.»

Nota de leitura: A tendência de quem escreve nos jornais, fala nas televisões, perpetra em blogues ou de quem é serventuário de partidos e de corporações, é para colocar a correr a lebre que melhor serve a respectiva narrativa. Insistir neste tema, sobretudo nos termos em que a insistência é realizada, é, por exemplo, seguir a "narrativa" do evangelista Louçã que passa a vida a exigir cabeças exibidas em bandejas regimentais. E mantenho. Pendant que ça dure, Sócrates inexiste politicamente. Basta estar minimamente atento aos sinais dos "socráticos-sempre-de-serviço". Muitos até são do PSD.

A CALHAR

Ao "lado dos afectos" retribui-se com o "lado dos afectos". Há tempos, Dias Loureiro, por causa do livrinho do "menino de ouro", veio dizer que "o optimismo de Sócrates faz muito bem a Portugal". Ao permitir-se andar na "crista da onda", Loureiro, voluntariamente ou não, deixa o caminho livre para Sócrates irradiar o seu "optimismo" sobre a pátria numa altura de aperto. Passámos a semana passada a "discutir" uma fala errada de Ferreira Leite e entramos nesta suspensos da "novela" Dias Loureiro. Logo mais até Constâncio vai fazer a sua "perninha" numa entrevista a Judite de Sousa, o "diário da manhã" falado do regime. Nestes momentos, interessa não apenas ver quem perde com certas situações mas também quem ganha com a sua indefinição. O BPN, independentemente das questões de polícia, é ou não é um assunto politicamente jeitoso? Como diria uma vendedora de castanhas da Rua Augusta perante a chegada do frio, veio mesmo a calhar.

23.11.08

CAPACIDADE DE PREVISÃO


«Isto é só para safados.»

Salazar a Franco Nogueira, 1966

DO FINGIMENTO


Com a mesma displicência irresponsável e cara de pau com que há uma semana recusou uma comissão de inquérito parlamentar ao "caso BPN", Alberto Martins veio agora "desblindá-lo" com o argumento - já válido há oito dias quando usou o contrário - de que não prejudica a investigação criminal em curso. Há muita gente, por sinal respeitável, que acha que não devia existir inquérito parlamentar. Sucede que o PS, através do governo, nacionalizou o BPN e "injectou", via CGD, uma pipa de massa na casa falida que foi de Oliveira e Costa. Ninguém ignora de onde é que vem parte substancial dessa massa. Dinheiro por que, pelos vistos, praticamente todo o sistema bancário nacional já suspira. Seja em cash, seja em forma de aval. Nestes termos, o BPN passou a ser um assunto que interessa aos contribuintes, sobretudo àqueles que nunca tiveram dinheiro para abrir "contas a prazo" num "banco de negócios" que remunerava como a falecida D. Branca. Enquanto criação político-financeira do regime, o BPN ultrapassou a peripécia do amiguismo circular que une pessoal de diversos partidos, a começar pelo PSD e pelo PS. Eles criam uma comissão parlamentar, nem que seja para fingir que é a sério, e nós podemos perfeitamente fingir que acreditamos nela. Da mesma forma que temos de fingir que acreditamos na "supervisão" bancária do dr. Constâncio e ele finge que a realiza. E antes que a lama comece a ser atirada pelas ventoínhas do costume (como já está a ser pelo zoo mediático), ficava bem ao dr. Dias Loureiro abandonar o Conselho de Estado pelo seu próprio pé. A filha de putice - a mesma que manchou a honra de uma data de gente quando "lançaram" o "caso Casa Pia" - não perde uma linha ou uma fala onde Cavaco não apareça a propósito desta história. Até Loureiro teve o mau gosto de invocar na televisão os vinte e três anos de amizade com o Chefe de Estado como se isso tivesse a ver com o tema da entrevista. Para começar -e como no "caso Casa Pia" - já há um detido para consolo dos aflitos. Oxalá não seja só para imolar como um cordeiro na Páscoa.

Adenda: Esta idiotice não é digna do João Miranda. É só o que me ocorre para não ser malcriado.

HOMENS EM TEMPOS SOMBRIOS*

«Uma pessoa abre o jornal ou liga a televisão e revê, pasmado, a velha propaganda antidemocrática de 1930. Umas vezes, subtil; outras vezes, muito taxativa e franca. Umas vezes, melancólica, outras vezes, quase triunfante. A miséria geral e perspectiva de uma miséria maior, a fraqueza do regime e uma irritação crescente anunciam o caos. Manifestamente, a bota deixou de rimar com a perdigota.»

Vasco Pulido Valente, Público


«Em tempos de crise, mais do que nunca é preciso não desistir de olhar as coisas com um olhar crítico, até porque proliferam nesta altura as piores das "soluções", os piores dos aproveitamentos, e cresce a mediocridade. E nós estamos a ser governados tão mediocremente que todo o pessimismo é pouco. Os tempos estão difíceis, mas os que nos vêm outra vez com o Marx deles, e com o Estado e com o "diálogo", estão-nos a vender produtos tão tóxicos como o subprime. Parece uma Alemanha de Weimar cansada e ainda mais triste.»

José Pacheco Pereira, idem

*Título de um livro de Hannah Arendt traduzido na Relógio D'Água
.

ÓPERA VIVA



Ainda há lugares neste mundo - e a coisa é apenas do mês passado, em Parma - onde a ópera é uma festa e não um imenso velório cheio de ignorantes presunçosos. Cantam Leo Nucci e Desirée Rancatore, Verdi, Rigoletto.

22.11.08

AUTO-RETRATO

Num "documento de orientação" para as "directas"do PP onde é o único candidato à liderança. Paulo Portas retoma o velho princípio - que valeu, na altura, quatro por centro dos votos - de o CDS estar "disponível" para o PS ou para o PSD, consoante quem ganhar em 2009. Afinal, para que é que mandou entregar o retrato de Freitas do Amaral no Rato?

