31.5.08

A ESTÁTUA DO COMENDADOR

Ganhou a previsibilidade melancólica. Ganharam os "barões assinalados", os de sempre, os do regime dentro do PSD como mostram as televisões. Os que faltam, pela voz de Passos Coelho, já se "disponibilizaram" independentemente do "bafio" que tanto incomodava Ângelo Correia há dois dias. Nada de novo. Nada de entusiasmante. O PSD apenas perdeu um bom líder parlamentar.

A PLUTOCRACIA DEMOCRÁTICA

A edificante "sociedade civil" portuguesa, o glorioso "mercado" português.

O RESPEITINHO

Vale a pena ver este vídeo miserável sobre o respeitinho. Que nojo de país. Que nojo de "figuras públicas", coitadinhas. Que nojo de democracia.

A "MASSA"

Do livro ali ao lado:

«Uma massa em estado dinâmico é lúcida, imaginativa, audaciosa, intuitiva. Uma massa em estado de inércia é estúpida e medrosa. Quando se fala de "massa", é preciso ter isto em conta. Nada mais estúpido que a massa, nada mais clarividente que a massa. Depende do estado em que estiver.»

"TOMAR CONTA DISTO"

Como dizia um vendedor de peixe no mercado de Alvalade, "alguém vai ter de tomar conta disto".

"AQUELE SENHOR DE BARBAS..."


Assisti, na televisão, ao "momento" em que Luís Filipe Menezes votou para escolher o seu sucessor. Para quem esteve atento, aqueles breves minutos de declarações são o "tom" para depois de logo mais ao fim da tarde. Menezes, que é "um democrata", vai respeitar o que acontecer. Todavia, não se esqueceu de mencionar "a canalha", a gente "sem carácter" e outros da mesma "laia" que o negaram desde o primeiro dia. De entre eles, Menezes destacou "aquele senhor de barbas" da Quadratura do Círculo como a figura simbólica da referida "canalha" e da gente "sem carácter". Maria Flor Pedroso, na Antena 1, ouviu os quatro candidatos em separado a quem colocou as mesmas perguntas e "fingiu" um debate. A candidata do "senhor de barbas" confirmou-se como um verdadeiro aríete. Ferreira Leite está prisioneira de tudo o que é o regime dentro do PSD e que terá de a "elaborar" politicamente para fazer frente a Sócrates. Quando lhe perguntaram por nomes, ela balbuciou Aguiar-Branco (não me esqueci do hífen porque esta gente do hífen leva-se muito a sério) e António Borges, duas figuras de quem a pátria muito espera. Como segunda opção para líder, Ferreira Leite, quando muito, tem, sic, "preferências negativas". Ou seja, a potencial dirigente do maior partido da oposição, malgré "aquele senhor de barbas", não tem uma ideia. Pelo contrário, os seus adversários têm pelo menos uma: tudo farão para lhe fazer a vida num inferno.

30.5.08

ME, MYSELF AND MY CAR


À saída do "metro" reparei na quantidade de carros com apenas um passageiro: o condutor. Queixam-se, portanto, exactamente de quê?

29.5.08

ESPECTROS


1. «Quando fui votar no boletim de voto não estava lá o nome do Pedro Santana Lopes (...) Se lá estivesse o nome de Santana Lopes não votava. Só que no boletim estava PSD. E eu sempre votei PSD», declarou Manuela Ferreira Leite à revista Sábado. Se Santana Lopes tivesse dito isto em relação a Ferreira Leite, que diriam os moralistas do regime e do partido?
2. No Público, em papel, um artigo sobre a campanha no PSD termina assim: «o importante é que, juntos, Passos Coelho e Ferreira Leite atinjam cerca de 80 por cento. E afastem de vez o espectro de Santana do PSD.» Foram as jornalistas que "inventaram" esta prosa "isenta"?
3. Estou à vontade. Deixei o PSD em 2004 quando Barroso fugiu irresponsavelmente com a conivência de Sampaio. Não apreciei o que se seguiu e os arquivos deste blogue são testemunho disso mesmo. Existe, porém, um propósito indisfarçável de, nestas "directas", humilhar Pedro Santana Lopes. Ao menos a candidata daqueles "barões assinalados" que andaram com Lopes ao colo quando ele era 1º ministro (para ver se ele não os deixava cair) é frontal e diz ao que - também - vem. Já Menezes, manifestamente um frouxo, "esconde-se" atrás da candidatura de Passos Coelho e "coloca" os seus cipaios ao serviço do antigo presidente da "Jota" para esconjurar o nefasto "espectro". Não aprecio aqueles que, como costuma dizer um amigo meu, possuem todas as qualidades do cão menos a lealdade. Não é o caso de Ferreira Leite mas é o de muitos bonzos que estão com ela. A senhora limita-se a ser autêntica por mais que isso custe, humanamente, a Santana Lopes.
4. A eventual vitória da candidata "brasonada" é, porventura, a que mais convém ao confronto com um Sócrates a perder o pé. Nunca a da mais recente versão do "action man" que, em votação nacional, atiraria o PSD, a curto prazo, para a irrelevância e para a pilhéria.
5. Santana Lopes tem sido um bom líder parlamentar. Imagino que, se perder, não quererá continuar. Deixe-se estar. Até 2009 nada está garantido a ninguém. Muito menos a quem ganhar no sábado.

O COMANDANTE DE BANDEIRA


O sr. Alberto Martins, chefe de banda do PS, não perdeu os bons hábitos de "comandante de bandeira" da defunta Mocidade Portuguesa. Gongórico e nulo, Martins dirigiu-se a outro deputado, Louçã, acusando-o de utilizar “linguagem imagética animalesca” contra o "querido líder". Aparentemente Louçã e Sócrates travaram-se de razões e mimosiaram-se mutuamente de "mentirosos". A "democracia parlamentar" que eles frequentam é cheia daquela "linguagem". Não se percebe, por isso, o tom ofendido do velho "comandante de bandeira". Ou serão resquícios da remota ocupação oficiosa dos tempos livres de Martins antes de se tornar em "mito" associativo revolucionário por ter feito uma perguntinha pública ao Almirante Américo Tomás ? Por que não te calas, Martins?

O PEQUENO MUNDO DE SÓCRATES

«No seguimento dos relatórios do FMI e da União Europeia e um mês depois de ter anunciado radiosamente a descida do IVA, o primeiro-ministro foi obrigado a render-se à realidade. Começando pelo óbvio, teve que rever em baixa o crescimento económico, pondo em causa não só a consolidação orçamental que, na sua opinião, estava já garantida, mas principalmente o futuro radioso com que, ainda há pouco tempo, nos acenava. A revisão do crescimento confirma apenas o que devia ser de uma evidência cristalina: não há "oásis" num mundo globalizado, e muito menos num país pobre e dependente, onde abunda a desigualdade e onde o desemprego tem batido recordes históricos, nos últimos anos. Se é verdade que o país sofre o efeito de uma crise internacional, não deixa de ser verdade também que o Governo foi o último a compreender a sua verdadeira importância e os seus inevitáveis efeitos na economia nacional. Como se isto não bastasse, entre o anúncio da descida do IVA e a revisão do crescimento económico, o dr. Menezes, esse verdadeiro trunfo do PS, decidiu abandonar a liderança do PSD, abrindo caminho às directas que se realizam este fim-de-semana. Com intuitos mais ou menos óbvios, as habituais "fontes" bem informadas já fizeram chegar aos jornais que a drª. Ferreira Leite era a candidata "preferida" pelo Governo porque oferecia ao PS o "voto útil" da esquerda. Este subtil argumento, que ninguém se deu ao trabalho de analisar, revela curiosamente o contrário do que pretende revelar. Se o Governo considera, de facto, que com a drª. Ferreira Leite à frente do PSD, consegue conquistar o "voto útil" da esquerda, isso significa apenas duas coisas: que o Governo pensa que a drª. Ferreira Leite pode ganhar ao eng. Sócrates (daí o voto útil); e que reconhece que, ao tentar penetrar no eleitorado do PSD, acabou por perder o voto da esquerda para o PCP e para o Bloco de Esquerda. É duvidoso que, mesmo num cenário de derrota, esse voto se encaminhe para a reeleição de uma maioria que, ainda esta semana, reagiu da pior forma ao "aviso" do dr. Soares sobre a pobreza, a desigualdade e o descontentamento. E é ainda mais duvidoso que os socialistas sejam imunes a uma eventual vitória da drª. Ferreira Leite no PSD. Com tanta gente a pedir "ideias" aos candidatos sociais-democratas, é natural que ninguém repare no debate que vai ter que haver, mais tarde ou mais cedo, no interior do PS, entre a esquerda do partido e os "falsos" socialistas que se encontram no Governo. Em qualquer caso, em dois meses, a situação do eng. Sócrates mudou. É a vida!»

Constança Cunha e Sá, in Público

28.5.08

FEIRA CABISBAIXA

Passei rapidamente pela feira do livro de Lisboa. E tive saudades da feira de quando andava no liceu e na universidade. Em editoras com patine há fotos de gente que nunca vi e que passam por escritores que coexistem com "casos" como o "pai afectivo" da Esmeraldinha. A "zona demarcada" da LeYa, com seguranças e meninos e meninas "fardados" com a "marca", é digna de uma feira do livro em El Salvador. Tudo tem, em geral, um ar pindérico. Nem o tempo ajuda. Por pouco mais de dois euros, "trouxe" um Eduardo Prado Coelho que não tinha. Aquilo é tudo menos o "fio da modernidade" do título do livro. É apenas triste.

