30.9.07

UMA DESGRAÇA

No meu "antigamente da vida", por sinal bastante recente, ouvir o dr. Mário Soares costumava ser um bálsamo. Agora, é uma pena. Nas suas próprias palavras, "uma desgraça".

OS LUSÍADAS

O Miguel, do Combustões, está seguramente mais feliz do que qualquer um de nós. Largou esta choldra mas, as últimas linhas, fazem supor que tenciona continuar a escrever de mais distantes paragens. Precisamos mais de gente como ele do que da bovina que fica. Que fica, que manda e que obedece. Have a nice day, Miguel.

29.9.07

TONTINHA

A ministra da cultura dá uma entrevista ao Expresso, por entre comes e bebes. Por si só, o texto é concludente no que respeita à inutilidade de um ministro da cultura, esta mulher ou outro ou outra qualquer. Pires de Lima, ainda por cima universitária, é o arrivismo pedante e irrelevante em pessoa. Berardo e Mega? Entendam-se, mas "com certeza" que, se alguém tiver de sair, sai Mega. Pinamonti? Aspectos "positivos", mas com muitas insuficiências, como se ela percebesse alguma coisa de ópera. O "marxismo" ainda é um modelo de "análise" com aspectos "interessantes" que a ela não lhe passa pela cabeça colocar na gaveta. Finalmente, ela acha que veio para ficar porque sim (num exercício risível de auto-avaliação narcísica). Depois de lidos aqueles penosos parágrafos, é caso para perguntar se a ministra tem cabeça.

MENEZES

O dr. Menezes é o novo presidente, eleito pelos militantes, do PSD. Se assim foi, é porque ele os merece e eles merecem-no. Daqui para diante o que interessa é seguir os seus passos contra o Estado totalitário do absolutismo socialista com as habituais cumplicidades da direita oportunista e "interesseira". Marques Mendes sabe, porque anda nisto desde o bibe, que não existe gratidão em política. Será, como sempre foi no passado, exemplar e leal com os novos e precários poderes dentro do partido. As "elites", as eternas "elites" do PSD fariam bem em meditar nesta vitória da "feira do relógio" sobre a "loja das meias". Cavaco Silva, o "noivo" de Sócrates, também. No meio disto tudo (do "tudo doido") pode ser que Santana Lopes aceite ser líder parlamentar como aqui já defendi. Afinal, foram "os seus" que ganharam. Agora não tem desculpa para ficar a ver passar os comboios.

28.9.07

O AMIGO DOS GORILAS

Entre o sr. Mugabe e o sr. Brown, que venha o sr. Mugabe, opinou o dr. Mário Soares cujo desvelo tardio por ditadores lhe andava a faltar no seu vasto currículo político. Depois de Chávez, Mugabe. O importante, diz Soares, é a cimeira Europa-África mesmo que a insignificante Grã-Bretanha a ignore. Está tudo efectivamente doido, como dizia o outro.

27.9.07

O CABEÇA DE TURCO


«Pedro Santana Lopes - o "trapalhão", o "bon vivant", o "Casanova" - deu ontem uma tremenda lição a um país habituado à micro-tirania do jornalismo de Cloaca Maxima a que se reduz a generalidade dos órgãos de comunicação desta terra entregue às fúrias do futebol, dos escandaletes sexuais e das vedetinhas tontas do "comentarismo" desmiolado. Cansado e enfadado pelo frenesi que rodeou a chegada de um treinador de gladiadores contemporâneos, levantou-se e deixou os estúdios. Uma lição para os politiqueiros medíocres e de cócoras perante a má educação e semi-analfabetismo de jornalistas impunes, arrogantes e nulos. Parabéns àquele que foi, há pouco mais de dois anos, o cabeça de Turco desta selvageria em que se precipitou a imprensa portuguesa. Quando o PSD comatoso se esgota numa luta entre dois anões, Santana Lopes, com tão desabrido gesto, faz calar a escória que não cansou enquanto o não defenestrou, traiu e enlameou.»

Miguel Castelo-Branco, in Combustões

ESTABELECER AS DIFERENÇAS IRREDUTÍVEIS


A lembrança de Jorge Borges de Macedo e a recordação da (nas palavras do próprio) sua voz de "baixo profundo", fez-me voltar aos seus livros, aos seus ensaios e às suas "entradas" na Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura e no Dicionário de História de Portugal dirigido por Joel Serrão, ambos comprados, em devido tempo, a prestações. Tal como foi feito pela Sá da Costa com as principais "entradas" de Vitorino Magalhães Godinho no Dicionário, talvez não fosse má ideia coligir as de Borges de Macedo e editá-las em livro. Mais do que nunca, o seu magistério está vivo. Quando olho à minha volta, para o meu desgraçado país entregue ao anti-escol e a umas miseráveis elites autofágicas que pululam no Estado, nas universidades, nos "media", na sociedade e nos partidos, não me canso das palavras sensatas e cruelmente lúcidas do Mestre, sempre favorável à ruptura dinâmica e responsável. "A História como domínio irredutível do concreto responsável, obrigado por finalidade e definição do seu próprio objecto, ao campo do realmente acontecido, constitui, ao lado da arte e da vivência, a única forma científica e alternativa de, recriando o real, enfrentar o espírito de sistema e de ensinar a estabelecer as diferenças irredutíveis."