HORNE



Marilyn Horne, Tancredi, Rossini (Ópera de Roma, 1977)

"JE TE VEUX"



Jessye Norman canta Erik Satie (França, 1984)

SOCIALISTAS NA SARJETA


Mitterrand, como é próprio do Príncipe, acabou com o PS francês. Jospin até pelo farsante Le Pen foi humilhado. Décadas antes, e num daqueles golpes de génio que distinguem os grandes homens dos gnomos, Mitterrand - que tinha entrado num congresso dos vários grupelhos socialistas que vegetavam à sombra da triste memória da IV República à frente de um deles - saiu de lá secretário-geral do PSF, disposto a servir-se da Constituição de De Gaulle em proveito da sua ambição. Aguentou uns anitos e, em 1981, chegou lá. O resto conhece-se. Agora o que resta do PSF balança entre duas senhoras, qual delas a mais horripilante. Ségolène (de plástico como outros congéneres de serviço) e a filha de Delors (com um semblante assustador) são a imagem miserável do socialismo francês desfeito às mãos desse inteligente "usurpador" de socialistas chamado Nicolas Sarkozy. Por muito que asneire, Ségolène e a outra são o melhor penhor para o presidente francês. É isso mesmo. Não é Hillary quem quer.

VANITAS

21.11.08

ERA ASSIM A VIDA DELE

Dias Loureiro esteve a contar a Judite de Sousa alguns "aspectos" da sua vida nos derradeiros treze anos. O PS "fechou-lhe" a AR mas "abriu-lhe" a RTP. Ficámos a saber - como se isso ou a peça mesquinha da TVI interessassem para alguma coisa - que o homem "percebe" de cimentos, de novas tecnologias, de máquinas ATM e de Marrocos. Sobretudo de Marrocos. E que se fartou de dar bons conselhos ao dr. Oliveira e Costa que, manifestamente, não os seguiu. Os próximos dias ditarão se Loureiro, para além disto, sempre é a sumidade política que o regime exibe como pièce de résistance ou alguém que perdeu as suas graças.

FINALMENTE...


Uma boa notícia.

RIDÍCULO


1.Deviam explicar aos políticos e demais "elites" nacionais que não é por não usarem gravata em reuniões inúteis que a massa bruta lhes toma mais respeito. Para além da encenação, é apenas ridículo.
2. É igualmente ridículo ir a casa dos pais de um político fazer perguntas de chacha à pobre da mãe que não tem nada a ver com o "filme".
3. Estar sempre a associar Cavaco Silva a pessoas que com ele colaboraram no passado e cujas vidas foram orientadas como essas pessoas muito bem entenderam, não é apenas ridículo. É o que é.

O RUMOR DA LÍNGUA

Reproduzo na íntegra - e com a devida vénia - a crónica de Vasco Pulido Valente tal como aparece editada no Público online. Há uma parte, a primeira, escrita em português escorreito, na qual a Dra. Ferreira Leite é pura e definitivamente arrumada na "tradição autoritária" nacional que, entre outros, produziu João Franco, Sidónio, Salazar, Cavaco e (esquecimento imperdoável do autor) o "tecnológico" Sócrates e a ex-anarquista do "Batalha", Lurdes Rodrigues. Depois, segue-se um texto que ressuma a latim misturado com outra "língua viva". É o estranho e improvável "rumor da língua" como que a brincar aos significados e aos significantes à semelhança de meio "país" virtual que parece não ter mais nada para fazer.


«Se a dr.ª Manuela Ferreira Leite estava, ou não, a tentar ser irónica não interessa nada ou muito pouco. A ideia de uma ditadura provisória para resolver, fácil e expeditivamente, problemas que não se conseguem resolver de outra maneira não é uma ideia nova. Vem da velha Monarquia Constitucional. Quando um governo ficava imobilizado pelo excesso de virulência da oposição (no parlamento, na imprensa ou na rua), o rei mandava os deputados para casa - sem tocar, em princípio, na liberdade de imprensa ou de reunião - e o governo fazia em sossego o seu serviço, suspendendo um jornal aqui e ali ou proibindo as manifestações que lhe pareciam mais perigosas. No fim voltava tudo ao mesmo. O rei convocava o parlamento (em geral fabricado para a ocasião) e o parlamento passava, à inglesa, um "bill de indemnidade" ao governo. Este exercício era conhecido pelo nome de "ditadura administrativa" e deu uma grande contribuição para a queda da Monarquia. As gaffes da dr.ª Manuela Ferreira Leite (com ou sem "ironia") revelam uma tendência especial para a "ditadura administrativa". Educada politicamente no espírito autoritário do "cavaquismo", e boa discípula do mestre, sofre com irritação os vexames da democracia. Os jornais não publicam o que ela quer, os professores resistem à ministra e até a lei "transforma o polícia em palhaço": Portugal inteiro parece incontrolável. Pensando não só em Sócrates, Manuela Ferreira Leite começou a ver as dificuldades de reformar o país com as restrições que existem. Como, de facto, reformar a justiça sem os juízes? Como reformar a saúde sem os médicos? No fundo do seu coração, Manuela Ferreira Leite não sabe. Sabe apenas que não há reformas sem eles, nem com eles. A "ironia" não foi uma ironia. Foi um desabafo: se a deixassem a ela e às pessoas como ela (com inteligência, visão e capacidade) mandar a sério, bastavam seis meses para pôr as coisas "na ordem". Mas daí a pedir, ou a sugerir, uma ditadura vai um abismo. Infelizmente, é com declarações destas que se chega pouco a pouco ao descrédito da democracia. A imagem da democracia como um reino de interesses particulares, que impedem o progresso e anulam a razão, embora antiga, não perdeu ainda a sua eficácia. E, com os desastres que se preparam, não precisa de ajuda para dissolver os restos de respeito pelo regime. Lorer summy nit ex eros nibh exerat. Ut vel utpat. Ut lumsand pisim iustism doloreetuer summod ea aliquisl dolore duis euisit nullamcons nostrud ex ent euis nisit accum exer sis nonsequam vel iuscilis nummy niam in ulla feum zzrillaor sum niatue min ut augiatis nullaor ip euguerit ilissit, verostie tis erilisciniam dit ullaortie faccumsandio Lor senim zzril eratum nismodiatem ipit auguerat praesto dionseq ismod tinit ipit wisit, secte ming eraessi tat aci blam volore dolortin henim aliquis equam quis nim zzrit alit auguer sumsandipit, quiscing er sit nonsed ex ea acidunt lum num delit nim quisi tem quat. Duis alit inibh ero dolorem at. Ut dunt lorer aliquam quisl euis alit alit alit niam vel duipsum nim dionse dit lut ipsummo olessis nulluptat, quat. Ut iure mincipi ismod tio consequat ad te dunt vullan et nibh enit adigna atis non exer sent alisismod min ulluptatum incil illa feuguer sit, commy nit, volore magna at. Lore ming er susci ent ut vel dolore consequate dolor sisit dolorper sim adipsum adio dolore tat, commy nons etum ip exerostrud euiscid issecte mod mod mod magna feugiam veliquat, sum velisl exero diamet, quat nonsequ psusci el dipit autetum dipisim accum adit nullum veriureet incing elit aciliquat, conullamcons nonsed eumsandre velit in vel ut adipit ipsuscilla ad magna consenim ad tie verit wismolore vulputatue modionse tat prat. Ut wis nismodiamcon enim ecte dolore tisl ut la feugue doluptat ipit am dolessectet, velent la commodion henit la atie cortie eu feugiam et vullaor ing exeraes equis nim nit, susci ero odio del esto do dignismod ex eliquat iliquate erillum zzril dolore dionseq iscilit autat. Ut lametummod et landit dolesto consectetum et, quis aut inisim augue eriure tatuer secte velit nonse dolortis enibh enisim venibh eu feui tie deliquatinim am, con utet, quat. Ut la faccum ad elenim vel dolortio dui blamcommy nim zzriure er ipsusci uissi.Duis nulputem niamcon ero endre dolorerillan ex ecte tie doluptat lor ad modolor alis dunt praesequi bla feum nosto odoluptat. Duis niamcorem ent nullutpat lan hendre feu facin vullum dit auguer am, quisi eum ex ero odolore faccum vel doloboreril ipisim do eu feugue dolortie dit alis et la feugiam ex eraessectem dunt autpat velisl ulputpat.Lor si blaorper at etum ipisisl ullan hent nulla feuisse dunt atum iustrud dionsequate vullamet dolore ting ex ex eliquam, cons non eugiam iustie dolor iurero et alit lutatie faccummy nulla accum vullan venis alit ea facip euisl ute commy nullam doloreet lum»