A FRASE


Ao contrário do que aconteceu na TVI, Ferreira Leite não "ganhou" este debate na SIC. Revelou a sua maior debilidade que consiste em não querer ser uma "política" vulgar, isto é, alguém que se expõe e que é tagarela. É certo que esta fraqueza "estrutural" é a sua maior força "estratégica". Fala mais para "fora" do que para "dentro" o que lhe deve custar uns quantos votos da "rapaziada". Passos Coelho foi mais "boneco" do que tem sido e, embalado pela própria vaidade, caiu no erro de se levar a sério, de novo sob o olhar maternal da dra. Manuela. Patinha deu um misto de aula de economia e de magia que intervalou com a condição de "ponto". Valha-lhe Deus que não esteve com ele neste episódio que apenas visa garantir-lhe o lugar de deputado, ganhe quem ganhar. Em suma, Pedro Santana Lopes "venceu" com uma frase essencial: "não quero mais quatro anos de Sócrates." Nem mais, mesmo que, muito provavelmente, não chegue.

ÂNGELO E O ESPELHO

"O mofo", "o bafio", "o mesmo do passado"...: é Ângelo a ver-se ao espelho com o seu Pedrinho por trás?

POBREZA PARA TODOS

«Há pobreza que chegue para irritar os que agora são governo e os que irão suceder-lhes, há pobreza que baste para todos.»


PEDRO E OS LOBOS


O Manuel Falcão era amigo do Pedro Santana Lopes. Agora Falcão é mais um deslumbrado pelo "obamazinho" do PSD, Passos Coelho, porque, alegadamente, ele "traça um caminho diferente". Vê-se mesmo que o Manuel nunca foi filiado em nenhum partido e que só vagueou pelas "extremas" no PREC. É que o rapazola que "traça um caminho diferente" já anda "nisto" há demasiado tempo. Há tanto tempo que o caciquismo interno, representado pelo presidente demissionário, se lhe colou imediatamente como uma lapa. Lopes não tem tido sorte. Os "amigos de Peniche" abandonaram-no, os "barões assinalados" que o empurraram para São Bento, em 2004, detestam-no e, como uma desgraça nunca vem só, o sr. Ribau decidiu apoiá-lo. It's an injustice, it is.

ENTRE O FRACASSO E A PROMESSA


Infelizmente já não há homens para um novo "28 de Maio". Não há tropa e, sobretudo, não há elites. Os media, que substituiram as elites, dão geralmente ao povo aquilo que o povo quer que lhe dêem. Circo e pão, embora este último ande em crise. O povo seguiu os militares a partir de Braga porque havia um "divórcio" entre a ditadura - citadina e litoral - da República e o resto do país. Este regime tem tido o cuidado de "anestesiar" o povo com a propaganda e com a ilusão da democracia. Naturalmente que isto só resulta se houver dinheiro que permita que o povo circule nas auto-estradas e nos centros comerciais. Os "fundos" europeus facultaram, naturalmente, a ilusão que termina já em 2013 se não for mais cedo por causa dos "imprevistos". Há oitenta e dois anos começou a Ditadura, um interlúdio entre a I República, jacobina e terrorista, e o Estado Novo do Doutor Salazar e da Constituição de 1933. Não está muito estudada porque ficou entalada entre um fracasso e uma promessa. É, aliás, o estado natural em que tantos pretendem que persistamos. Sempre entre o fracasso e a promessa.

Nota: O livrinho da foto - O 28 de Maio oitenta anos depois : contributos para uma reflexão - foi publicado em Maio de 2007 pelo Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra, Instituto de História e Teoria da Ideias da Faculdade de Letras e editado por Luís Reis Torgal e Luís Bigotte Chorão.

27.5.08

IMPROBABILIDADE

Os "idiotas especializados" de Bruxelas recusaram a proposta do presidente Sarkozy no sentido de limitar o IVA incidente sobre os combustíveis. Mesmo assim, o nosso dr. Pinho "pediu" à Comissão de Barroso para "identificar medidas a curto e a médio prazo que possam minimizar o efeito negativo da escalada do preço do petróleo." Pinho, pelos vistos, percebe que o "demónio" anda a solta (isto para o citar), embora ignore o que deva fazer para o domar. Este imbróglio não estava previsto nas fichas do senhor primeiro-ministro. O "ar" do homem nas jornadas parlamentares da seita não enganava ninguém. Silva Pereira, o mimo do "querido líder", já avisou por ele que algumas "metas" com que o governo se havia "comprometido" vão ter de ficar "adiadas". Nunca é esdrúxulo recordar a palavra do Grande Morto de Santa Comba Dão. Em política, o que parece é. E o que parece é que está a gerar-se uma espiral de improbabilidade - aqui e na Europa - para a qual a nomenclatura de serviço, por natureza improvável, não tem manifestamente arcaboiço. Isto promete.

MENEZES ESCONDIDO COM COELHO DE FORA

A DOSE

O Doutor Cavaco descobriu hoje que, para além do "mercado", existe uma "dose de especulação" no aumento do preço dos combustíveis. Talvez, então, possa transmitir isto ao senhor primeiro-ministro, na reunião de quinta-feira, e questioná-lo acerca do sr. Oliveira, o da GALP. Ou a "golden share" não serve para nada?

A DERROTA DO PENSAMENTO

«Sempre que Portugal está numa dificuldade maior são chamados à televisão os especialistas da morte assistida...» (Medeiros Ferreira). Pena é que pessoas como o JMF ou o JPP andem entretidos com o festival da eurovisão e com Marte, respectivamente, como se estivéssemos no paraíso entre palhaços ricos e pobres. A "derrota do pensamento" espreita onde menos se espera.

O PRETTY BOY NO SEU LABIRINTO


Mário Soares, ao arrepio das graçolas alarves e das baboseiras que se escrevem na blogosfera que lhe é afecta, já percebeu que o "pretty boy "satisfaz plenamente" o PC e o BE, isto é, quanto mais "pretty boy" mais eles crescem contra o PS. O Daniel Oliveira dizia-me ontem à noite que não fazem, aliás, a coisa por menos de vinte por cento para os dois em 2009. Se a dra. Manuela emergir, é natural que a direita que deu a maioria absoluta ao fumador furtivo regresse a casa ou, no limite, fique em casa. Finalmente, nos Açores, Manuel Alegre, a "consciência", arrematou o sr. César como um verdadeiro socialista, um socialista que "não é de plástico". Cheira-me que o "pretty boy" vai regressar rapidamente ao vício.

26.5.08

A POLÍTICA DO SIMPLES BOM SENSO


Pela enésima vez, a sra. dra. Fátima Campos Ferreira debate a economia e a crise e a crise e a economia. Pela enésima vez, lá estão o tremendista Medina Carreira, o ex-cúmplice de Pina Moura, Nogueira Leite, a dra. Ferreira Leite da "esquerda moderna", Teodora Cardoso, o dr. Basílio Horta, uma "conquista" socrática e um senhor dos idos do "Maio de 68", julgo que do PC. Deviam colocar o retrato que ilustra este post no palco com os seguintes dizeres e pouparem-se a três horas de "debate":

«O plutocrata não é, pois, nem o grande industrial nem o financeiro: é uma espécie híbrida, intermediária entre a economia e a finança; é a "flor do mal" do pior capitalismo. Na produção, não é a produção em si mesma que lhe interessa, mas a operação financeira a que pode dar lugar; na finança, a administração regular dos seus capitais não lhe interessa demasiado, mas sim a multiplicação graças a acrobacias contra os interesses alheios. O seu campo de acção está fora da produção organizada de qualquer riqueza e fora da normal circulação dos capitais em dinheiro; ele não conhece nem os direitos do trabalho, nem as exigências da moral, nem as leis da humanidade. Se funda sociedades, é para usufruir dos seus bens e passá-los a outros; se obtém uma concessão gratuita, é para a revender já como um valor; se se apodera de uma empresa, é para que esta suporte os prejuízos que outras o fizeram sofrer. Para chegar a isso, o plutocrata age no meio económico e no meio político usando sempre o mesmo processo: a corrupção. Estes indivíduos, a quem alguns chamam também grandes homens de negócios, vivem precisamente de três características dos nossos dias: instabilidade das condições económicas, falta de organização da economia nacional, corrupção política. (...) Advoguei sempre a política do simples bom senso contra a dos grandiosos planos, tão grandiosos e tão vastos que toda a energia se gastava em admirá-los, faltando-nos as forças para a sua execução.»

"AINDA QUE ME DIGAM QUE VIVEMOS EM DEMOCRACIA EU DIGO QUE NÃO SEI"

O Carlos "viu" o "ponto". E sou, sou liberal em muitas coisas, mas não exactamente naquelas com que os nossos "liberais" de academia fabricam o seu habitual "bolo-rei". Democrata - no sentido de correr o risco de me confundir com os que por aí se exibem como tal - de facto não sou. Interessa-me, porém, como homem e católico, pensar o "destino" das pessoas que "estão aí". Como o Carlos escreve, interessa-me uma "resposta concreta para os problemas mais candentes do quotidiano da generalidade" delas, sem messianismos estéreis. Poesia gosto, mesmo, mas é lá dentro dela. "Eu queria outro país, outro lugar/(...) Ainda que me digam/que vivemos em democracia eu digo/que não sei." (Joaquim Manuel Magalhães)

PORTUGUESE LIBERALS

Os nossos liberais escandalizam-se cada vez que se fala no preço dos combustíveis. Os nossos liberais gostavam de viver nos EUA ou em Marte e ignoram o país em que desgraçadamente vivem. Os nossos liberais acham que temos um "mercado" sério onde não se deve tocar. Mesmo que a realidade desminta a coisa todos os dias, eles não admitem nada que ponha em causa uma "concorrência" que só existe na cabeça deles. A "formação dos preços", portanto, deve ser obra dessa extraordinária "concorrência" e desse magnífico "mercado". Passos Coelho, o mais recente paladino desta aldrabice intelectual, até confunde o papel do sistema fiscal em nome da "preservação" do tal "mercado". Os nossos liberais são parecidos com os nossos literatos. Muita parra e pouca uva. Desconhecem, porventura, a "natureza" da GALP ou da EDP, por exemplo? Acham mesmo que são dois genuínos produtos da "concorrência", do "mercado" e da "livre iniciativa"? O país anda necessitado de uma "revolta do grelo". Infelizmente até dos mercados terra-a-terra onde isso acontecia, em 1903, deram cabo. Talvez quando a sardinha deixar de aparecer fresca se perceba que o problema não são só nem principalmente os automóveis. Deixem-nos à porta como eu faço. E também não é a fazer figuras tristes em Badajoz que o nosso "liberal" Portas lá vai. Aliás, pelo andar da carruagem, em breve ninguém irá a lado algum. Nem os "liberais" e o seu "mercado" de opereta.