A DERROTA DO PENSAMENTO - 2

O senhor Costa, jornalista típico deste regime e meio irmão do "número dois" do dito regime, reagiu assim ao episódio Mourinho/Santana Lopes. Para além disso, foi a uma rádio queixar-se. Estes mandarins andam a precisar de umas boas bengaladas "à século XIX". De que é que estamos à espera para lhas dar independentemente do episódio?

A DERROTA DO PENSAMENTO

O episódio Pedro Santana Lopes/SIC Notícias, com o sr. Mourinho e as suas malas pelo meio por causa dos "critérios editoriais", é apenas mais um episódio da derrota do pensamento em curso, aqui e um pouco por todo o mundo. Na Polónia, por exemplo, umas putas quaisquer concorrem à eleição, com o aplauso da Europa bruxelense, e qualquer dia ainda "descobrem" que os gémeos, afinal, eram artistas de circo e nunca foram eleitos. Nos EUA, riram-se às escâncaras do presidente do Irão, um pequeno louco perigoso, sem medirem as consequências do gesto e até ao dia em que apanharem com um míssil dele nos cornos. Tudo serve para acentuar a infantilização assassina que nos assola como uma praga a partir do Estado, do mundo, dos "media" e da "sociedade civil". Antes de Santana Lopes, a jornalista Lourenço - se fosse comigo tinha levado uma bofetada em directo naquele focinho aparvalhado - entrevistara dois paquidermes que jogam râguebi, de cujas boquinhas só brotaram disparates e banalidades. Já não se trata de o mundo estar simplesmente perigoso, oco, mal frequentado e insuportável. Trata-se de vivermos dentro de uma sociedade global de cretinos e de não sabermos como nos vermos livres deles.

26.9.07

DEMOCRACIA MERDIÁTICA

Pedro Santana Lopes - que sempre foi primeiro-ministro nesta treta de democracia - mandou delicadamente à merda uma jornalista que o estava a entrevistar na SIC Notícias. A senhora interrompeu a entrevista para um "directo" da chegada de Mourinho à Portela. Quando voltou ao PSD, Lopes deixou-a a falar sozinha e foi-se embora. Há limites para tudo - devia haver - nesta palhaçada desta democracia "mediática". Mais "merdiática" que mediática em que políticos, jornalistas e comentadores estão muito bem uns para os outros. Chapeau, Pedro.

A SANTINHA

Ferreira Leite é uma pessoa séria? É. É uma razoável economista? Parece que sim. É uma grande política? Não é. Esfíngica e sempre cercada por gente estranha dos corredores do PSD, Manuela é agora o derradeiro reduto do histérico Menezes e dos seus peões de brega. Razão tem Carrilho. O país precisa de uma "nova república". Não precisa de santos nem de santas da ladeira.

25.9.07

VIDA DOS MORTAIS - 8

Precisamos, cada vez mais, de gestos grandiosos e últimos como este.

RESVALAR PARA A IRRELEVÂNCIA


Manuel Maria Carrilho - que gostava, um dia, poder ser secretário-geral do PS mas que falhou o encontro com o "povo" em Lisboa - tem vindo a produzir no Diário de Notícias textos de reflexão política interessantes. O primeiro dizia respeito ao tema da implosão partidária, a pensar no PS eucalíptico de Sócrates, mas podia perfeitamente servir para o PSD. Como é que um partido que obteve as maiores "maiorias" da história destes anos democráticos pode ter chegado a este patamar de indignidade, de incivilidade e de falta de decoro que o empurra perigosamente para a irrelevância? Tudo começou com a debandada de Barroso - Sarmento escusa de vir dizer que "isto começa a ser mau demais" porque ele não é melhor -, prosseguiu com o "momento" Lopes e continua com o "debate" em torno da intendência. Mendes é o que é, mas é, de longe, preferível ao circense Menezes. A direita - pelo menos aquela que se revê nesta democracia o que é cada vez menos o meu caso - tem razões para estar preocupada.

JORGE BORGES DE MACEDO


Hoje, na Casa Fernando Pessoa, homenageia-se Jorge Borges de Macedo. Foi meu professor de história diplomática de Portugal no último ano de direito. Era um scholar verdadeiro, dos últimos. Tinha, felizmente, mau feitio e foi das poucas pessoas que intelectualmente respeitei. Aprendi muita coisa com Borges de Macedo e seguramente a "diplomática" foi a menos relevante de todas. Tinha uma história pessoal curiosa, do PC para a direita. Meteu, com Piteira Santos, Soares no PC dos bons velhos tempos em que não havia mais nada contra Salazar. Dezenas de anos depois, em 86, deu-lhe um forte abraço junto à estátua do Camões no dia em que Soares foi PR pela primeira vez. Estão aí os seus livros - não muitos como é próprio de quem não é um tagarela da história como tantos televisivos do regime - para comprovar a sua erudição e a sua meticulosa e séria abordagem das coisas. É fundamental para se "perceber" o Marquês de Pombal e o seu tempo, por exemplo. Já não se fabrica gente desta.