20.11.08

TUDO OU O SEU NADA

«De entre as centenas de envolvidos [na "Operação Furacão], Oliveira e Costa foi o único a ser detido. Não é coincidência que só tenha sido detido depois de cair em desgraça.» João Miranda, no Blasfémias. E se Oliveira e Costa lhe apetece falar e, por assim dizer, acabou por se "entregar"? Como é habito no regime (e no regime da justiça, em particular), daqui pode vir tudo ou o seu nada.

19.11.08

O CONSELHEIRO


Dias Loureiro, poeta e apresentador de biografias do senhor 1º ministro e seu confesso "admirador", ex-administrador de bancos, ex-ministro e actual conselheiro de Estado não pode continuar "blindado". Não é por ele, com certeza. É o género de figurinha que desprezo. Acontece que foi indicado para o Conselho de Estado por Cavaco Silva, um género de pessoa que costumo estimar. Por isso o Eduardo, desta vez, tem razão.

UM CASAL PERFEITO

Mário Nogueira está muito bem para Maria de Lurdes Rodrigues e Maria de Lurdes Rodrigues está muito bem para Mário Nogueira. Ficarão para a história como os afundadores da educação nacional nos alvores do século XXI em Portugal.

SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO -2

1. «Em termos puramente economicistas, há uma lógica de continuidade no propósito de acabar com a Colóquio/Letras depois do fim dado à Colóquio/Artes, à Colóquio/Ciências e ao Ballet Gulbenkian. Actualmente, com o serviço de edições parado, por enquanto não extinto mas parado, a Gulbenkian vê-se reduzida à programação de concertos clássicos, ao museu da colecção do patrono, à episódica realização de exposições temporárias — culminando nesse monumento ao cabotinismo que dá pelo nome de Weltliteratur —, a um Centro de Arte Moderna entretanto desvirtuado da sua função original (e hoje paralisado) e, last but not least, ao serviço de bolsas.» O Eduardo Pitta escreve isto no contexto da putativa e parva remoção de Joana Moraes Varela da direcção da Colóquio-Letras para "adequar" o produto à correcção dos "novos tempos".

2. Sucede que, antes, o Eduardo decidiu alinhar por aquela "tese" peregrina de que a Dra. Ferreira Leite - porque se exprime mal e não tem graça alguma - esconde o fascismo na malinha de mão. O Eduardo fala numa fantástica "tese do cordão sanitário" que, não fosse o caso de sermos amigos, lhe valeria, desde já, um directíssimo bardamerda. Aliás, a foto que ilustra o post nem sequer lembraria ao zelota Santos Silva. Podemos gostar - é um direito, digamos, natural - de Sócrates, da sua sua ficção e, até, da sua notável propaganda tão diligentemente encaixada nos meios tradicionais e não tradicionais de "comunicação social e cultural". O que não devemos é ser desonestos intelectualmente. Talvez na "socrolândia" já valha tudo e eu é que estou desfocado como o personagem de Woody Allen. Talvez.

O ESTADO DA NAÇÃO


«E Zaratustra se deteve e reflectiu. Finalmente disse, turbado: "Tudo se tornou mais pequeno!" Por todo o lado vejo portas mais baixas: quem é da minha espécie pode passar ainda por elas, sem dúvida - mas tem de se curvar! (...) Caminho através deste povo e mantenho abertos os olhos: tornaram-se mais pequenos e tornam-se cada vez mais pequenos (...) Redondos, justos e bondosos são uns com os outros, assim como são redondos, justos e bondosos os grãozinhos de areia entre si. Abraçar modestamente uma felicidade - a isto chamam eles "resignação"! (...) No fundo, o que mais querem é simplesmente que ninguém lhes cause dano... Virtude é para eles o que os faz modestos e mansos: com isso converteram o lobo em cão, e o homem no melhor animal doméstico do homem.»

Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra

18.11.08

SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO

Que tremenda falta de jeito. Bem avisei que a credibilidade, por si, é curto. Está na hora do JPP proporcionar umas conversas com a senhora sobre os "clássicos". Por este andar, não chega ao Natal. Isto, porém, não desculpa a intervenção idiota do ex-comandante de bandeira da Mocidade Portuguesa Alberto Martins, hoje infeliz líder parlamentar do PS, que "acusou" Ferreira Leite de "pulsões autoritárias". A senhora quis significar que não se "reforma" nada nem ninguém, em democracia, contra a vontade dos "reformados". Não é manifestamente, uma ironista. Apenas isso.

Adenda: A SIC-Notícias tem previsto um "debate" - seguramente entre os seus papagaios habituais - sobre as "declarações" de Ferreira Leite. Com isto, ninguém prestou atenção à parolice governamental que fez deslocar um 1º ministro, cinco ministros e cinco secretários de Estado a uma denominada "feira tecnológica nacional", a nova Golegã sem cavalos mas com "Magalhães" por todo o lado. Esta gente é que está no poder. Não é a outra senhora. Um pormenor insignificante para os ranchos folclóricos de diversas proveniências (Menezes já fez a competente prova de vida) sempre prontos a arrear uma tunda em tudo o que mexe contra Sócrates. Força.