25.5.08

DE MEIA-TIGELA, DISSE ELE

Santana Lopes acusou o "pretty boy" de ser um "socialista de meia-tigela". As carpideiras do PS vieram imediatamente em auxílio do "querido líder" como se Lopes tivesse insultado a memória de Antero de Quental ou um "ideólogo" do partido fundado por Soares. Sócrates, como qualquer bom dirigente dos nossos tempos, não é nada. Só tem métier.

"O NOSSO MELHOR DEMAGOGO"


«I liked the idea of him, but he never managed to get my interest. I was brought around by his overall intelligence – specifically when he did his speech on race and religion. He’s our best demagogue since Huey Long or Martin Luther King.»

Gore Vidal sobre Obama, Maio de 2008

POR QUE É QUE A DRA. MANUELA VAI GANHAR

«Manuela Ferreira Leite representa o que há de mais genuíno e profundo no partido: a tradição autoritária que vem de Salazar e Marcelo e que Sá Carneiro e depois Cavaco manifestamente receberam. Manuela recusa a retórica democrática; insiste na discrição e na reserva; afirma mais do que discute; e, como dizia o outro, sabe muito bem o que quer e para onde vai. Os portugueses gostam disto. O PSD também.»

Vasco Pulido Valente, in Público

INDIANA JONES OU A USURA DO TEMPO


Logo no início do recente Indiana Jones, o reitor da universidade onde o "herói" ensina explica-lhe, melancolicamente, que há um momento na nossa vida em que ela já não nos dá nada e só retira. A frase também serve para o que se lê. Cioran era adepto da releitura. Um livro - dizia ele - só se "adquire" verdadeiramente depois de lido umas cinco ou seis vezes. É o que ando a fazer, em menor escala, com Gore Vidal e os seus ensaios. Falta-nos um Gore Vidal como, apesar de Eduardo Lourenço, sempre nos faltou um Montaigne. O nosso ensaísmo tende a ser chato e palavroso mesmo quando é eloquente. Raramente um autor consegue, em breves e acutilantes parágrafos, dizer o essencial. Lourenço tem frases de tirar o fôlego, longas, com cada palavra pesada e pensada meticulosamente o que, por vezes, nos obriga a lê-las devagar para lhe "saborear" o efeito. Para o fim, António José Saraiva foi-se tornando mais enxuto sem nunca cair na trivialidade ou na irrelevância. Mais do qualquer outro, foi polémico e cruel, embora Lourenço o saiba ser, de uma forma subtil, mesmo quando é "consensual". Joaquim Manuel Magalhães, a milhas o melhor "leitor", sem ademanes, de poesia e de outras realidades, nunca chegou bem a andar no "circuito" costumeiro a que, ainda novos, não cessam tantos de aderir. Depois falta "mundo" e vida - da vivida - aos nossos raros ensaístas ou candidatos a tal. Apesar do cosmopolitismo retórico de muitos, verdadeiramente nunca passaram de "ratos de biblioteca". Há demasiada "academia" mesmo nos não académicos. Vidal passou a vida a limpo nos seus ensaios e nas suas memórias. Ler umas eventuais memórias de Lourenço ou de outro qualquer seria, quase inevitavelmente, um belíssimo exercício literário sem "fibra" ou "músculo" a sustentá-lo. A propósito do que quer que seja, o ensaísmo tal como a literatura "a sério", servem, nas palavras de Vidal, para "desmascarar a orgulhosa demência da sociedade". Por isso, cada vez mais só releio para atenuar a usura do tempo que jamais me trará nada nem ninguém de volta. A Indiana Jones, vejam lá, trouxe-lhe um filho como na história da carochinha onde, contra a "filosofia" inicial do reitor do filme, afinal tudo acaba bem. Que terrível banalidade.

24.5.08

FORÇA


A blogosfera afecta à "esquerda moderna" em vigor recorre a um registo de "gozo" para comentar a situação social e económica do país. Nas suas progressistas cabeças "esquerda caviar" não existe miséria, não há problemas e, sobretudo, vegeta um "pretty boy", confiável e seguro, que nos conduz, entre duas corridinhas e um cigarro fumado às escondidas, ao paraíso. Força.

HÁBITOS QUE NUNCA SE PERDEM


Já se suspeitava mas o Expresso esclarece. Ângelo Correia "abençoou" a passagem de testemunho de Menezes para Passos Coelho. Intermediou o gesto o sr. Marco António, o do Porto, que colocou as "tropas" ao serviço do viçoso e prometedor "jovem". Basta ler a "contabilidade" dos caciques locais, citada no jornal, para perceber como é que estes "dirigentes" tratam as "bases". Como meras cabeças de gado. Nas contas deles, feitas ao detalhe e bem antes do dia 31 de Maio, é "canja". Os votos já têm nomes e números. Não dei por Passos Coelho reagir a isto, logo ele que tem a pretensão de ser diferente e a favor da "mudança". Esta "esperteza saloia", monitorizada pelo "barão" Ângelo e pelo horrível Marco, coloca Passos Coelho ao nível do qual ele verdadeiramente partiu. O da sua querida "Jota". Não foram, afinal, em vão tantos anos de dedicação à causa, mesmo com breve intervalo para "formação". Há hábitos que nunca se perdem.

QUE RESTE-T-IL DE NOS AMOURS?



Charles Trenet e Dalida.

GASOLINA PARA A FOGUEIRA

A GALP, onde o Estado possui uma formosa "golden share", não parece ter vergonha na cara. Haja alguém que tenha.

NA ABERTURA DAS BARRACAS DO LIVRO


"Ah, os jovens escritores", por Pedro Carvalho:

«Não podiam faltar. Tenho encontrado uns blogues pindéricos, de uma gente que pensa que sabe escrever. E pensam que sabem escrever, porque gostavam muito de Português no Secundário, e alguns até foram para a faculdade de letras, onde eu tirei a foto brilhante que se segue. Falar com esta gente sobre literatura é impossível. Porquê? Em primeiro lugar, não sabem nada. Kafka, hum? Não xei du k falas. Clássicos portugueses? Ya, li os Maias e curto bué do M. Tavares. Há dois tipos de jovens escritores blogueiros. Apesar de versarem sobre o mesmo tema, histórias teen, e do seu estilo ser miserável, sem musicalidade, sem ritmo, cheio de repetições estilísticas, há aqueles que conseguem ir para a cama, e outros que não conseguem. Sendo tudo uma merda, não é a mesma merda. Para vocês, seus labregos, e já que a Rita Ferro, uma escritora que roça o insulto, também tem um blogue onde no post inicial se lê um poema do Botto, deixo aqui os meus versos favoritos desse paneleiro, que são uma autência lição de como escrever, pensar e executar: A minha alma é como um cisne, Canta melhor quando morre.»

NUMA GALÁXIA MUITO DISTANTE


Campanha para o referendo ao tratado de Lisboa na Irlanda, claramente um país subdesenvolvido, falho de Europa, de história, de tradição democrática, de "esquerda moderna" e de "novas oportunidades". Via Abrupto.

DESMISTIFICAR AS FEZES?


Uma das provas da imperfeição criativa da natureza está naqueles símios que degeneraram em seres humanos. Exemplo disso são aqueles idiotas que organizam praxes académicas. Alguns deles foram simbolicamente condenados, em tribunal, a pagar multas pelo tratamento dispensado a uma colega numa dessas práticas primitivas. Todavia, e em defesa dos "alunos" que perpetraram as macacadas, apareceram no julgamento um ex-professor que declarou que "é preciso desmistificar as fezes" e o então director da escola (agrária) que disse ser "normal a praxe com bosta". Quando "professores" produzem opiniões deste jaez, só apetece enfiá-los num tanque cheio de bosta para os "desmistificar". "Elites" destas que andamos a produzir há trinta e tal anos não passam, literalmente, de "elites" de merda.

23.5.08

A REALIDADE

A VENCEDORA TRANQUILA


A Manuela Moura Guedes moderou um primeiro debate entre os candidatos à liderança do PSD. Não conto Patinha Antão. Lembrou-me um digno "chefe de sala" do velho cinema Eden que "sabe umas coisas" e que lê almanaques entre duas sessões. Santana Lopes não "brilhou" como precisava e teria gostado. Passos Coelho parecia saído da "explicação" e as constantes vénias que dirigiu "à sra. dra." (que o tratou condescendentemente por Pedro) indicaram aos telespectadores quem "mandava". Como resumiu Vasco Pulido Valente, Ferreira Leite falou pouco mas com a autoridade, a discrição e a noção da realidade adequadas a quem pode vir a tomar conta "disto". Ganhou. O debate, naturalmente.