24.9.07

ANTI-FASCISMOS

José Medeiros Ferreira, não leve a mal, mas como é que se passam esses "atestados" de anti-fascismo? E a quem? Há dias o regime passou um, com efeitos retroactivos e majestáticos, ao Aquilino Ribeiro que era, aliás, o que lhe estava a fazer mais falta depois de morto. E tem passado bastantes a vários deputados e a outras luminárias que o têm servido. Pensão completa, meia-pensão e pequeno-almoço. Basta consultar o Diário da República de vez em quando para perceber como brotam pensões "democráticas" como botões de rosa. Dado o decurso do tempo, talvez se possa aferir a coisa pelo desvelo por anti-fascistas vivos como o presidente venezuelano, a nova estrela no firmamento desse Matusalém do anti-fascismo nacional que é o dr. Mário Soares. Um Estado que não tem dinheiro para pagar aos que o serviram aqui e além-mar terá dinheiro para "agradecer" a não se sabe bem a quem e o quê?

VIDA DOS MORTAIS - 7

«Se não ficares hipócrita, talvez venhas a ser um homem.» Padre Blanés a Fabrício del Dongo.

23.9.07

DOMINGO, MALDITO DOMINGO


Ninguém larga o carro. Ninguém. Não há mancebo ou menina que se preze que não exija ao pai um carro aos dezoito anos. Eu vivi bem sem um quase até aos trinta. Depois inventam-se semanas de mobilidade, dias sem carros e tretas em cima de bicicletas para fingir alegria e saúde. Há dias, na Praça do Comércio que o dr. Costa decidiu demagogica e inutilmente fechar aos domingos, um desses adeptos da saúde e da bicicleta morreu de enfarte mesmo nas barbas do dr. Costa armado em desportista de ocasião. A saúde e a felicidade não se decretam. Nem tão pouco a redução do uso do carro. Ao lado destes esforços, o caos persiste indiferente ao voluntarismo folclórico da política e dos homens e mulheres do fato de treino. We are the world, we are the children.

RUÍDOS

Isto é muito bonito. Com certeza que é. O dr. Portas acha que Sócrates tem medo dele e que ele, dr. Portas, tem uma "missão a cumprir"? Faz bem em achar e em ter. Acontece que o dr. Portas já teve ocasião, num breve intervalo entre dois governos PS, de demonstrar como é que podia "cumprir" a sua "missão". Foi leal, é verdade, e não teve culpa dos desmandos do PSD. Depois estragou tudo quando a pulsão foi mais forte que a razão. Portas não fez o luto. Deixou os seus medíocres lugares-tenentes a minar o terreno a Ribeiro e Castro. E, assim que pôde, voltou ao local do crime. Portas sonha "entalar" um Sócrates em maioria relativa daqui a dois anos. A sua especialidade é "encavalitar-se". Aconteceu com Barroso e Lopes, e pode acontecer com Sócrates. A retórica oposicionista é isso mesmo, uma retórica. As "elites" da direita precisam ser mudadas de alto a baixo. Vejo os mesmos de volta de Portas. Vejo os mesmos de volta de Mendes. E vejo os mesmos, em pior, de volta de Menezes. É que entre esta câzoada e o engenheiro das corridinhas, o país não hesita. Não por o engenheiro ser sublime, extraordinário ou coisa nunca vista. Não. O engenheiro não está a fazer nada de especial e o que está a fazer, faz porque estamos na UE e porque a economia não é gerível daqui. Sócrates navega à vista como corre e corre como navega à vista. Dá uma razoável aparência de mando e, atentas as circunstâncias de vida do homem médio português, sustenta-se no medo que esse homem médio tem de perder o que já tem. Sócrates e os seus mandarins estão e ficam por causa deste medo e não por causa de mais nada. Portas é, para ele, apenas mais um ruído. E, infelizmente para Portas, este não passa de ruído para o país.

22.9.07

O SORRISO AOS PÉS DA ESCADA


Sempre o velho Henry Miller para nos consolar com um "sorriso aos pés da escada". "Morremos a lutar para nascer. Nunca fomos, nunca somos. Estamos sempre na contingência de vir a ser, separados, desligados sempre. Sempre do lado de fora. (...) Um dia destes, falando com pintor meu conhecido acerca das figuras que Seurat nos deixou, afirmei-lhe que elas se encontravam enraizadas ali mesmo onde ele lhes deu vida - na eternidade. Como me sinto grato por ter vivido com estas figuras de Seurat - na « Grande Jatte», no «Médrano» e fosse onde fosse, em espírito! Não há absolutamente nada de ilusório à volta destas suas criações, cuja realidade é imperecível. Vivem na luz do sol, na harmonia da forma e do ritmo que é melodia pura. E também, de facto, com os palhaços de Rouault, os anjos de Chagall, a escada e a lua de Miró, e todo o seu «zoo» ambulante. Assim também com Max Jacob, que nunca deixou de ser um palhaço - mesmo depois de ter encontrado Deus. Pelo verbo, pela imagem, pelo acto, todas estas abençoadas almas que me fizeram companhia testemunharam e eterna realidade da sua visão. Será nosso, um dia, o seu mundo quotidiano. De facto já é nosso - simplesmente, estamos demasiado empobrecidos para lhe reivindicar a propriedade."

O MUNDO SEGUNDO SÓCRATES

Sócrates esteve com Bush. Perdi o número mas, pelo que percebi, o texano agradeceu o apoio nacional à guerra do Iraque como se Sócrates fosse um clone de Durão Barroso. Parece que Sócrates não tugiu nem mugiu. Para além disso, e segundo o "site" da Casa Branca, prestou umas breves declarações em inglês que o recomendam urgentemente para o 1º grau do Instituto Britânico. Sócrates é a antítese do cosmopolita. Como bom militante partidário em exclusivo, Sócrates sempre viu o mundo da janela de uma sala de reuniões do PS. De repente, e graças a desgraças alheias, esse mundo que ele ignorava veio cair-lhe aos pés. Alguém me disse que o presidente em exercício já partiu uma boa meia dúzia de telemóveis com as suas "raivas". O mundo, complexo e contraditório, não estava nos planos deste "animal feroz". Dói não dói? Habitue-se.