Adenda-2: José Medeiros Ferreira, não lhe fica bem fazer de comentador residente da SIC-Notícias. Acha mesmo que alguém está interessado em "paralisar", nem que seja por seis meses, uma democracia paralítica? Em matéria de densidade democrática, digamos que o secretário-geral do seu partido não é propriamente um exemplo de manual. A dra. Ferreira Leite não é do métier (V. tem razão quando explica que não foi por acaso que Barroso não a indicou em 2004) mas, certamente, não traz a reacção escondida na malinha de mão.

UMA SÍNTESE PERFEITA

«O problema deste Governo é querer fazer reformas com ideias superficiais.» Da Luísa.

«HÁ UM MOMENTO EM QUE TUDO MUDOU»


Há um momento em que tudo mudou
e ainda tudo se move como se movia.
Um momento em que barcos veleiros
atingem os portos com mercadorias
e já um veloz barco de caldeira
acossa um capitão demandando outra ilha.
Um momento para a ordem antiga
suster um mando que não é governo,
saudar com taças os que vão perder,
os que vai perder, os que vão perdê-la.
E a ordem nova caminha por vitórias
para esse holocausto, por essa quimera
que nos faz mudar o que já viveu,
que nos faz viver o que já mudou.


Joaquim Manuel Magalhães, Segredos, Sebes, Aluviões, 1985

17.11.08

O "ZÉ" RECICLADO

A triste figura que o "ex-Zé é que sabe" está a fazer no "prós e contras", ao lado da ajudante de Mário Lino, é lapidar. Deve ser, aliás, a única "obra" de António Costa como presidente de câmara. A reciclagem do "Zé".

POR AMOR DE DEUS

Há um senhor que é pai, o sr. Albino, que preside a uma coisa chamada "associação nacional de pais" (de filhos que "andam à escola", presumo), cuja língua de pau é muito semelhante à da ministra Lurdes Rodrigues. A ministra, em vez de estar sossegada e entretida com as estatísticas, enfia-se cada vez mais num absurdo universo semântico de que só ela possui a chave decifradora. Fala da sua avaliação como um mecânico de automóveis fala de um motor. De uma forma que só ele e o motor conhecem. Há quem chame a isto "autoridade reformadora" ou, em alternativa risível, "luta reformista". Por amor de Deus.

BOY COM NOME

João Gabriel - que numa encarnação recente foi assessor de imprensa do Presidente Jorge Sampaio - é agora assessor de imprensa do Presidente Vieira. O do Benfica. Parece uma despromoção, mas se calhar não é. Não dizem que o Benfica é um mundo?

O TRIUNFO DO HOMEM COMUM


«O Ocidente e o mundo acomodaram-se definitivamente à lei da mediania sem asas, sem cabeça e sem gosto. As últimas décadas são eloquente testemunho desse plano inclinado em que a demissão da inteligência fez causa comum com o exibicionismo roncante, o falso igualitarismo triunfou sobre a diversidade enriquecedora e por todo o lado se quiseram as pessoas standardizadas no vestir, no falar e no pensar. O triunfo do homem comum, delícia das delícias do totalitarismo que não se quer ver ao espelho, constitui um desastre quase irreparável, porquanto aquilo que se teima chamar globalização, ao invés de promover homens de qualidade, deu expressão à tirania dos medíocres, dos contabilistas, dos vendedores de chips e automóveis, aos angariadores de seguros e demais obcecados pelo dinheiro. Os poderosos deste mundo reúnem-se anualmente para discutir as magnas questões que afligem o planeta. Olhando para a foto de família, procura-se em vão um estadista, mas só se lobrigam Betas, insignificâncias, gente que se “quer vestir bem”, “comer bem”, “viver confortavelmente”, conhecer ressorts nas Caraíbas, palmilhar cardápios e listas de vinhos de “qualidade” . Este macaquear da aristocracia e das elites tradicionais vai acabar mal. »


A FORÇA DA OMELETE

16.11.08

O REGIME NA SUA CIRCUNFERÊNCIA


Com a "desculpa" de que corre uma investigação criminal, o PS recusa a audição de Dias Loureiro no Parlamento. O senhor tinha-se "disponibilizado" para lá ir falar do BPN. A "desculpa" não pega. Nunca uma investigação criminal impediu que a AR analisasse politicamente a mesma matéria. Porque é disso que se trata. Dias Loureiro foi um agente político com relevância neste país. Ainda agora é conselheiro de Estado indicado pelo Presidente. Se exerce ou exerceu cargos no BPN e noutras entidades privadas, certamente que não o deve aos seus magníficos "dotes" de gestor. Que eu saiba, é licenciado em direito como eu e, até ter sido ministro, valia tanto como eu. O "currículo" político foi (e continua a ser) o trampolim para o resto. O "arco constitucional" parlamentar prolonga-se na sociedade dita civil e no Estado por entre múltiplas e silenciosas cumplicidades. Nesse sentido, é mais uma circunferência de acesso limitado do que um "arco". E bem fechada. A decisão do PS só contribui para a fechar ainda mais.

15.11.08

GRANDEZA



Sherrill Milnes, Luisa Miller, Verdi.

LER OUTROS

Eduardo Pitta explica por que é que o comentador da Quadratura António Costa não serve como presidente da Câmara de Lisboa. E ele, de certeza, votou nele.

UM HOMEM SEM PACIÊNCIA


Lembram-se? O homem ia "inaugurar um novo estilo no Conselho de Ministros». O homem ia "activar" o mecenato cultural "graças ao seu espírito empresarial e aos contactos com o mundo da finança." O homem era um "apaixonado da literatura que adora Ingmar Bergman" e "as coisas de humor", "advogado de artistas mil (incluindo os Gato Fedorento), bem entrosado no meio das artes plásticas e membro da administração da Colecção Berardo." Ora é justamente esta extraordinária criatura, nunca vista, que vem agora confessar ao excelentíssimo público (ele é ministro da Cultura) a falta de credibilidade do ministério que tutela. A sua, portanto. Pinto Ribeiro, ao Expresso, diz mal dos antecessores dos derradeiros sete anos (Sasportes, Santos Silva, seu colega no governo, Roseta, Maria João Bustorff e Isabel Pires de Lima) porque, segundo ele, geriram mal o parco orçamento de que dispunham. Pinto Ribeiro, ao contrário deles, anunciou - com trombetas, Fernanda Câncio e Produções Fictícias - que ia fazer mais com menos. Todavia, revela que lhe "é difícil ter paciência para esperar pela assinatura do ministro das Finanças" para, por exemplo, nomear o director artístico do D. Maria. Nunca Pires de Lima, a servir frio o velho prato, foi tão certeira: "prometeu fazer mais com menos, o ministro das Finanças fez-lhe a vontade".