A CAPACIDADE DE NÃO-SER-COISA-ALGUMA

«Não há maior inimigo do PSD que o PSD, como não há maior amigo do PSD que a sua fascinante capacidade de não-ser coisa-alguma e ser, sem tirar nem acrescentar, a imagem da sociedade portuguesa e dos portugueses, daquilo que julgam ser mas não são e daquilo que não são mas parecem ser. »


22.5.08

POLUIÇÕES

O dr. Costa, presidente da CML e "nº 2" do PS até mais ver, disse na Quadratura do Círculo que isto dos combustíveis é coisa do "mercado" e que o governo já "respondeu", congelando o eventual aumento dos passes sociais (só em Lisboa), o que prodigaliza, acha ele, uma dupla vantagem. Por um lado, melhora o "ambiente" e, por outro, "leva" a que as pessoas recorram mais aos transportes públicos. O dr. Costa podia começar por dar o duplo exemplo. Evitava usar os potentes carros da Câmara para vir de Sintra e andar em Lisboa, trocando-os pela CP, pela Carris e pelo Metro. E ficava calado para não poluir ainda mais o ambiente.

HILLARY


De facto, uma dos poucos que não desiludiriam Diógenes.

A EXPO PERMANENTE - 2


Cada vez que vejo o Mega Ferreira, o sempre-em-pé Mega do regime, o Mega-César tão bem definido por Suetónio, ou o seu ersatz governador do Parque das Nações, apetece-me vomitar. O lixo humano causa-me azia.

DO EMBRUTECIMENTO


Morreu mais uma pessoa assassinada no Bairro Alto. Quando saí do São Carlos, ontem à noite, percebi que as hordas se dirigiam - como manda a liturgia das vésperas de feriados, das sextas e dos sábados à noite - para as ruas estreitas de um Bairro onde já só se finge a alegria. Os que lá moram, há muito que deixaram de se incomodar com o ruído. Mesmo que o barulho seja o tiro de uma pistola. Se não for uma pistola, é uma faca ou uma garrafa partida. Chamam a isto divertimento. Eu chamo-lhe embrutecimento. Como não levo o carro para a Baixa, voltei a casa de metro e, depois, de autocarro. A Carris, a partir de determinada hora, "corta" os autocarros que, ou não existem, ou ficam a meio do caminho. A "noite" tornou-se infrequentável. No autocarro vinha um sujeito aos berros. Um louco, diriam os restantes passageiros. Pelo contrário, deu-me ideia que era o único lúcido no meio de abúlicos apalermados. O senhor perguntava: "vivam os sócios da selecção, você já é sócio da selecção?" E continuava. "Aumenta o pão, o leite, a gasolina, mas o que você quer é ser sócio da selecção." A sério, não é isso que V. quer? Ser voluntariamente embrutecido, morto de vida intelectual, sem necessidade de tiros ou armas brancas?

A EXPO PERMANENTE


Para "aliviar" vagamente da selecção, o regime "comemora" os dez anos da Expo. Uns dias antes da coisa abrir, a Maria Filomena Mónica, na Gulbenkian, num colóquio sobre "Europa e Cultura", disse o essencial sobre o "evento" para grande incómodo de muitos dos presentes: circo para o povo. A "lógica" dos "eventos democráticos" continua nas suas formas mais absurdas e alienantes. Espero que a selecção perca rapidamente nos primeiros jogos e volte para casa, indo os jogadores às suas vidinhas frívolas pagas a preço de ouro. Um povo que aceita a presente canga dos combustíveis e que, pelo contrário, continua a encher depósitos e a falar para as televisões em "indignação" e "pouca vergonha" como se estivesse a comer bolachas Maria à espera do próximo jogo, é um povo que merece tudo o que lhe acontece. Circo. É só mesmo do que precisa e que se lhe deve dar. Viva a Expo permanente.

21.5.08

O ESTADO DA ARTE, A ARTE DO ESTADO OU O RAIO QUE OS PARTA

Mais transumâncias, agora na cultura, pelo Augusto M. Seabra. Afinal, o dr. Pinho tem mais "talento" para outras coisas do que para a economia. Aquele ministro que "podia ser o que ele quisesse", o dr. Pinto Ribeiro, é que não existe. Nem sequer a título de produção fictícia.

LUXO ASSESSORIAL

Não, os senhores administradores do INSA- Instituto de Saúde Ricardo Jorge estão redondamente enganados. Este assunto não é "do foro interno". E não é do "foro interno" pela mais trivial das razões. É o Estado, através dos contribuintes, quem paga o funcionamento do Instituto porque espera, como tem acontecido desde sempre, que ele preste um serviço à comunidade. Tudo coisas que, como qualquer cego enxerga, não são do "foro interno". Esta mania de pagar fartamente a assessores "indispensáveis" - material de que os cemitérios estão cheios - já começa a irritar. Recentemente um conhecido meu foi para a direcção do INSA. Chefiou, há uns anos, a "unidade de missão" que pariu os "hospitais empresa". É um homem da economia da saúde, preferencialmente da privada. Não deve, no entanto, ter sido ele quem votou contra a admissão da assessora porque, justamente, a dita "passou" pela "unidade de missão" chefiada pelo agora vogal da direcção do Ricardo Jorge. Estas transumâncias, numa área depauperada como a saúde e num país periférico manifestamente "à rasca", deviam ser proibidas e punidas. Quem as quiser fazer, fique-se pela robusta "sociedade civil" que tanto contesta o Estado mas que, sempre que pode, o suga. Se o INSA não tem dinheiro para a prossecução das suas atribuições, por que raio deve apascentar - e nós por ele - o luxo assessorial? O raio que os parta mais à dra. Ana Jorge que anda a navegar à vista.

AS FICHAS


Sócrates escolheu a economia para "tema" do debate parlamentar. Se escolheu, é porque tem umas "fichas" preparadas e, eventualmente, um "ansiolítico" para prover às mais recentes más novidades da dita. O "economês" já não chega. É preciso mais qualquer coisa, fora o futebol, para "animar" os "agentes económicos" (essas obscuras entidades que, tirando as grandes empresas onde o Estado se prolonga, o eng. Belmiro, as farmacêuticas e pouco mais, não passam de uma ficção) e as "famílias". Sócrates sabe que é um risco chegar a 2009 com esta gente nervosa, cheia de dúvidas e de dívidas. Não há, porém, milagres. As coisas são o que são e, daqui até às eleições, serão péssimas. Vamos ver até onde é que o homem pode esticar as "fichas".
Adenda: Não chega a ser um "ansiolítico". É mais pequena "medicina alternativa", à base de chá, ou melhor, da falta dele.

20.5.08

MENEZES CONTRA TOMB RAIDER

O dr. Menezes, o escorreito do dr. Menezes, foi entrevistado pela Constança Cunha e Sá. Um dias destes falara a um jornal e, parece, ainda vai perorar mais. Porquê? É simples. Menezes "sente" as "bases", de que se julgava dono, fugirem-lhe. Isto é, a "caírem" para a dra. Ferreira Leite. Porquê? Também é simples. A dra. Leite ainda é a que, de forma menos remota, pode aspirar ao poder. E Menezes sabe que ganhou há seis meses porque prometeu às bases "poder" para depois de amanhã. Menezes foi péssimo na entrevista com Constança. Autista, ressentido (quem o ouvisse até podia julgar que ele fora "impecável" com Marques Mendes) e regionalista (a referência a Fernando Gomes como mais uma "vítima" dos "sulistas elitistas" foi esclarecedora), o ainda presidente do PSD recusa-se a ver no seu "consulado" a menor causa para o seu próprio desastre. Tudo se deveu, afinal, a esse fantástico "tomb raider" de líderes chamado Pacheco Pereira. Ficámos a saber - foi essa a "mais-valia" da entrevista - que, já com Cavaco, Pacheco se tornou especialista em "minar". "Minou" Nogueira a partir de Moscovo, Marcelo a partir da Lapa, Barroso e Lopes a partir dos jornais, da televisão e de um blogue, sendo que é assim, e não com os livros sobre o dr. Cunhal, que "tem ganho a vida". Tudo isto nos garantiu Menezes, sem hesitações, para "provar" que a dra. Leite, ao contrário dos outros dois, é uma candidata "de facção" que, se não vencer por mais de não sei quantos por cento, não tem legitimidade. Os outros, presume-se, têm porque os "seus" estão "espalhados" pelas respectivas candidaturas. Menezes é sempre pior que a sua caricatura. É pena que, com tantos amigos, nenhum lhe explique isto.

A VIDA DELES


O pequeno Vitorino, na RTP, afirmou, a propósito da realidade, que as contas "saíram furadas ao governo". Ou seja, esta eterna esperança socialista, reconhecido apoiante do primeiro-ministro, deu a entender que o mundo não roda exactamente como Sócrates gostaria que ele rodasse. E que o dito Sócrates, afinal, não é infalível. É vida. Deles.

NO MELHOR PANO

A Colóquio/Letras, da Gulbenkian, é das poucas coisas boas produzidas por cá. Foi sucessivamente dirigida por Hernâni Cidade, Jacinto Prado Coelho, David Mourão-Ferreira e Joana Varela. Todos os números, desde 1971, estão agora disponíveis na "net". Só que, mesmo no melhor pano, cai a nódoa. Os responsáveis pela revista lembraram-se de convidar o entertainer do regime, o engraçadinho Araújo Pereira, para apresentar a novidade. “Aceito todas estas participações para elevar a minha aura intelectual”, disse a criatura ao Público. Mesmo dando de barato que é mais uma piadola, por que é que ela, a "aura", não se eleva?