21.9.07

MOMENTO CHAVEZ-SOARISTA

Quando o dr. Pina Moura era ministro da economia e representava interesses inconfessáveis do "capitalismo selvagem" no governo do socialismo democrático, o dr. Mário Soares passava a vida a alertar o bonzinho Guterres para o perigo que o ex-estalinista representava. Falava-se em negócios na energia, com estes e com aqueles. Agora, o mesmo dr. Soares decidiu fazer de Pina Moura junto do mitómano de Caracas em prol da Galp, essa devoradora do regime juntamente com a PT e a EDP. Se calhar o dr. Soares conhece um Chavez que nós não conhecemos. Ou então nós é que não conhecemos completamente o dr. Soares.

TACANHOS


A "presidência em exercício", se Deus quiser, vai ser um fracasso. Mesmo que na prática os masturbadores da burocracia se deliciem com umas semanas de "importância", a grande política não passa por Lisboa. Em compensação, o sr. Mugabe vai passar e por cima do tapete vermelho que o dr. Amado e o senhor presidente em exercício se aprestam a estender-lhe. Amado até "gostaria" de ver o 1º ministro britânico na "cimeira" de Dezembro, mas, complacentemente, percebe que ele não queira vir. Ao pé da nossa diplomacia, os manos polacos são uns génios até porque possuem a vantagem epistemológica de quem sabe o que quer e, sobretudo, o que não quer. Seremos sempre servis e complexados frente ao preto, seja lá qual for o preto. Já nem sequer se trata da velha questão do "fardo do homem branco". É apenas o carregar do fardo da nossa eterna tacanhez.

20.9.07

GRANDE PAÍS

Um país feliz é um país que se pode dar ao luxo de num dia homenagear um escritor menor e duvidoso activista político e no dia seguinte não ter mais nada para contar senão as desventuras de dois treinadores de futebol, por sinal ambos mal educados. Grande país.

AINDA AQUILINO

Alguns comentários, até de amigos, forçam-me a voltar ao irrelevante trasladado de ontem. Aquilino, tal como Torga, são duas eminências "literárias" portuguesas tidas como tal porque sim. Ou por terem convivido de perto com os pedragulhos e a as montanhas, ou por misturaram a rusticidade com uma qualquer "alma" portuguesa que a minha limitada visão não alcança, ou por terem "lutado" contra Salazar (esta parte fornece automaticamente currículo literário e político), certo é que possuem o extraordinário estatuto de vacas sagradas praticamente indiscutíveis. Para mim, sempre foram e serão dois bimbos com intermitências talentosas. Nem sequer chego ao ponto de chamar a Aquilino medíocre, como Pulido Valente. Não me interessa como escritor, não mudou nem muda nada na minha vida, a não ser maçar-me ler um ou o outro. Depois, nunca acusei Aquilino - não sei mais do que toda gente sabe - de ter disparado contra o Chefe de Estado. Disse e repito que Aquilino conspirou avidamente para acabar com ele e até a manusear bombas contra o regime era tosco. Porventura não seria a pessoa mais indicada para um tiro certeiro, mas, como sabemos, há muitos formas de matar. O que me enoja é ver o actual estado dito democrático de cócoras perante esta figura esquecível. Não quer dizer que os de hoje sejam maiores. Não são. E ver-se-à como se vão comportar em Fevereiro de 2008 quando passarem cem anos sobre o homicídio do antecessor de Cavaco Silva. De certeza que vão virar as costas. Só se celebram os "amigos".

19.9.07

O OUTRO PANTEÃO


Em relação ao post anterior só falta acrescentar que o trasladado é um escritor menor. E que a televisão pública foi patética, como é seu hábito, na cobertura da mortiça e despropositada cerimónia que o país muito naturalmente ignorou. Como lembra um leitor num comentário, isso é pouco relevante já que o Panteão Nacional não passa de um vulgar jazigo. Até a campa rasa do Doutor Salazar, no Vimieiro, é mais e melhor frequentada. Sozinha, constitui um Panteão.

VIDA DOS MORTAIS - 6

Hoje é um dia de vergonha nacional pastoreada pelas mais "altas" figuras do "estado a que isto chegou". Basta ler a recente biografia de D. Carlos por Rui Ramos para se perceber até que ponto Aquilino Ribeiro esteve comprometido com a eliminação física do então Chefe de Estado. Temos, pois, um Estado "democrático" que não se sabe dar ao respeito e que celebra essa falta de vergonha e de memória no Panteão Nacional. Por isso, para quê respeitá-lo?

18.9.07

VIDA DOS MORTAIS - 5

Sócrates, em Washington, não resistiu à vulgaridade da corridinha. Todavia, e a avaliar pelos estudos e pelas sondagens, o país resiste olimpicamente a esta vulgaridade. No fundo, revê-se nela. Admira-a. O homem a correr, com os seus calções, sapatilhas e t-shirt é o que qualquer homem médio português adora fazer, da Buraca à Muralha da China. A diferença é que, ao contrário da maior parte dos seus subconscientes e bovinos admiradores, Sócrates é um homem com sorte. Não tem de gerir homens. Gere um rebanho.