Adenda:

«FAZER MAIS COM MENOS MEIOS» - Foi com esta frase que um ministro voluntarioso se pode ter suicidado mal acabara de tomar posse, confessando no princípio aquilo que em geral só se descobre no fim: o mais completo desconhecimento da situação do sector que ia tutelar, e nomeadamente do seu brutal e histórico défice em recursos humanos, em meios e em financiamentos. Não admira que, com uma proclamação tão negligente, o desafio de “menos meios” lhe tenha sido feito de novo, e que mais uma décima tenha caído no orçamento da Cultura para 2009, atingindo agora uns inéditos, inverosímeis, fatais 0,3% do Orçamento de Estado.»

Manuel Maria Carrilho, Contingências


PEQUENO EXERCÍCIO DE SEMIÓTICA


Ler o Expresso - não todo o lixo que metem no saco e entre páginas - é um exercício imprescindível para perceber o "estado da nação". No Expresso manifesta-se todo o regime, desde o BE ao PP, passando pelos "independentes", pelos "interesses" e por antigos escrevinhadores (e candidatos a escrevinhadores) da retórica discursiva do poder. É o "diário da manhã" que melhor representa as elites que nos pastoreiam. Com uma fotografia "tipo-passe" e "em baixo", Sócrates é descrito em meia dúzia de linhas como alguém que, neste momento, não controla o seu governo. Normalmente isto seria manchete e explicava-se porquê. Pelo menos três ministros - Lurdes Rodrigues, Ana Jorge e Pinto Ribeiro - já não moram na realidade. Lurdes Rodrigues, porém, tem direito a várias páginas de "defesa" e a um artigo "socrático" de Miguel Sousa Tavares destinado, no essencial, a dizer que o PC e o sr. Nogueira manipulam o mundo inteiro contra a pobre dra. Rodrigues, a beata salvadora da educação nacional que ameaça as escolas que lhe "desobedeçam". Ana Jorge - que esta semana trocou os mil milhões da dívida do SNS por um simples milhão e que remeteu as contas para um secretário de Estado - é referida numa "lateral" pequenina como se se tratasse de uma mera servente de hospital e não quem é politicamente. Pinto Ribeiro, finalmente, afirma que o seu ministério (e ele, por consequência) não possui "credibilidade". Nem ele nem o jornal retiram da extraordinária afirmação quaisquer consequências. Como é que não há-de o espertalhão do Barroso, umas páginas mais adiante, reclamar um segundo mandato na Comissão Europeia depois da fuga devidamente aplaudida pelo mesmo regime que se expressa no Expresso? Quem é que aguenta isto?

14.11.08

PERDER A CABEÇA


Aos poucos, a anarquia vai tomando conta das escolas o que significa que Maria de Lurdes Rodrigues superintende a uma ficção. Até em espaços fechados já anda "blindada" por um pelotão de zelotas destinado a impedir que os jornalistas a interpelem. A ministra dá nota de que não possui uma cultura democrática, coisa que devia constituir pergaminho do partido do governo. Nem que seja por uma questão de educação, a última a perder-se antes de se perder a cabeça.

O MESTRE

O ministro das finanças, avisadamente, diz que não é fácil fazer previsões sobre o crescimento da economia por causa do ambiente internacional de incerteza. Sócrates, esse extraordinário economista, garante que a economia portuguesa vai continuar a resistir à crise. Como é que uma notabilidade destas não é aproveitada por países manifestamente subdesenvolvidos como a Alemanha, a Itália ou a França que não sabem dar conta da recessão?

UMA POLÍCIA


«O funcionalismo é hoje vigiado por uma "polícia do pensamento" minuciosa, activa e protegida. Ninguém está seguro.»

Vasco Pulido Valente, Público

13.11.08

REALIDADE E TRAPÉZIO

«Trabalhadores, serviços e dirigentes que não estejam com a reforma (da administração pública) serão trucidados», disse algures o secretário de Estado da Administração Pública. Não foi nenhum governante de Pol Pot ou de Santana Lopes. Nem sequer A. J. Jardim, a "bola de treino" dos "democratas". Foi um membro do governo socialista de Sócrates. Permanece? Permanece porque a complacência bovina é absoluta. Não dei, por exemplo, pela palavra - sempre tão prontamente indignada quando se trata da Madeira - de Vital Moreira. Mas eu é que sou mau e "amargo" como adjectivam os meus ex-amigos socialistas. Em que circo é que eles fazem trapézio?

MELHOR É IMPOSSÍVEL?


Alunos lançam ovos e tomates contra os improváveis secretários de Estado da Sra. Prof.ª Dra. Lurdes Rodrigues, um "gesto" que, tudo o indica, vai "pegar". Um professor é espancado, na escola, pelo pai de um aluno. Finalmente, a EPUL pretende despedir um funcionário por causa de um e-mail. Como costuma dizer o António Ribeiro Ferreira, este sítio anda cada vez mais mal frequentado de alto a baixo. And if this is as good as it gets?

A RAZÃO DE LAMPEDUSA

A nova administração do BPN é mais um monumento ao "bloco central". Repito. Vão ver que, no fim, não só ninguém conhecia o dr. Oliveira e Costa, como ele não tinha "amigos" nos principais partidos do regime e a "investigação" será, como em certas doenças, prolongada. Lampedusa nunca deixou de ter razão.