19.5.08

A ESQUERDA ADITIVA


O sítio do Instituto da Droga e da Toxicodependência parece que tem um subsítio que ensina a consumir drogas, a fazer "charros" e porventura outras actividades edificantes. O subsítio tem um dicionário onde o "malta" pode aprender o que ainda não sabe bem como as tradicionais "faq". Nada disto seria importante se o Instituto não fosse pago com o dinheiro dos contribuintes. Antes do coro, aviso já que possuo uma posição altamente reaccionária acerca da droga e dos drogados, desde os do vulgar "charro" até aos chiques da coca. Aliás, incomoda-me que a nossa jurisprudência obrigue a tratar a toxicodependência como uma doença crónica e os toxicodependentes como uns coitadinhos que precisam de amparo. Um Estado que é desleixado no essencial, rápido em multar por tudo e por nada, perseguidor de hábitos alimentares que não fazem mal a ninguém, etc., etc., devia ter vergonha em privilegiar inutilidades voluntárias. É isto que é ser de "esquerda" e da "moderna"?

UNS POBRES DIABOS

Esta história é velhíssima. Imagino que o mesmo se passa nos outros partidos. No PS da Amadora, onde manda o sr. Raposo, ocorreram recentemente filiações deste "género", isto é, na mesma morada. Normalmente já ninguém se indigna porque o acto de militar num partido releva mais de fazer contas do que de convicções. É o novo invólucro da antiga "chapelada". Quantas vezes dei por mim com as quotas pagas sem ter pago nada. Mesmo depois de ter devolvido o cartão, em 2004, ainda havia um benemérito que as pagava. As "directas" têm destas "contrariedades", manipuladas metodicamente por quem sabe e por quem precisa. Muitas vezes nem sequer chegam ao conhecimento dos "beneficiados". Vive-se dentro dos partidos políticos - à excepção do PC que, em caso de complicação, expulsa - um clima parecido com as "lojas dos trezentos". Coexiste de tudo e, na hora de votar, vale mesmo tudo. Dá-me ideia que o conselho de jurisdição nacional do PSD do dr. Menezes e do sr. Ribau é um produto elaborado à imagem e semelhança destas duas figuras. Não deve adiantar muito "reclamar", protestar ou denunciar a evidência. Até porque muita desta gente aprecia ser tratada como gado. Imaginam que "contam" e que são "importantes" quando, afinal, não passam de pobres diabos.

18.5.08

POR AMOR DE DEUS

A realidade é bem pior do que sobre ela comentou JPP. Os trogloditas do costume, não importa o clube, lá andam pelas ruas, com dezenas de "jornalistas" atrás deles a perguntar idiotices, tão burgessos como os "adeptos". Antes da "taça", a SIC foi pornográfica. Depois, são todos os canais. As peregrinações a Viseu seriam anedóticas se não fossem, como parecem ser, levadas a sério. Será que, à semelhança do que acontecia na corte de Luís XIV onde era uma honra participar nas intimidades reais, vamos ter "directos" com os jogadores da selecção a fazer cócó? Por amor de Deus.

Adenda: Até Marcelo está há dez minutos a falar apenas em futebol. Até "sugeriu" um livro do "cozinheiro da selecção". Bardamerda.

Adenda 2: Parece que o dr. Costa, da CML, recebeu a equipa de futebol do Sporting. Eu julgava que o dr. Costa era assim como que uma "reserva" do PS para quando o país se fartar de Sócrates. Sucede que o edil, sem dinheiro ou ideias, deu em receber toda a gente na CML. Há dias entregou as "chaves da cidade" ao inefável Barroso. Agora, a propósito de uma "taça de Portugal", franqueou a Câmara aos pupilos do extraordinário sr. Bento. Tivesse sido outro o resultado, o dr. Costa faria o mesmo ou Portugal é só Lisboa e, mais exactamente, um pedaço colorido do Campo Grande? Que tristeza.

A VIDA DE UM PARTIDO


A dra. Ferreira Leite está sempre a prometer que não atirará "a toalha ao chão". Desta vez respondia a Menezes que lhe asseverou, quando muito, um "terceiro lugar". Menezes, afinal, não consegue estar calado. Janta, sempre que pode, acompanhado para poder dizer umas baboseiras. Não é difícil imaginar o que tem sido o jogo dos caciques locais, das "concelhias", das "distritais", em suma, desse mundo sinistro que é a vida de um partido qualquer que ele seja. Somos governados, de há muito, por criaturas geradas por esta "estranha forma de vida". Não importa a origem. Fruto desta permanente e rasca "teoria da conspiração", o dirigente partidário não evoluiu muito desde o "rotativismo" e desde 1ª República. Atolado em lugares-comuns, rodeado de gente pouco recomendável, obrigado, se for caso disso, a fazer figuras tristes (até Manuela já disse não possuir vocação para "actriz" e Sócrates fumou escondido atrás de cortinas como um vulgar adolescente), o dirigente partidário só se "aguenta" enquanto a tartufagem - e se a tartufagem - permitir que ele se aguente. Menezes "atirou a toalha ao chão" provisoriamente. É a "massa" de que é feito que anda atrás dos seus putativos sucessores, mais umas quantas notabilidades irrelevantes em termos de votos internos. E tudo isto porque, depois, é preciso escolher deputados ou, no limite, um primeiro-ministro. A história recente mostra que, afinal, qualquer um serve. Não vale a pena tanto incómodo e tanto circo.

17.5.08

A CULTURA DA IRRELEVÂNCIA



«Não é só na economia que estamos a andar par atrás, é na cabeça. A cultura da irrelevância está a crescer exponencialmente e todos já esperam que o mesmo aconteça nos próximos meses, em que mais uma vez o país vai parar porque há um Campeonato. Na última semana, que é igual às últimas semanas, aos últimos meses, aos últimos anos, todos os telejornais em directo foram interrompidos, eu diria mais, foram enchidos, com sucessivas e extensas declarações em directo, sobre as decisões do Conselho Disciplinar da Liga com sanções sobre clubes e dirigentes desportivos, pelo seleccionador nacional anunciando o "plantel", pelo novel director de futebol do Benfica anunciando-se e anunciando umas medidas para o seu clube. A isto acrescenta-se o número de vezes em que quer o "serviço público", quer as privadas dão jogos em horário nobre, atirando as notícias para algures, como se em particular o "serviço público" não tivesse aí obrigações. A RTP é a televisão que mais falta a essas mesmas obrigações, que justificam a superioridade moral do "público" e que, pelos vistos, só serve para receber os muitos milhões que os contribuintes pagam. Mas não é só as vezes em que directos do futebol são o telejornal, é que durante três, quatro dias não nos conseguimos ver livres daquilo. Até aparecer outro directo mais saboroso, temos que assistir a "noticiários" que repetem ad nauseam as mesmas imagens, as mesmas declarações, seguidas por milhões de palavras "escalpelizando" os "factos", em tudo o que é programa de actualidade pela noite fora. O circo está montado na nossa cabeça e nele fazemos o papel do urso amestrado ou dos macaquinhos. Nem sequer o do palhaço pobre. O mundo agressivo e brutal do futebol, com a sua pedagogia de grosseria e violência, ordinário e vulgar, movimentando poderosos interesses políticos, nacionais, autárquicos e regionais, servindo uma economia paralela, que para nosso mal ainda é a única que funciona em muitos sítios, imerso em corrupção, não aflige nem preocupa ninguém. A começar pelos nossos deputados, que dão a caução institucional da Assembleia da República a um dirigente desportivo acabado de sancionar por "corrupção tentada" e que saía de uma acareação num tribunal. Políticos e dirigentes desportivos ajudam-se mutuamente para impulsionar carreiras políticas populistas que o mundo do futebol protege e apoia, e parecem a única coisa que verdadeiramente mexe em Portugal, junto com os negócios da "alta". Ainda um punhado de inocentes pensava que isso era uma pecha do salazarismo, quando meia dúzia de palavras e imagens de cinco minutos, no fim dos telejornais, passavam por ser um excesso e onde um filme como O Leão da Estrela se limita a descarregar sobre o tampo de uma mesa aquilo que hoje obriga a operações paramilitares de contenção de turbas violentas. Não, não andamos para a frente, andamos para trás, para o país chamado Futebolândia, para a futebolização plena da nossa vida pública. Mas não é só o futebol, é tudo o resto. É o mundo das telenovelas, com o seu sangue, suor e lágrimas, transformado em "casos", o caso Maddie, uma coisa abstracta e virtual, sem corpo real, já sem a violência do crime, já transformado numa soap opera de plástico, o caso Esmeralda, uma competição absurda à volta de uma menina imaterial, tão abstracta e morta na virtualidade como a "pequena Maddie", onde todos os dias uma inovação aparecida depois do caso Casa Pia, os "pedopsiquiatras", divulga relatórios que deviam ser confidenciais em tempo real, para movimentar as celebridades que vão beijar o sargento e demonizar o pobre pai que só é "biológico", com a justiça a claudicar perante a pressão dos tablóides em que se transformou muito daquilo que conhecíamos como "comunicação social". E depois o estendal dos acidentes e doenças. Os acidentes são hoje a única coisa que mobiliza directores de informação, pressionados pelo controlo de custos, a atirar a correr para Freixo de Espada à Cinta o "carro de exteriores" à compita com outros "carros de exteriores", para mostrarem camião virado ou, melhor ainda, um autocarro, ou, se andarem depressa, um ferido a ser desencarcerado, ou um morto na berma. E então se houver crianças feridas ou mortas, melhor ainda para as audiências. Depois há um stock de "notícias" para os intervalos do futebol, as reportagens sobre doenças, de preferência raras, de preferência com "casos humanos" apensos, de preferência com imagens fortes como a de um buraco feito por uma broca na cabeça, tudo interessantes matérias para prender o olho dos ouvintes no meio do jantar. Médicos, assistentes sociais, pedopsiquiatras ou pedopsicólogos, ex-polícias da Judiciária, são profissões com garantia de sucesso televisivo, como também astróloga, hortelão urbano, bruxa e ervanário popular explicando como a sua erva é mais eficaz do que o pau de Cabinda. A cultura da irrelevância está impante como nunca, espectáculo e pathos brilham no sítio que anteriormente ainda era frequentado, de vez em quando, pela razão, pelo bom senso, pela virtude. Esta é, obviamente, a melhor comunicação social, a melhor televisão para os governos, e o actual cuida bem que não lhe falte dinheiro para as suas quinhentas horas de futebol. Compreende-se: a bola não pensa, é para ser chutada.»