CALLAS OU O MUNDO QUE NÓS PERDEMOS

Passaram indemnes os trinta anos do desaparecimento da maior artista de ópera do século XX. A Callas - estou a revê-la num documentário na 2: - não precisou da "globalização" para ser global. Nem necessitou ceder à vulgaridade para ser grande e trágica. Até na derradeira digressão com Di Stefano - duas ruínas vocais ambulantes - a Callas manteve intacta essa veia clássica que a crucificaria três anos depois num apartamento solitário de Paris. Quando olho para as imagens dos anos cinquenta e sessenta que a consagraram, tenho pena de não ter vivido nessa altura. Um mundo que é impossível de descrever porque já deixou de existir há muito. Em certo sentido, eu também.

17.9.07

VIDA DOS MORTAIS - 4


A RTP- 1, depois de A Raínha, de Frears, passou o Brokeback Mountain de Ang Lee que acabou agora de ser premiado por outro filme. Brokeback Mountain possui o "concentrado" típico da tragédia clássica. Ao longo de vinte anos dois homens mantêm, apesar dos filhos e das esposas, uma relação "nascida" no acaso de um trabalho solitário a tomar conta de ovelhas numa remota montanha americana. Depois cada um segue a sua vida familiar, de trabalho e de mentira, incompreensivelmente (do ponto de vista deles) apaixonados um pelo outro até ao pathos final. Não é, por isso, um filme "maricas" sobre "maricas". É um filme sobre a solidão humana e o medo do desejo do "outro". Brokeback Mountain é um lugar para o qual dois homens fugiam da vida como ela estupidamente é. Para um deles, ainda havia o "México", a rua anónima. Numa dessas escapadas, Jack é, par delicatesse, liquidado fisicamente. Não tinha, aliás, andado a fazer outra coisa senão rodeos com a morte, a designação em carne viva de uma vida impossível. De facto, aos mortais nada é dado de graça.

15.9.07

VIDA DOS MORTAIS - 3

O Dalai Lama passou como cão por vinha vindimada aos olhos das instituições nacionais, do chefe de Estado ao governo. Cavaco invocou e-mails e mais não sei o quê de burocracia interna, no que mais parecia coisa de chefe de repartição, para não receber o líder espiritual. Sócrates, esse, nem se dignou descer das alturas em que normalmente navega para comentar. Amado fez o "dirty job" e a sra. D. Ana Vitorino, dos transportes, voa para a China para assinar umas coisinhas. Lama encerrado com lama. Em contrapartida, um pequeno e irrelevante país como a Alemanha dá honras de Chanceler ao referido Lama. Somos mesmo bons, não somos?

VIDA DOS MORTAIS - 2

Dois conhecidos - um deles íntimo tanto quanto se pode ser íntimo de alguém nos dias que correm - ficaram muito ofendidos (em separado) por, comentando as respectivas licenciaturas "bolonhesas", ter dito "mais um inútil". Sócrates - pai, filho e espírito santo desta fauna - teve, parece, o seu momento "novas fronteiras" que é uma espécie de "parada boys and girls" intermitente para os mandarins se reverem uns aos outros de vez em quando. Sócrates e os referidos mandarins, contrariamente ao que supõem, não andam a preparar ninguém para coisa alguma. Quem não é "humano", não fica "humano" por muitas doses de "qualificação" que lhe atirem para cima. As maiores cavalidades que conheço são todas licenciadas. Os últimos dias não me têm dado outra certeza.

13.9.07

VIDA DOS MORTAIS

O senhor PR não tem "agenda" para receber o Dalai Lama, uma criatura perfeitamente inofensiva. O governo também não. Tudo por causa do medo e do respeitinho pelo "tigre amarelo" que se deve lembrar vagamente da nossa existência por causa de Macau. Entretanto Sócrates enviou mais de vinte mandarins do seu glorioso governo às escolas para a sementeira de computadores em curso, a única coisa que tem feito desde que regressou de férias. O seleccionador nacional que, por acaso, é brasileiro, mostrou ao mundo a verdade das origens. Uma mãe-coragem e trágica Medeia acabou com tudo num lance terrível e solitário em Viseu. "Oh vida dos mortais, não é só de hoje que a considero uma sombra, e direi sem temor que entes humanos que passam por hábeis e ávidos de ciência estão condenados à mais dura das punições. Entre os mortais, não há um homem feliz. A opulência, quando aflui, pode dar a um maior êxito que a outro, mas a felicidade não." Vale a pena continuar a escrever?