"BAREBACK" PATRIÓTICO OU A "SOLUÇÃO FINAL" SEGUNDO SÓCRATES

«O secretário de Estado adjunto da ministra lembrou-se de comparar o que parecia incomparável, explicando que, assim como o aumento dos impostos não pode ser negociado com os cidadãos que os pagam, também as medidas avançadas pelo Governo na área da educação não podem ser negociadas com as partes envolvidas no processo. Esta inovadora tese, que sobrepõe os altos desígnios do Governo aos interesses mesquinhos que guiam os governados, abre as portas a um novo mundo socialista onde o diálogo se transforma numa inutilidade e o consenso é, antes e mais, um sinal de fraqueza que se deve a todo o custo evitar. Entre as habilidades do Orçamento, a abertura às pequenas e médias empresas, o cuidado com os pobres e a atenção aos funcionários públicos, a avaliação dos professores teve o condão de fazer vir ao de cima o verdadeiro Governo do eng. Sócrates e de reacender a sua luta contra os inúmeros privilegiados que se passeiam pelo país. A crise internacional, como se sabe, tem dias: tanto leva à nacionalização do BPN, como se encolhe perante uma classe empedernida que, de acordo com o discurso oficial, anda por aí a protestar na rua porque não quer ser avaliada - ou, pior ainda, porque não está para perder tempo com duas ou três folhas de papel. Como diria o outro, uma classe assim, que não se deixa modernizar, acabará inexoravelmente por ser "triturada". Pelo menos, é o que garante um tal Castilho dos Santos, secretário de Estado da Administração Pública, com preocupante à vontade: "Trabalhadores, serviços e dirigentes que não estejam com a reforma (da administração pública) serão trucidados." Bem pode o eng. Sócrates andar por aí a pregar contra o "capitalismo de casino", tentando heroicamente aproximar-se da esquerda: a verdadeira natureza do seu Governo surge, límpida e cristalina, através destes seus dois secretários de Estado. Um anuncia, de forma descontraída, que os trabalhadores que não estão com a sua reforma vão ser inexoravelmente "trucidados". O outro garante, cheio de si, que qualquer reforma conta, à partida, com a oposição dos que não se querem deixar reformar. Concluindo, não vale a pena negociar com todos aqueles que, por motivos mesquinhos, estão contra as reformas que os afectam, até porque, em última análise, se estes se mantiverem firmes nas suas nefastas posições, acabarão por ser higienicamente "trucidados". Nos tempos do Estado Novo dizia-se que quem não estava com o poder estava inevitavelmente contra o país. O eng. Sócrates e o seu Governo conseguiram ir ainda mais longe: agora, quem não está com o poder está a um passo de ser "trucidado". É obra!»
Constança Cunha e Sá, Público

MANUELA E AS FALHAS

A dra. Manuela foi a Fátima pregar aos militantes. Queixou-se de si, isto é, do facto de "não passar" a "mensagem" do partido e de "falhas" nessa comunicação. Também as atribui aos jornalistas que não acompanham a "agenda" do PSD. Apesar da "anestesia comunicacional" e da cumplicidade sem vergonha com que o sector, público e privado, tutelado (literalmente) pelo dr. Santos Silva "conta" a vida pública portuguesa, a dra. Manuela sabe que, para lá dos encómios pornográficos de Vasco Graça Moura, a "produção" política do PSD é frágil. Um país de medrosos tende a refugiar-se atrás do que está quando as dificuldades crescem. Os "resultados" de Sócrates nos estudos de opinião só evidenciam isso e não propriamente uma qualquer genialidade particular da criatura. A propaganda e a referida complacência fazem o resto. Manuela, no lado oposto, limita-se a ajudar, não porque queira, mas porque não é capaz de mais do que aquilo. Até Constâncio trocou o "economês" pela política para preservar o seu bunker. O PSD já tem muito pouco tempo para pensar nisto.

12.11.08

KITSCH


Começa a ser um cliché cansativo aquelas idas de Sócrates às escolas onde os meninos estão todos arrumadinhos a mexer no seu "Magalhães". Há "planificação" a mais no reino "socrático". Tudo surge muito lavadinho e ensaiado como se isto fosse o país das maravilhas. Quando se abusa da propaganda, corre-se o risco de provocar o efeito contrário ou, pior, indiferença. Sócrates banalizou a propaganda como puro kitsch. Há regimes que viveram anos a fio (alguns ainda vivem assim) imersos no kitsch. Nenhum deles é exactamente uma democracia. São mais fantochadas. A democracia possui uma simbologia que não é compatível - a não ser a título de kitsch - com estas manifestações que têm tanto de "tecnologia de ponta" como de atávica paloncice. Suponho que não seja essa a "imagem" que Sócrates deseja para a sua eternidade política.

O AVALIADOR SEM AVALIAÇÃO

Vítor Constâncio fala, noite fora, aos deputados. Alguns - Portas, por exemplo - protestam, olhos nos olhos, a sua demissão. Constâncio, diz, tem a "consciência tranquila". Agora que tanto se fala em "avaliação", quem e como é que, finalmente, se avalia Constâncio, o lamentável Constâncio, para usar uma expressão desse grande moralista português contemporâneo que é o 1º ministro?
Adenda: José Medeiros Ferreira poupa, com persistência, o dr. Constâncio. De facto, o governador é melhor a avaliar politicamente os défices - o da direita, de 2005, citado por JMF, e o de Guterres, de 2002, de que ele se esqueceu - do que a supervisionar bancos. Quanto à retórica perante os deputados, caramba, o homem, afinal, ainda chegou a secretário-geral de um partido. Não sabe só, seguramente, de mercearia. Tem métier.

GRANDEZA



Mirella Freni, La Bohème, Puccini, Ópera de São Francisco, 1989

11.11.08

UMA ANARQUIA NADA MANSA


Maria de Lurdes Rodrigues, se fosse uma ironista, teria saído do carro, em Fafe, e participaria na farra. Todavia, a ministra da Educação, a partir de determinada fase da vida dela, deve ter começado a levar-se a sério. Muito longe, naturalmente, dos tempos em que era anarquista, uma atitude bem mais saudável do que aquele ar de azia permanente que revela. Não aprecio cenas como as de Fafe. Como também não gosto de ver a dita cuja falar em "insultos" quando Manuel Alegre, com todo o direito que lhe assiste no mundo, a critica. Senhora Professora Doutora: a senhora anda a alimentar uma anarquia nada mansa no "mundo" da educação. E quem anda à chuva, molha-se.

NÃO HÁ PACHORRA

Mário Soares em mais um texto infantil. E satisfeito como um adolescente a quem acabaram de oferecer um iPod. Não há pachorra.