José Pacheco Pereira, in Público

DOIS IRREALISTAS


Há demasiado ressentimento nesta entrevista. Não se pode construir nada sobre o ressentimento. Há, sobretudo - e isso é o pior porque dá o "tom" da candidatura - um "tom" de vingança póstuma que costuma ser fatal. Em registos diferentes, Sócrates e ele estão muito próximos. São dois irrealistas.

UM ADEUS PORTUGUÊS


Nem tudo é mau com o acordo ortográfico destinado a "colonizar" a nossa língua. Por um lado, a deputação nacional mostrou, uma vez mais, a "fibra" de que é feita. Por outro, passa-se a ler mais em francês, espanhol, italiano e inglês. Não se perde grande coisa.

16.5.08

O ORNITORRINCO DOENTE


O folhetim em curso no PSD tem todos os ingredientes para acabar mal. Santana Lopes continua demasiado apaixonado por si próprio contra Ferreira Leite, contra o mundo, em geral, e contra Pacheco Pereira, em particular. Ferreira Leite, essa, nunca está apaixonada por coisa alguma, nem sequer pela sua própria candidatura que exibe pelo país com a melancolia da inevitabilidade. É, pois, Passos Coelho quem floresce por entre estes tristes jogos florais. Nem precisa, aliás, de se mexer muito apesar de já ir dizendo que prefere "não ter experiência governativa do que ter a má experiência governativa que o dr. Pedro Santana Lopes teve." Esta tirada dá, pelo menos, para mais uma semana de indignação do visado. Menezes já deu sinais mais do que suficientes do "sentido" que as suas tropas devem seguir. Passos Coelho, porém, tem um problema terrível para resolver se ganhar. Que fará com essa vitória de Pirro ameaçada, à partida, por uma cisão irremediável entre a "plebe" e a "aristocracia" e, dentro desta, pelas facadas com que vão decorar as costas uns dos outros? Não o invejo.

15.5.08

OUTRA RUÍNA

A convite do Pedro Correia, do Corta-Fitas, esta "reflexão" sobre o "estado do PSD". As "directas" de 31 de Maio não devem resolver nada de substancial. O PPD/PSD precisa "purgar" as duas "câmaras" que o têm vindo a minar. Se não for a bem, será a mal. No entanto, como na vida, às vezes há males que vêm por bem. Outra ruína.

DO PIOR

A economia. Outro assunto que não vem nas "fichas" preparadas para Sócrates. Sobretudo porque as "fichas" não são feitas lá fora. E porque a propaganda aprecia ignorar a realidade até ao limite. A economia, num lance, pode mudar tudo. Nunca há "fichas" preparadas para as coisas sérias. Quando se fizer o balanço da legislatura ver-se-á que o governo se limitou ao fogacho espectacular. Não temos a certeza que a mesma gente que, por junto, prometeu "novas oportunidades", cento e cinquenta mil empregos novos e índices de crescimento que a realidade teima em puxar para baixo possa "aguentar" as coisas. Mesmo descontando a apatia geral da pátria, não é possível retirar dos bolsos o que lá não está. Isto cria uma responsabilidade acrescida ao PSD que, manifestamente, não consta que navegue (ou venha a navegar a curto prazo) em condições de estar à altura dela. O mito socrático esfarelar-se-á à conta do ilusionismo dele e do "realismo" da vida, infinitamente mais rica, para melhor e para pior, do que a imaginação. Isto promete. Do pior.

14.5.08

MISÉRIAS

Esta "polémica" em torno das barracas da feira do livro - sim, porventura até é melhor que não abra face à lenta decadência - ainda obriga a alterar a toponímia do Parque Eduardo VII para Parque Lenine. O grupo LeYa comporta-se como o novo "regime único" no mundo editorial português e o dr. Costa, da CML, aproveita para poupar o que não tem, sonegando um subsídio qualquer. Misérias.

A LEI NÃO GERAL NEM ABSTRACTA

O governo dele aprova uma lei anti-tabágica fundamentalista que incomoda até os não fumadores. Ele, no entanto, desconhece o "âmbito" de aplicação da dita lei. Em suma, ignora que não se pode fumar em locais fechados tão óbvios como uma cabine de avião. Ele, aliás, "costumava" fumar em "viagens anteriores" que realizou com os mesmos ou com outros protagonistas. Desculpa-se e promete que, depois disto, vai deixar de fumar. Esqueceram-se manifestamente de lhe preparar esta "ficha".

PORTUGAL, UMA COLÓNIA ANGOLANA

É extraordinário observar a "reacção" do ainda porta-voz do PSD para as "questões internacionais" sobre Angola. E é ainda mais extraordinário reparar nas "dificuldades" do governo e do PS em defender Mário Soares contra os papagaios da cleptocracia de Eduardo dos Santos. Soares não é exactamente santo, mas nunca, enquanto presidente, manifestou qualquer tipo de temor reverencial por aquela ditadura "democrática". O pragmatismo cortesão e interesseiro que rege as bizarras relações com Angola é uma "história" para sempre mal contada. Martins da Cruz foi um medíocre ministro dos negócios estrangeiros que saiu pela porta traseira do governo de Barroso. Tem-se, porém, em grande conta, como é típico nestas criaturas embotadas. A varrer depois da pseudo-arrumação de 31 de Maio.

A GLÓRIA DA SEMANA

13.5.08

A CHANCELER, O SARGENTÃO E O FUMADOR CLANDESTINO

Nem o sargentão venezuelano nos livra do 15º aumento dos combustíveis este ano. Depois de ter andado seis meses aos beijinhos com a chanceler Merkl, espera-se que, ao menos, Sócrates tenha a coragem pública de defender a honra da parceira em Caracas. É o mínimo que se lhe pode exigir já que não levou o dr. Nunes, da ASAE, no avião para partilhar com ele a dissimulação.

«MUDANÇA»


A Constança Cunha e Sá, no programa Cartas na Mesa, da TVI, entrevistou D. Jorge Ortiga, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e Bispo de Braga. Tratou-se de uma entrevista bem preparada em que D. Jorge procurou não ser politicamente incorrecto, isto é, onde deu a entender que a Igreja está aberta à "mudança" sem prejuízo da "doutrina". D. Jorge deseja uma laicidade que aceite as diferenças - "inclusiva" - e que rejeita, como lhe compete, o puro laicismo. Pura ilusão. À laicidade puxa-lhe, sempre que pode, o pé para o jacobinismo. A história, a remota e a presente, não evidencia outra coisa. Falar em "mudança", neste mundo sem Cristo, é ajudar à festa. Ratzinger não se cansa de repetir duas coisas. A primeira, que a Igreja não faz proselitismo. A segunda, que deve estar preparada para "viver" em minoria. É a esta "mudança" que a Igreja portuguesa deve atender. Não há outra.

ESTAR POR TUDO


O bom do eng. Sócrates vai à Venezuela com uma vetusta comitiva de empresários, mais o dr. Pinho e o eng. Lino. Só falta o dr. Mário Soares. Recorde-se que foi ele quem "abriu" as portas ao negócio do regime de Chávez com a GALP e tem sido ele, nos seus artigos e "charlas" pedagógicos, quem mais tem feito, por cá, pela "imagem" do grande democrata venezuelano. O tal que, pouco tempo após as recomendações de Soares, se referia à sua derrota em referendo nacional como uma "vitória de merda" dos outros. Sócrates olha para a Venezuela como uma oportunidade de negócio e Chávez olha para nós com aquela comiseração balofa de quem vive de escoar petróleo um pouco por todo o lado. Sócrates, mal ou bem, vem do ocidente e da Europa dos "direitos humanos", ex-colonizadora da América latina que, nas suas contradições e com a sua expansão, produziu criaturas como o presidente venezuelano. Negociar com ressabiados para quem a humanidade e a singularidade de cada homem contam pouco, a bem do pragmatismo universal em vigor, não diminui seguramente o sargentão. Chávez, achará Sócrates, vale bem uns barris de petróleo. Estamos por tudo.

12.5.08

CAVACO E A JUVENTUDE


O Doutor Cavaco Silva convidou trinta "jovens" para Belém. O objectivo consistia em discutir a "juventude e a política". Foram os do costume, em mais "novo". Dos partidos, das "associações", do "conselho nacional de juventude". Muito patrioticamente parece que os jovens não gostam da política. Segundo o famoso estudo da Católica, apresentado pelo Pedro Magalhães, sessenta e cinco por cento dos interrogados "interessam-se pouco" pela política. Pelo contrário, Cavaco "interessa-se" por que eles se "interessem" uma vez que, como lhes explicou, «contactou com milhares de jovens, enquanto Primeiro-Ministro, Presidente da República e como professor universitário», considerando «o interesse da juventude nos assuntos políticos e cívicos de "muita relevância" para o futuro do país.» Cavaco não é homem para ter dito isto e rir-se de seguida. Devia. Com os exemplos que temos, alguns dos quais ele ajudou a florescer - veja-se a presente trapalhada no PSD ou o magnífico Durão Barroso - e outros - a ficção "socrática"- a manter, é difícil sugerir à juventude que atribua um módico de "relevância" à coisa pública. E, muito menos, através do bando que o foi ouvir, presumivelmente cheio dos vícios do regime. Eles que leiam filosofia que aprendem mais.