11.9.07

O SILÊNCIO DOS LIVROS


Por motivos pessoais, só agora respondo ao repto do Francisco, amigo generoso e um grande coração. Sou incapaz de produzir uma lista, quer de livros que tivessem "mudado" a minha vida, quer de livros que não "tivessem" mudado coisa alguma. O que "muda" a vida é a vida, é o maldito "outro", é o "dangerous corner" de que falava J. B. Priestley. Tive um professor de direito, João de Matos Antunes Varela, que nos recordava permanentemente que a vida era sempre mais rica do que a nossa imaginação, isto a propósito das "hipóteses" idiotas e "práticas" colocadas nos exames de direito. Nunca esperei que a Bíblia, Proust, Joyce, Tolstoi, Dostoievsky, Flaubert, Stendhal, Eça, Roth, Mailer, Highsmith, Vergílio Ferreira, Cardoso Pires, Camilo ou mais umas boas dezenas que podia convocar me "mudassem". Mesmo a filosofia - essa sublime expiação intelectual da nossa morte permanentemente anunciada- nunca nos prepara verdadeiramente para ela. Qualquer combate com os livros é, à partida, um combate perdido. Kafka recordava o silêncio das sereias para nos transmitir a ideia de que qualquer "discurso" pode perfeitamente ser menos "mortal" do que o silêncio. Fujam do silêncio das sereias, recomendava o autor do Castelo. O que "muda" é a nossa relação com o tempo e com o tempo dos livros. Aos dezasseis anos, Pessoa "mudou" a minha visão do mundo. Aos vinte e tal, Joaquim Manuel Magalhães também. O tempo, obreiro incansável do cinismo e do pragmatismo, faz-nos esse enorme favor de travar as ilusões. A vida vivida dentro de um livro ou de um poema não é transponível para isto, o "isto" que é aquilo a que apelidamos de "nossa vida". Felizmente tropecei - e continuo a tropeçar - em muitos livros que, por instantes, imagino definitivos. Agora é que é. Nunca foi. Não consigo verdadeiramente falar do silêncio dos livros. Limito-me a respeitá-lo.

8.9.07

DERROTA E DESTRUIÇÃO


«O homem não foi feito para a derrota. Um homem pode ser destruído, mas não derrotado.»

Hemingway, O Velho e o Mar

7.9.07

O MUNDO VISTO DA JANELA DE UM HOSPITAL - 2

A jornalista Fernanda Câncio não acompanhou os seus colegas na condenação do "estatuto dos jornalistas" recentemente vetado por Cavaco Silva. Essa manifestação de "autoridade" sobre os media - jornalistas, em geral, e televisão, em particular - não incomodou excessivamente esta "causalista". Câncio despertou para o jornalismo em 1987 e já é praticamente uma catedrática na matéria. Uma moralista, uma "entidade reguladora" ambulante dos costumes. Sem saber exactamente o que se passou nos vídeos agora divulgados sobre uma alegada actuação de agentes da PSP sobre uns "jovens", Câncio acaba de tirar as suas costumeiras conclusões sobre os "excessos da autoridade", chamando-lhe "a autoridade aos pontapés". No mundo de Câncio não há rapazes maus. Existem apenas criaturas que a sociedade, através dos seus "mecanismos de repressão", torna maus. À cabeça, a autoridade é evidentemente maldosa. Alguma autoridade, todavia. Aquela que a Fernanda designa. O resto é paisagem e democratas.

O MUNDO VISTO DA JANELA DE UM HOSPITAL - 1

O primeiro-ministro fez cinquenta anos. Parabéns. O conselho de ministros de ontem cantou-lhe os ditos. Por breves instantes, Sócrates deve ter parecido humano. Quase humano.

6.9.07

LUCIANO PAVAROTTI (1935-2007)

Para quem gosta de ópera, Luciano Pavarotti está longe de constituir o tenor modelo. Todavia, Herbert von Karajan, cujo "faro" raramente o enganava, proporcionou, na minha modesta opinião, as melhores gravações de La Bohème e de Madama Butterfly com o tenor de Modena e a sua conterrânea, Mirella Freni. Depois, há algum Donizetti que vale a pena e dois discos fundamentais: a Turandot, com Zubin Metha, e a Lucia de Lammermoor, de Richard Bonynge. Mau em palco - a figura também não ajudava -, Pavarotti é uma bela voz nas canções napolitanas e no citado Puccini. Para quem o quiser ver e ouvir - novo e de voz imaculada - existe o Requiem de Verdi, onde Karajan dirige os corpos artísticos do Alla Scala, Leontyne Price, Fiorenza Cossoto e Nicolai Ghiaurov.

FORA DE CONTROLO

Escrevo num hospital. Infelizmente o mundo dos hospitais é mais rico que o da nossa imaginação. Aprende-se muito frequentando hospitais. Só que o mundo lá fora também chega aqui. O que se passou em Viana do Castelo, o que se passou em Viseu, o que se passa nas gasolineiras, o affair do milheiral, etc., etc., revela que existe qualquer coisa fora de controlo. Para baralhar, deu-se ontem importância a umas imagens editadas em Janeiro nas quais alegadamente é perpetrada "violência policial". A PSP, entretanto, desfez-se em desculpas e pretende dar "caça" aos supostos agentes. No meio disto tudo existe um equívoco chamado Rui Pereira que "confia" nas forças de segurança. Homens de compêndio, sem mundo, não podem dominar a perversão e as canalhices humanas. A "administração interna" precisa de um Sarkozy. O país - todo - também.

COISAS DO ESPÍRITO - 3

Como escrevi noutra ocasião, o Portugal dos Pequeninos existe porque me dá gozo e porque há por aí centenas de leitores anónimos e de bloggers que têm sido a minha mais fiel companhia silenciosa, sejam eles detractores ou "apoiantes", seja eu devoto ou carrasco. Não falo do lixo humano que se esconde por detrás do anonimato insultuoso e cobarde. Nem de "amigos de Peniche". Isso não conta. Contam os que sabem e que saúdo indistintamente por causa do que eles também sabem. É, sem dúvida, uma família. Weird, mas uma família. Mais coisas do espírito.