10.11.08

NÃO VALE A PENA


A presidência francesa da UE quer à viva força "obrigar" a Irlanda a ratificar o malfadado "tratado de Lisboa". Como não é possível ao respectivo e crédulo primeiro-ministro irlandês, a braços com uma recessão, chamar os seus concidadãos a repetir o referendo para ver se dá "sim", brilhou na cabeça dos mandantes da UE a possibilidade de o Parlamento local "mudar" a constituição de forma a que a aprovação do "tratado" possa ser realizada a preceito. A União Europeia é suposto ser um espaço de liberdade e não um imenso campo de sentido único, atafulhado em burocracia e articulados mistificadores. Infelizmente tem sido este último o caminho escolhido pelas digníssimas cabeças que gerem a coisa e onde pontifica a nossa glória nacional, o dr. Barroso. Sarkozy quer o seu "momento Pirâmide do Louvre" à conta da pobre Irlanda. Não chega lá. Não vale a pena.

TENTAR O DIABO


Marcelo reclamou prisão para os "envolvidos" no caso BPN. Concordo. Só que esta novela pode nem sequer passar para um guião do "sicateiro" Moita Flores. Às tantas, ninguém trabalhou com Oliveira e Costa, ninguém o percebeu "a fundo", ninguém sabia quem ele era. A ele e aos outros que ao longo do tempo "consolidaram" os "negócios" do banco. Costuma ser assim. Na hora da verdade, nunca se conhece ninguém. Ora Costa tem ar de quem não aprecia ir ao fundo sozinho. Quando - e se - ele "puser a boca no trombone" é que vai ser divertido. Da tragédia, o regime já não se livra. Ao menos que nos possamos rir com ela.

OS MAUS GESTORES

Mariano Gago, o invisível ministro da ciência, tecnologia e ensino superior - repare-se nos "atributos" e veja-se o que sobra do mandato deste extraordinário "três em um" -, aparentemente incapaz de tratar da simples intendência das universidades públicas, apareceu para dizer que os maus gestores devem ser substituídos. Estará a pensar nele?

9.11.08

GÖTTERDÄMMERUNG

«Depois de terem mostrado a sua incapacidade, até para gerir um carro eléctrico, [os socialistas] começaram a ser ou a aspirar a ser bons gestores. E a retirar, do capitalismo, o melhor possível. O Estado nacional, um pouco, e o Estado europeu em construção, muito, continuam a ser credo e crença, mas domesticados agora pela boa gestão dos negócios e pela competitividade. A crise económica e financeira deste ano trouxe nova alegria aos socialistas. Era a derrota do capitalismo, gemeram. Depois da do comunismo, a vitória parecia total. Ouvem-se pessoas, lêem-se textos que não escondem a jovialidade com que olham para "a crise", ainda por cima americana. "Estava-se a ver", "era inevitável", "tiveram o que mereciam": eis tons das suas recentes cantilenas. Os mais brutos chegam a pensar que talvez seja esta a maneira de construir o socialismo. Mas a maioria já só pensa em salvar o capitalismo. Na sua megalomania, querem mesmo "refundar o capitalismo". Com o Estado e os socialistas, pois claro. Liberais, conservadores, populares, sociais-democratas, socialistas e trabalhistas estão unidos num propósito: salvar o capitalismo! Na sua quase totalidade, é isso mesmo que querem fazer. Sem cinismo. Do lado das esquerdas, é possível que haja algum sentido da oportunidade: sob a capa do salvamento do capitalismo, entra o Estado. Entra e fica! Mesmo para esses, a ideia de construir o socialismo é absolutamente utópica e risível. Também querem salvar o antigo inimigo. Só que, se puderem ficar no cockpit ou pelo menos partilhar a torre de controlo, ficam felizes. Com o Estado e o capitalismo, pois claro! Os socialistas louvam o Estado, murmuram de contentamento com as nacionalizações americanas, as de Gordon Brown, as portuguesas que vêm a caminho e as espanholas prometidas. Os socialistas já não estão convencidos de que esta crise é a do fim do capitalismo e a da vitória do socialismo. É a vitória do Estado, em qualquer caso. Não perceberam é que se trata da derrota final do socialismo. Já não é alternativo. Já não tem modelos a defender. Os socialistas interessam-se agora pela vida privada dos cidadãos, por causas culturais e pelos costumes. Casamento e divórcio, aborto e adopção, eutanásia e suicídio, homossexualidade e droga são as causas dos socialistas e de muitas esquerdas. A derrota dos socialistas é a que os transforma, não em coveiros, mas em curandeiros do capitalismo, em ajudantes dos que querem refundar o capitalismo, em decoradores que lhe querem dar um rosto humano. Uma espécie de serviço de assistência, de garagem ou de cuidados intensivos do capitalismo. Se existe uma derrota final, é bem esta.»

António Barreto, Jacarandá

UMA GULBENKIAN "CORRECTA"? - 2

Marçal Grilo, administrador da Gulbenkian, disse ao Público que enquanto durar o processo disciplinar contra Joana Morais Varela "haverá um director interino da revista [Colóquio-Letras], mas que neste momento ainda não existe um nome para esse cargo." Talvez não haja um "interino". Porém, na cabeça destes "pilares" do regime, já deve pairar o "definitivo". Pelo menos, fãs não lhe faltam.

GRANDEZA



A imagem é má mas não o som. Haver Deus também é isto.

(Clip: Jessye Norman,
Samson et Dalila, Camille Saint-Saëns)

DA PASSAGEM DO TEMPO




«Eis um assunto interessante: em que me tornei?»

Truman Capote, Other Voices, Other Rooms.

(Clip: La Traviata, Verdi, Festival de Salzburgo, 2005)

O QUE NEM MAOMÉ DISSE DO TOUCINHO

Alfredo Barroso "opina" sobre a ministra "independente" do governo do camarada Sócrates. Nem os remoques finais a Ferreira Leite o "salvam" de ser uma voz socialista independente a seguir no ano eleitoral que aí vem. Estará encontrado, mesmo com um décimo do talento, o M. M. Carrilho do PS de 2009? E o tio? O que é que o grande tio - tão cúmplice do "socratismo" como silencioso sobre a educação quando tem "opinião" sobre tudo - pensará disto?

8.11.08

OS ANOS PERDIDOS


Ao princípio até apreciei a ministra da Educação. Com o tempo, percebi que se foi tornando em mais uma domesticadora de "estatísticas", de "indicadores" e de lugares-comuns. O António Barreto explicou perfeitamente a trapaça dos resultados da matemática. Agora há a questão da avaliação dos professores que trouxe, de novo, milhares para a rua. Quando era puto, queria ser professor. Hoje não teria assim tanta certeza. À bruteza mentecapta dos meninos é preciso juntar a infinita burocracia inventada à pressa pelo ministério para "catalogar" os professores. "Avaliai-vos uns aos outros como eu vos mando avaliar" é, mais ou menos, o "mote" em vigor para toda a função pública e, no caso, para os professores já de si pouco dados a que lhes mexam. A "ideia" é boa. O método é execrável e politicamente abstruso. Vai valer tudo. Lurdes Rodrigues faz parte de uma panóplia de políticos que procedem das extremas folclóricas dos idos do PREC. Esta gente parece empenhada em se "redimir" desses pecadilhos da pior maneira. Basta ouvi-la em directo no canal "1" da propaganda oficial. A ministra até pode acabar a legislatura mas não deve ficar se o PS ganhar. Entrou leoa e sai sendeira. Ela - e o que é bem mais grave do que a pessoa dela - a "educação" a que presidiu durante estes anos uma vez mais perdidos.