A MINHA "AGENDA"


Um leitor acusa-me de ser inconsistente, parvo e de "ter uma agenda" nesta coisa do PSD. Presumo que é por eu não acompanhar a aventura da dra. Leite. Para seu esclarecimento, "acompanhei" a dra. Ferreira Leite quando foi presidente da distrital de Lisboa num remoto lugar na assembleia metropolitana (AML, acho que era assim que se chamava). Fui a uma única reunião - quando Marcelo saiu - e jurei para nunca mais. Nunca achei particular "brilho" político à dra. Leite, embora lhe reconheça qualidades que me agradam no mando. A chefia do grupo parlamentar e as hesitações fatais nas vésperas da eleição directa que escolheu Menezes chegaram para perceber que as qualidades não superam as falhas. Politicamente, Manuela Ferreira Leite nem sequer chega a ser um mito. De resto, não tenho agenda para isto porque deixei de ser militante em 2004. Como escrevi, só regressaria através do PSD-Madeira. Se isto for uma agenda...

11.5.08

OBVIAMENTE

«Votou Santana Lopes em 2005?», perguntou o Jornal de Notícias a Manuela Ferreira Leite. A senhora, carregada de subtileza e tacto políticos, respondeu assim: "obviamente que não lhe respondo." Não é o "não lhe respondo" que me incomoda. É o "obviamente". Ferreira Leite, a cada dia que passa, torna-se uma óbvia má candidata ao que quer que seja. E o país já está cheio de estátuas.

CONTRA OS PROCESSADORES DE DADOS


Vitorino Magalhães Godinho concedeu uma entrevista ao Expresso. Lamento ler nela - em papel porque não tenho acesso à totalidade, na net - não tanto as palavras do historiador mas a "leitura" das palavras de Magalhães Godinho conforme foi feita pelos entrevistadores. Godinho está à beira dos noventa com a mesma lucidez dos trinta ou dos quarenta. É discutível como toda a gente que pensa deve ser. Pena que os mais novos não possam - ou não queiram - usufruir do seu ensino, traduzido, felizmente, em livros de entre os quais se reeditou "A expansão quatrocentista portuguesa" (Dom Quixote). A nossa pobre "classe política", se lesse um livrinho seu intitulado " A Estrutura da Antiga Sociedade Portuguesa" (Arcádia), não seria certamente tão despropositada e vazia. Ninguém, aliás, devia ser "admitido" na política sem saber história. «Não estamos numa sociedade de pensamento, mas apenas de acumulação de dados», disse Godinho ao Expresso. É nisto que estamos, pastoreados por meros processadores de dados. Nada mais.

POPULISMOS


Na luta pela liderança do PSD, há dois termos recorrentes: Sá Carneiro e "populismo". Todos se reclamam da "herança" de Sá Carneiro e da necessidade de "restaurar" a sua "tradição". E alguns socorrem-se do seu nome contra o "populismo". Acontece que, aos olhos de muito do "baronato" que hoje apoia Ferreira Leite, Sá Carneiro, entre 74 e 80 - altura em que a vitória da AD o tornou "respeitável" - era um "populista". E perigoso. Ferreira Leite pode sempre perguntar a Vasco Graça Moura, a Barbosa de Melo ou a Rui Machete, por exemplo, o que é que pensavam, na altura, de Sá Carneiro. Mais. Ferreira Leite, falando aos "jovens" da "jota", advertiu-os de que os "a ideia de que se tem um canudo estilo engenheiro Sócrates, que dá para tudo, já não serve." Se a candidata acha que as habilitações académicas do primeiro-ministro e respectiva verosimilhança são coisas para serem escrutinadas politicamente (e são), discuta-as a sério. A referência a "um canudo estilo engenheiro Sócrates" é puro "populismo", como um seu qualquer apoiante "anti-populista" lhe pode facilmente explicar.

O "FUTEBOLÊS"

Alguns comentários ao post anterior pressupõem, erradamente, que eu possuo uma "posição" futebolística. Porventura por viver em Lisboa. Não possuo. Detesto - reparem no verbo - futebol. Não pela coisa em si, mas pelo que dela fizeram. Jogos de bola todos os dias, a qualquer pretexto, vindos de qualquer parte do mundo, cansa. Não tarda e teremos de gramar jogos de bairro entre garotada porque os outros se esgotaram. Para além disso, o "futebolês", tratado de igual para igual com golpes de estado ou eleições nos nossos media, é mais uma manifestação da nossa irremediável iliteracia, do nosso congénito primitivismo. Lá fora também é assim? É. E pior. Todavia, "lá fora" (penso sobretudo na Europa nossa "companheira") há muita coisa que funciona e, até, ressuma geralmente a democracia. Aqui não. Até prova em contrário, toda a gente é inocente enquanto não houver uma decisão terminal, ou seja, da qual já não é mais possível recorrer. Tudo o resto, esta discussão imbecil que distrai o país de si mesmo (o país, na sua alegre inconsciência, e Sócrates, na sua sisuda consciência, agradecem) apenas entretém como um carrocel mágico. Nem sequer faltam as alimárias. De carne e osso.

10.5.08

O MUNDO TROPICAL DA BOLA


Elucidativa do "estado" do respectivo "mundo" é a circunstância de o presidente da liga de futebol, o sr. Hermínio Loureiro, ter sido "aconselhado" a não sair de casa. Por maioria de razão, presume-se que o presidente da comissão disciplinar da dita liga já esteja fora do país. Por que será que, sempre que se entra no insondável "mundo da bola" - que se confunde com o regime, oscilando entre milhões e miséria, e onde não existe um respeitável político ou comentador que o não frequente - fica-se com uma sensação centro-africana ou latino-americana? Por que será?

9.5.08

FIGURAS "CHAVE NA MÃO"



Se bem entendi, a "chave" da cidade de Lisboa só foi entregue, recentemente, a três portugueses, a saber, Carlos Lopes, Saramago e Durão Barroso. Lopes é um bom homem que não merecia tão tristes companhias. Já Sócrates e Barroso, "companheiros" ou "camaradas", merecem-se um ao outro. E Costa, como não tem, por enquanto, mais nada para dar, vai fazendo esta pobre figura camarária. Foi para isto que caíram Carmona e Marques Mendes?

MANUELA, A VERDADEIRA

Manuela Moura Guedes volta logo ao Jornal Nacional da TVI. Livre, espera-se, como sempre.

Adenda: Escusam de perder tempo a enviar "comentários" - anónimos ou assinados - a insultar a jornalista a exemplo, aliás, da mediocridade e da insignificância a que alude Pulido Valente na crónica do Público. Não passa um.

A FALA DE UM MILITANTE DE BASE

Vale a pena ler esta inteligente entrevista de um "militante de base" que apoia Ferreira Leite. Ao lê-la, percebe-se por que é que a candidata se "exprime" politicamente através de "militantes de base" como este e não tanto por ela mesma. Ela é mais "contas" e o substantivo abstracto "credibilidade" do que qualquer outra coisa. Não sei se chega para os outros "militantes de base".

PEDRO, O OUTRO, NA NET


Pedro Santana Lopes na net: sítio da candidatura e blogue do candidato. Sugestão: "abra" o blogue a textos de terceiros.

O CANDIDATO ESCORREITO

Passos Coelho, o "jovem" que julga que o "futuro é agora", recebeu o apoio do sr. Ruas, eterno presidente da Câmara de Viseu e chefe da banda autárquica nacional. Ruas justificou-se com o "passado escorreito" do "jovem" Passos Coelho, provavelmente recordado dos anos de pastorícia da JSD e da intermitente vice-presidência com Marques Mendes. Tudo somado, foi de pequenino que Passos Coelho aprendeu a intrigar como compete a um "jovem" com esta ambição. "Escorreito" era um termo muito caro a Menezes. Usou-o em Belém, quando se despediu de Cavaco, e antes, contra Sócrates, falara numa "democracia escorreita", fosse lá isso o que fosse. O sr. Ruas descobriu agora em Passos Coelho o candidato "escorreito", isto é, o candidato "menezista". Este rapaz vai longe.

IRISH COFFEE

Durão Barroso, tipicamente, já anda a "advertir" o povo irlandês quanto às consequências de o referendo ao tratado de Lisboa não ter o desfecho desejado e inicialmente "previsto". Afinal, as favas podem não estar todas contadas. É bem feito.

NÃO SE PODE TER TUDO


Cavaco Silva pratica hoje o acto mais lamentável do seu mandato ao promulgar a lei da AR que aprova o tratado de Lisboa. Não se pode ter tudo.

8.5.08

MANUELA NO DIVÃ

Filipe Nunes Vicente, no seu blogue, tem feito mais pela candidatura da dra. Ferreira Leite do que todas as notabilidades juntas que a sustentam alguma vez farão. "Feito", quer dizer: mostrar aos (e)leitores por que é que ela pode ser uma boa candidata a chefe de governo e simultaneamente uma péssima candidata para consumo interno.

«MAL VISTO»

Este magistrado, por acaso, é casado com uma conhecida minha. Não é tagarela e, talvez por isso, é mais "verdadeiro". Ao dizer o que diz, resume, com candura, o que os outros pensam mas disfarçam sob o manto diáfano da retórica corporativa: "se eu ficasse, seria mal visto pelos meus colegas do Ministério Público.» Não lhes ocorre que, sendo o MP titular da acção penal, talvez seja mais adequado que a investigação decorra sob a supervisão da PGR e não com a PGR, através do director-geral ou dos directores-adjuntos da PJ, metidos nela. Os mais recentes exemplos de "envolvimento" directo do magistrado director-geral da PJ em investigações em curso foram suficientemente desastrosos para que se lhes recomende, finalmente, alguma discrição.

7.5.08

FINALMENTE...

Uma boa notícia.