5.9.07

COISAS DO ESPÍRITO - 2

Este homem acredita em cada coisa.

COISAS DO ESPÍRITO


O dr. Mário Soares tomou posse perante Sócrates - um detalhe não desprezível apesar da "independência" da entidade em relação aos poderes públicos - como presidente da "comissão da liberdade religiosa". Na verdade, o dr. Soares não precisava rigorosamente nada de tomar posse de coisa alguma. Há mais de trinta de anos, com intermitências irrelevantes, que Soares preside ao regime da mesma forma que o Doutor Salazar presidiu ao anterior. A diferença reside nos cargos e no método. Salazar começou nas finanças, não mais largou o de chefe do governo e nunca se submeteu a qualquer sufrágio genuíno. Soares entrou no regime como MNE, no dia seguinte já estava a tratar de ver-se livre do Ultramar e sucedeu fugazmente a Salazar em S. Bento. Quis mais. Foi chefe de Estado e perdeu uma eleição na Europa contra uma "dona de casa". Ainda se sujeitou a uns reles quinze por centro nas últimas presidenciais contra o milhão de votos do bardo camarada e a indiferença relativa do homem que o empossou agora. A sua "comissão" é mais um pequeno bando de bonzos, a fazer lembrar a "entidade reguladora" dos media. Se os media não precisam de "comissões reguladoras", muito menos as coisas do espírito. Há uma religião que é maioritária e que o regime, pelos vistos, aprecia vigiar para mostrar que é laico. Não existe nenhuma questão religiosa em Portugal. Em compensação, existe o dr. Soares para justificar a "comissão". A "comissão" é ele e ele é a "comissão". Coisas de outros espíritos.

4.9.07

DOS TEMPOS

Chego a casa depois de horas de atenção a quem me guardou menino e, uma vez, aquando da única intervenção cirúrgica que fiz até hoje. Na manhã seguinte, ao acordar morto de dores, estava na cama ao lado, vigiando sem desfalecimentos. Agora é a minha vez. A nossa vez. Por isso lamento alguns comentários anónimos que encontrei no post anterior e que, de tão grosseiros que eram, regressaram rapidamente ao lixo de onde brotaram. Nunca são esdrúxulas as palavras de Gore Vidal. «As pessoas mudaram; tornaram-se hostis ou, no limite, perigosamente impessoais. Dou-me conta de que talvez tenha mudado de tal maneira que as vejo tal qual elas são, tal qual elas sempre foram... no entanto, é possível que aquilo em que eu reparei mais cedo fosse a realidade e que aquilo que observo agora seja uma distorção inteiramente privada da realidade, embora, e de qualquer maneira, eu veja o que vejo: hostilidade e perigo. Tenho consciência de que a minha posição é exagerada e de que há gente inócua no mundo e, bem mais importante do que isso, muitos idiotas. Pelo menos, agradeço tamanha fartura.»

PAUSA FORÇADA

Por motivos familiares inesperados, o blogue fica suspenso por uns dias.

3.9.07

DO URINOL


Tinha lido esta "história" no Público de ontem. Entre nós, e por causa de um ministro da educação nacional que não perdia um no trajecto entre a sua casa e o ministério, Salazar mandou fechar todos os urinóis que ficavam no percurso do ministro. Manteve, naturalmente, o ministro. Em Paris, Madame De Gaulle acabou com eles por causa da deriva promíscua que provocavam. Nenhuma interdição nacional ou internacional foi suficiente para conter o urinol na sua função estritamente utilitária e fisiológica. A "fruta" que muitos adeptos formais do consenso sexual não encontram em casa, pode, muitas vezes, estar literalmente à mão num urinol. O que tem acontecido a incautos como este respeitável senador republicano, é deitarem a mão ao alvo errado. Um filme português recente, O Fantasma, inclui uma fellatio explícita que tem lugar num repelente urinol. Passou a ilustração cinematográfica o que já se sabia. Em Os Maias - o episódio do irmão indolente que fornicava com a irmã melancólica - o "problema" não residia tanto no incesto como no saber-se que perpetravam o acto. A tal cena do filme, bem como os depoimentos dos supostos "undercover" que andam atrás de mãos audaciosas ou a reacção destes predadores pseudo incoentes, valem mais justamente pelo "saber-se" do que pelo que em si representam. O senador continuaria feliz com a sua loira mulher de óculos escuros, mesmo que a sua mãozinha desvairasse por aqui ou por ali, desde que não se soubesse. O interdito é tão afrodisíaco como a política, e vice-versa. Quando se cruzam num urinol, acaba fatalmente por saber-se. Dava um romance.

O EMBUSTE


Aquando da "Constituição Europeia", vários blogues juntaram-se sob a designação genérica de "Blogues pelo Não". Era suposto - como continua a ser - ter havido um referendo nacional ao tratado constitucional que foi adiado quando, sobretudo depois do "não" francês, a coisa ficou em "banho maria". A "Constituição" foi então dada como morta e o "processo" europeu prosseguiu como devia: no debate, na contradição, no conflito, na preservação do essencial e no equilíbrio entre as opiniões públicas nacionais e a "língua de pau" de Bruxelas e do Conselho. Agora fala-se em "tratado reformador", "mini-tratado" ou "tratado de Lisboa" e pretende-se fazer tábua rasa do que ficou para trás. Ora, o que ficou para trás foi a "Constituição Europeia" que é este "tratado reformador", sem o hino e a bandeira. Uma vez mais, e ao arrepio das opiniões públicas nacionais, os mandarins preparam em segredo a Europa deles, com um lance de cosmética a aplicar ao defunto tratado constitucional para ver se, desta vez, ele "passa". Aqui foi-nos prometido um referendo e, daqui em diante, isso deve ser quotidianamente lembrado ao senhor presidente em exercício. Para ele, a presidência é o "tratado" ou não é nada. Para nós, é mais do que isso. É, pois, altura de voltarmos ao "não" ao "tratado reformador", isto é, à mesma "Constituição Europeia" que Sócrates e outros prometeram referendar. Estaremos atentos ao embuste.