LER OUTROS

«O que está em causa é também a "independência" dos bancos centrais, um mito que na prática se traduziu no esquecimento da sua função de indutor de confiança e numa inequívoca subordinação aos mercados financeiros. Subordinação que não é possível desligar dos erros de avaliação cometidos e sem os quais a crise não teria atingido as proporções que atingiu. O que se passou entre nós com o BPN só reforça esta perspectiva: tudo aponta não só para a cumplicidade dos auditores, mas também para a incapacidade da regulação e para a inutilidade da supervisão, suscitando legítimas dúvidas sobre a acção do Banco de Portugal.»

Manuel Maria Carrilho, Diário de Notícias


«Um regime em que o BPN se criou e agiu em toda a liberdade não merece confiança alguma. Primeiro, porque o Banco de Portugal, como se não lhe chegasse o fiasco do BCP, falhou completamente nas suas funções de fiscalização. E, segundo, porque entre a gente que, da fundação à “falência”, ocupou altos cargos no BPN estavam figuras políticas da maior importância: José de Oliveira e Costa (secretário de Estado de Cavaco), Dias Loureiro (ministro de Cavaco), Daniel Sanches (ministro de Santana), Rui Machete, o inevitável Guilherme de Oliveira Martins e um genro de Aznar, ex-secretário do Partido Popular espanhol. Isto põe um problema essencial. Se a justiça portuguesa não desembaraça rapidamente a tremenda meada do BPN, se não apura rapidamente responsabilidades sem respeito ao estatuto e posição seja de quem for e se não julga e pune rapidamente os culpados, prova, proclama e fundamenta a corrupção do Estado. Existe uma diferença entre o que sucedeu no BPN e um assalto a uma ourivesaria.»

Vasco Pulido Valente, Público

MANUELA VAI COM AS OUTRAS?

Hoje ocorre uma "gigantesca" manifestação de professores. Ontem, certamente por mera coincidência, Manuela Ferreira Leite defendeu a suspensão da avaliação dos docentes e o recurso a um "novo" modelo e à avaliação "externa". Está encontrada a versão "Manuela vai com as outras"?

7.11.08

FÁTIMA

Fátima Felgueiras é, também, um produto das televisões. Não nos esqueçamos das entrevistas, em directo, do Brasil quando a senhora era uma fugitiva à "justiça". Não nos esqueçamos do vexame e da violência a que foi sujeito Francisco Assis, então líder do PS do Porto, quando foi a Felgueiras. Não nos esqueçamos da cobertura dada hoje à decisão de primeira instância e a soberba populista da senhora, uma vez mais, em discurso directo. Ela não tem pingo de vergonha. Mas deveria ter? Fátima Felgueiras resulta directamente do que se construiu em torno do "poder autárquico". Representa, em parte, o regime. Não é exactamente atípica nem caiu do céu. Ela é o que nós somos. Nós somos o que ela é.

DISPONÍVEL


Pedro Santana Lopes disse uma coisa óbvia numa entrevista ao telejornal da SIC. Se a eleição para a CML fosse fácil, a bancada dos dois jornalistas estaria cheia de gente. Para já, nem sequer se nota que Lisboa possui um presidente de Câmara. Em compensação, nota-se que a SIC-Notícias tem mais um "comentador" que até já condescende em frequentar o "submundo" dos blogues. PSL, se calhar, tem horror ao vazio. Eu também.

UMA GULBENKIAN "CORRECTA"?


A Fundação Gulbenkian, dirigida pelo venerável Vilar - uma eminência ao nível de um Constâncio ou de um Rui Machete para não "discriminar" ninguém -, prepara-se para despedir Joana Varela. Para quem não sabe, Varela é a directora da Colóquio-Letras, umas das poucas revistas dignas do epíteto de "literárias", recentemente colocada online desde o primeiro número. Antes dela, a revista foi dirigida por gente tão notável como Hernâni Cidade, David Mourão-Ferreira e Jacinto Prado Coelho. Joana Varela soube estar à altura destes homens mas não escapou ao "modismo" a que nem a Gulbenkian de Vilar (um administrador profissional do regime), Marçal Grilo (o profeta da educação de Guterres), Teresa Patrício Gouveia (antiga e insignificante SEC) ou Isabel Mota (uma "manelista" do PSD) souberam fugir. A Gulbenkian foi invadida pela praga do "multiculturalismo". Vão longe os idos de 96, 97 e 98 quando se organizaram os magníficos seminários internacionais sobre a Europa que trouxeram a Lisboa Steiner, Shama, Furet, Finkielkraut, Romilly, Vidal e outros. Joana Varela não deve servir para "acompanhar" estes tempos da propaganda "multicultural" ligada a essa miragem "correcta" que são os chamados "países emergentes". E é natural que Rui Vilar queira ver no seu lugar - e, por consequência, a "escrever" uma outra Colóquio-Letras mais "adequada" a terceiros-mundismos "emergentes" e petrolíferos - um seu antigo colaborador na Culturgest, António Pinto Ribeiro, o verdadeiro "Pinto Ribeiro", aquele que nunca chegou a receber o telefonema certo para ir para a Ajuda pastorear a Cultura de Sócrates. O método para remover Joana Varela é o do costume e nada "multicultural": o «competente processo disciplinar com vista à aplicação da sanção que se mostrar adequada e na qual desde já se declara incluir-se o despedimento com justa causa» acompanhado da "suspensão preventiva" da arguida não vá ela virar a "louca da casa". Há coisas que nunca mudam.

POBRE PAÍS

Como é que pretendem que a manada respeite a democracia dita "representativa", vazada em deputados nacionais e regionais, quando, na Assembleia de São Bento, apenas meia dúzia de deputados assiste, sexta-feira de manhã, ao encerramento do debate na generalidade do orçamento de Estado? Pobre país.