UM PROGRAMA

Para a dra. Ferreira Leite, as questões são "complexas". Isto é, de facto, todo um programa.

O POLÍCIA


Os senhores magistrados não gostam de polícias. Precisam deles, mas não gostam. A escolha de um profissional da investigação criminal para chefiar a PJ é, em conformidade com esta "doutrina", uma "ofensa". O polícia é licenciado em direito, logo presume-se que sabe quem é que é responsável pela acção penal e que, por aí, não virá mal ao mundo. A PJ teve, nos últimos anos, apenas directores oriundos das duas magistraturas. Se tivesse corrido bem, ainda hoje lá estaria um. Os sindicatos dos senhores magistrados deviam meditar nesta evidência antes de atirarem as pedras da sua habitual sobranceria para cima do polícia. Deixem o homem trabalhar.

PERSONAGEM DE FICÇÃO

Ana Jorge - uma ministra da saúde com ar de quem saiu de um romance de Alphonse Daudet - foi a uma comissão parlamentar verberar o protocolo estabelecido entre a ADSE e o Hospital da Luz. Segundo a senhora, o investimento que esse protocolo representa devia ter sido "canalizado" para o serviço público de saúde e, por isso, "lamenta-o". A dra. Jorge recorda aqueles velhos militantes da velhíssima esquerda socialista que possuem uma visão meramente retórica da realidade que supõem poder mudar a partir do Estado. Imagina um SNS simultaneamente "abrilista", auto-suficiente e eficiente em condições de concorrer, confiadamente, com outros. É, de facto, uma personagem de ficção.


Adenda: Este post clarificador de Eduardo Pitta. «Os beneficiários da ADSE, para beneficiar dela, pagam. Enquanto a generalidade dos trabalhadores desconta para ter acesso ao Serviço Nacional de Saúde, os funcionários públicos fazem esse desconto e ainda outro para a ADSE. Os aposentados até descontam 14 vezes por ano, uma vez que (no seu caso) o desconto incide igualmente nos subsídios de férias e de Natal. Num país com 700 mil funcionários públicos, acaso passou pela cabeça da ministra o que seria toda essa gente a entupir os hospitais públicos? No dia em que a ADSE deixar de ter acordos com unidades privadas, terão de cessar os respectivos descontos.»

VIM, VI MAS AINDA NÃO VENCI - 3

"Câmara dos Lordes dot com"

6.5.08

«PARA QUE SERVE O PSD?»*

«A questão é muito simples. Neste momento, para que serve o PSD? É um Partido que tem de ganhar as eleições nacionais de 2009, para mudar Portugal e o Sistema político? Ou apenas se deve remeter à sua normal institucionalização como Partido, para servir o Sistema, e para deixar tudo mais ou menos como está, incluso Sócrates e uma certa subserviência a Bruxelas? Mas, para além de estas questões terem que ser decididas de uma vez por todas, antecedem-nas outras. Quem tem de resolver a questão? As Bases do Partido e os seus Dirigentes patriotas, os que militam com os olhos postos no Povo e no futuro do Estado? Ou apenas os barões e os baronetes que se apropriaram do Partido e que, nos respectivos narcisismos, estão indiferentes ao futuro dos Portugueses e do Estado, apenas querem dirimir os seus ajustes de contas pessoais e sustentar um Sistema que os faz gente, mesmo que deixando o poder aos socialistas? E quem tem de pensar tudo isto, bem fundo, e decidir? As Bases e os Dirigentes patriotas, no seu íntimo e na sua força do voto secreto? Ou as Bases e os Dirigentes patriotas se deixarem arregimentar pelos grupos e grupelhos dos barões e baronetes? As Bases e os Dirigente patriotas se deixarem orientar por uma comunicação social de “esquerda”, como já sucede há muito tempo, e por “comentadores” afectos ao Sistema e neste pagos, sendo assim o Partido Social Democrata orientado e condicionado de fora para dentro? Quem, errados, vem seguindo o “politicamente correcto” que definha o País, estagna o Sistema e anula a força que o Partido Social Democrata pode ter? Ou não será tempo de, sem medos e pudores, voltar aos caminhos de vitória e de dinâmica nacional, combatendo e denunciando as ideias-feitas que os agentes do Sistema instalado, há tanto tempo sistematicamente nos enfiam? Tudo isto que, agora, decorre no Partido Social Democrata, é o cúmulo! É uma fragmentação balcanizada, em que os barões e baronetes tudo fazem para impedir a unidade do Partido, um Partido forte, a uma só voz. É o derrotismo de não ter por objectivo ganhar as eleições de 2009, avançando candidatos que se sabe nenhum deles ter condições, presentes ou de passado, para vencer Sócrates e os socialistas. É a negação da própria Ideologia do Partido, na colagem deste ao Sistema político caduco e na obstaculização de todos quantos pretendam alterar, DE FUNDO, a situação em que Portugal está mergulhado. É a falta de Sentido de Estado. Afinal, foi para isto que se fez o Partido Social Democrata? Foi para isto que tanto Militante anónimo lutou, teve esperança, encheu o peito com fervor patriótico e, na sua opção de Serviço ao País, tantas vezes muito arriscou, sofreu, batalhou? Basta!Isto não pode continuar assim!Mas também não estejam à espera de D. Sebastião ou de D. Quixote. Porque, hoje, ninguém vai levianamente para batalhas, ou faz do “cavaleiro da triste figura” que olha para trás, vê gente a abanar a cabeça que sim, mas que não se mexe e se deixa embalar, tipo paixão futebolística, pelas diversas equipas dos barões e dos baronetes que só lutam para não descer de divisão. O Partido Social Democrata tem um Património de Valores e um potencial de Vontades que pode mudar Portugal. Mas, para mudar Portugal, obviamente que tem de derrotar Sócrates e os socialistas, em 2009. E, antes, já em Outubro deste ano, tem o azar, num clima destes, das dificílimas eleições regionais nos Açores, obstáculo complicadíssimo. Para derrotar Sócrates, é necessário um líder que ganhe o apoio da maioria dos Portugueses com sede de Esperança, e não quem apenas se satisfaça em ganhar o Partido, sabendo-se que não ganha as eleições nacionais. Para derrotar Sócrates, é necessário refundar a Aliança Democrática, mobilizando e unindo todos os Portugueses que não são militantes socialistas, nem comunistas. As Bases e os Dirigentes patriotas do PSD, agora, no actual momento, recorrendo à discrição do voto individual e secreto que não dá satisfações a quem quer que seja, é que têm de decidir, desde já, se querem uma autêntica Revolução no Partido. Se querem deixar de ser manipulados pelos instalados no Sistema. Quer dentro, quer de fora do Partido Social Democrata. A se manter este quadro negativo, é legítimo perguntar: para que serve o PSD?!…Para sustentar este Sistema?… A culpa é de… QUEM?!…»


*artigo de Alberto João Jardim publicado no Jornal da Madeira

CARAS

A dra. Ferreira Leite recebeu ontem, "emocionada", o apoio de Barbosa de Melo, um respeitável ancião que foi presidente da AR e que o país, muito justamente, ignora. Vai também "jantar" com o dr. Balsemão, o "número um", que costuma ornamentar qualquer mesa de qualquer presidente ou putativo presidente do partido. E diz a dra. Leite que a coisa não é um problema de "caras". Depois de uma entrevista sem qualquer interesse dada ao Expresso, da parte desta candidata só lhe conhecemos as "caras". As do costume.

A PRÓXIMA VÍTIMA


O dr. Alípio, da PJ, vai-se embora. Tratava por "tu" o dr. Costa, ministro da justiça que, mais uma vez, cometeu um erro de casting. Não lhe serviu para nada. Não percebeu que, em certos cargos, a discrição é fundamental. Quando a violam, é bom que saibam medir o que dizem. Alípio, pelo contrário, foi avulso e vulgar. A corporação - outra com um sindicato poderosíssimo - não esteve com ele. E a gestão do insuportável caso "Maddie" foi-lhe fatal. Santos Cabral, uma escolha de Santana Lopes, nunca devia ter saído. Chega, em breve, a próxima vítima.

5.5.08

PARA VARIAR

As televisões mostraram o chefe do governo metido num fato laboratorial azul que só deixava ver os olhinhos. Ele e o dr. Pinho foram anunciar mais um investimento que, se bem percebi, tem a ver com a energia solar. Perto desse investimento anunciado - vamos ver quantas mais vezes ele vai ser "anunciado" - estão fábricas desertificadas ou a caminho disso. Também consta que vem aí fome em sentido próprio, uma coisa que a banda larga, por mais que se esprema, não resolve. As "circunstâncias ocorrentes", termo caro ao Doutor Salazar, não prometem nada de bom. Toda esta parafernália de investimentos anunciados e reanunciados podem, pura e simplesmente, dar em nada. E pode perfeitamente dar-se o caso de uma coisa tão trivial como colocar uma cesta de pão na mesa vir a revelar-se um pesadelo. Os candidatos do PSD também deviam pensar nisto. Para variar.

OS DONOS


Parece que o café "A Brasileira", do Porto, à Sá da Bandeira, vai fechar. O edifício foi adquirido por um banco - de que porção de Portugal ou de que português não é dono um banco qualquer? - que não se entende com o arrendatário. Os bancos, cujas administrações praticam transumância com as direcções dos partidos e vice-versa, têm-se revelado altamente prejudiciais à qualidade de vida. "A Brasileira" era o meu "poiso" preferido para almoçar quando ia ao Porto. Sozinho ou acompanhado, foi à mesa ou ao balcão que ruminei, entre outras, conversas tidas ou a ter com personagens da cidade como Manoel de Oliveira ou Agustina. Nessa altura, ainda era vivo como o café. Daqui faço votos para que não vença, uma vez mais, a cupidez, o outro nome da estupidez rapace.