Nota: Foto e link "cedidos" pelo Jorge Ferreira

A RAINHA

Só agora, na RTP, vi o filme da foto. Quase a terminar, a Rainha explica a um borbulhante Tony Blair em princípio de carreira que o fim dele virá sem aviso, de repente, como a morte de Diana emergiu, meteórica, sobre um reinado previsível. Assim foi. Assim é. A rainha está para ficar e Blair passou o testemunho ao mais contido e irrelevante sr. Brown. Saí mais monárquico do filme de Stephen Frears.

2.9.07

ESTATÍSTICA


As "autoridades" rodoviárias contentam-se com números. Se houve menos mortos e feridos na estrada "do que em relação ao mesmo período no ano transacto", proclamam vitória. Mesmo que tenham morrido vinte ou trinta, isso é mais animador que os quarenta ou cinquenta anteriores. Acontece que não é. Não só não é como revela a impotência de quem "pensa" e "controla" estas questões do trânsito, agora agravadas pela exibição televisiva dos senhores agentes a introduzirem uns objectos na boca dos condutores para apurarem da sua perícia para o volante. O condutor português é iletrado, automobilisticamente falando. É violento, leviano e ignora o outro como a si mesmo. Não há "pedagogia" que lhe resista. Na sua cabeça, o carro é um artefacto com um acelerador que se fez precisamente para ser empurrado com o pé até ao fim. Mesmo que o fim seja uma árvore, um muro, a família dele ou a dos outros. O condutor português médio é quase tão assassino como os dos tiros na noite anónima. Não se trata uma doença destas com estatística.

1.9.07

«NO FIM, FICAREI SÓ»


Num dos livros que ando a ler devagar, já citado, encontro esta referência a propósito de Michaux, um trágico sobrevivente, nas palavras de Sloterdijk: "o descobrimento traumático de que o Outro íntimo se tornou inalcançável, e que, por conseguinte, uma pessoa tem de enquistar-se em si mesma e endurecer-se. De modo geral, resulta inclusive válida a sabedoria de que só poderá converter-se num indivíduo independente aquele que sabe de uma vez por todas ou que quer saber o seguinte: «No fim, ficarei só».

A VIA POLACA


Parece que a Polónia está a dar cabo do mini-tratado que o presidente em exercício de um mini-país está - vá-se lá saber como - a preparar. Longa vida aos irmãos Kaczynski.

O CASO BARROSO

Já sabíamos que, humanamente, Durão Barroso não presta. O episódio Somague/PSD, do tempo em que ele era presidente do partido, apenas confirma a asserção. Confrontado com isso no seu imperial posto de Bruxelas - por jornais e não só -, Barroso sacudiu tudo para cima da única pessoa que não se pode defender por motivos de saúde. Já o seu lugar-tenente Arnaut tinha feito o mesmo, "assumindo" uma responsabilidade qualquer perfeitamente irresponsável. Barroso dava uma personagem de um dos maiores escritores europeus que não precisou da UE para nada para ser europeu e universal: Shakespeare. É homem de brumas, de ambição e um triturador de fidelidades. Homens assim não são a tragédia - falta-lhes a grandeza e a nobreza - mas podem ser uma tragédia. É o caso.

DIANA, A PRINCESA SUBURBIA


Os dez anos da morte de Diana Spencer foram motivo para derrames vários. Na altura, um artigo realista de Agustina para a revista Visão valeu milhares de cartas indignadas com a alegada frieza da escritora de Campo Alegre. Agustina definiu a "princesa do povo" pelo que ela nunca soube ser. Diana nunca esteve à altura do putativo estatuto de mulher do futuro rei inglês. Diana quis isso e rapidamente o seu contrário, uma contradição entre o melancólico e o oportunista, tão bem traduzida na sua relação com os media. Uma princesa a sério não vem para a televisão falar de cama. E não é celebrada em estádios de futebol como uma vulgar viciada em crack. Diana foi um achado para Tony Blair que começava, esse sim, o seu sublime reinado. Diana serviu de "modelo" a muitas pequeninas "Dianas" espalhadas por este mundo de Cristo, um misto de coitadinha deslumbrada com sortuda infeliz com olho para a notoriedade. Talvez o último árabe a tivesse despertado com o famoso beijo das histórias de princesas, um beijo dado mais tarde e tarde demais. Insegura e imatura, Diana foi vítima de si mesma e da avidez insaciável dos milhões cuja não vida vem todos os dias nas capas das revistas "rosa choque". A massa democrática, a do sr. Blair e dos seus epígonos, precisa de vítimas deste calibre como de pão para a boca. Diana é uma das suas heroínas globais, porventura a maior de todas. Nunca passou da suburbia.