27.2.07

A URGÊNCIA

O optimismo antropológico ainda mexe. As esquerdas que aprovaram as alterações à legislação sobre o aborto acreditam que, em sessenta dias, o SNS - o das urgências e das trapalhadas do dr. Campos - terá condições para receber as mulheres e a sua privativa vontade de abortar. Em vinte e três anos, o Estado não conseguiu sequer criar condições para cumprir a lei ainda em vigor. Vai criá-las em dois meses?

FASCISMO -2

O meu amigo Eduardo escandalizou-se por eu ter utilizado o termo "fascismo" para definir a intervenção da EMEL, em Lisboa, junto de automóveis e condutores. Reafirmo-o. Fora das áreas concessionadas à dita EMEL, não enxergo como é que a dita cuja possa ou deva interferir. Por este andar, qualquer pessoa, individual ou colectiva, pode ter poderes de autoridade. Sim, porque é disso que se trata quando aqueles objectos amarelos são colocados nos pneus das viaturas ou os carros são rebocados, repito, fora das áreas concessionadas. Aí, entra, como lhe compete, a polícia que chamo quando fico impedido de me mover por estacionamentos errados: telefono para o 112. Não me passa pela cabeça ligar para a EMEL ou para outra entidade qualquer. Olhe, da próxima vez ligo-lhe a si.

LAÇOS DE TERNURA


Ocorreu hoje no Parlamento um gesto inesquecível. As esquerdas - PC e partículas verdes adjacentes, o BE e o PS circunstancialmente "progressista" - uniram-se e aprovaram o projecto de lei destinado a satisfazer o "sim" de 11 de Fevereiro. Não há "acompanhamento", mas há "reflexão". Há objecção de consciência, mas quem for objector vai para uma lista. Os "objectores", aliás, estão proibidos de ajudar na "reflexão". Depois, há pressa destas esquerdas em ver a lei aprovada. Pena é que não lhes dêem "as pressas" para outras coisas. De qualquer forma, tão cedo não os veremos juntos outra vez. Bonito, sem dúvida.

MONSTROS -2

O "estilo correio da manhã" já se insinua na capa do Diário de Notícias. Se servir para revelar o regime nos seus interstícios doentios, melhor. E se apresentar os "virtuosos" do regime no seu esplendor e miséria, óptimo. Afinal, qual é a diferença entre isso e divulgar como puro espectáculo menos de metade da unidade como uma estatística vitoriosa e um "resultado"? Tivesse sido Santana Lopes a fazê-lo, e quantos "perguntistas do regime" estariam hoje numa erótica perturbação, rindo e exigindo cabeças atrás de cabeças?

UM RACIOCÍNIO

Grande artigo de José Medeiros Ferreira sobre a Madeira, Jardim e o "Continente". Depois de dias e dias de prosas miseráveis e preconceituosas sobre o presidente do governo regional da Madeira (com a excepção de uma crónica de Vasco Pulido Valente no fim de semana), finalmente um raciocínio. "João Jardim é um dos últimos animais políticos de um regime que detesta e que o detesta, mas para o qual tem uma vocação inata. Num regime autoritário e burocrático, possivelmente não teria ido além da Câmara do Funchal. A liberdade, de certa maneira malgré lui, deu-lhe asas e despertou-lhe qualidades de estratego político que o guindaram a personalidade nacional num estilo inimitável. E o que é inimitável tem, pelo menos, carácter. Alberto João Jardim não é um político banal. De entre os seus predicados políticos sobressaem a audácia e o realismo. O golpe que acaba de desferir tem a ver com o seu lado audacioso."

26.2.07

MONSTROS

Zero vírgula quatro na redução das pendências processuais, e Sócrates não faz a coisa por menos: primeira vitória sobre o monstro. Sobre o monstro do desemprego - a crescer - nem uma palavra. Há monstros menos monstros do que outros.

FASCISMO


A EMEL, uma aberração empresarial da CML, passou a ter poderes de polícia, designadamente multar e rebocar carros. No momento em que a Câmara de Lisboa soçobra na inércia e na lama, a prioridade desta gente é chatear os condutores de Lisboa com reboques, autuações e radares. Qualquer dia temos de empurrar os carros como vulgares carroças para não incomodar o radar. Isto é fascismo. Pena que aqueles que andam sempre a puxar da constituição e da lei por dá cá aquela palha, não questionem esta extravagância camarária. O raio que os parta a todos.

ELEIÇÕES ANTECIPADAS

Há momentos da nossa vida em que nos devia ser permitido sair dela e provocar eleições antecipadas.

O PREPARADO


Calhou à veneranda figura do presidente do PS - o dr. Almeida Santos, verdadeiro totem do regime - representar o PS na audiência com o PR sobre a Madeira. O ancião prosador, à saída, lembrou-se de dizer que "o nosso líder na Madeira tem feito queixas de que, estando o Governo [regional] em gestão, continua a usar os poderes que teria se não estivesse em gestão em matéria eleitoral ou mesmo eleitoralista." O líder dele na Madeira, o sr. Serrão, não abriu a burra dos queixos para, ao contrário de todos os outros partidos "regionais", criticar a lei das finanças regionais que prejudica objectivamente a Madeira. Neste sentido, Almeida Santos tem razão. O sr. Serrão pouco mais pode fazer do que queixinhas de Alberto João, apesar, diz ele, de "estar preparado". Preparado para quê? O PS na Madeira é assim. Chega sempre atrasado e não dá mais do que isto.

O PIVOT

Fica mal a um professor com o currículo académico de Vital Moreira, a um cidadão com o currículo político de Vital Moreira, a um militante com o currículo partidário de Vital Moreira armar-se em pivot da central de propaganda e de contra-propaganda do governo. Os apresentadores do telejornal da RTP já fazem isso com uma razoável proficiência. Todavia, há hábitos que nunca se perdem.Pior mesmo é o ilustre catedrático defender com unhas e dentes - coisa que nem Sócrates prudentemente se atreve a fazer em público - o ministro da Saúde. Correia de Campos consolida o seu autismo, empurrando os disparates diários com a barriga. Se calhar, todos os governos precisam de um entertainer. Com a sorte que Deus lhe deu, Sócrates tem três. Pinho e Lino completam a santíssima trindade por onde começa a desgraça do seu "certinho" executivo. Não precisa de nenhum Dutra Faria sofisticado. Muito menos de Coimbra.

25.2.07

O SUPRA-PORTAS - 2

Marques Mendes "safou-se" bem na entrevista a Ana Lourenço, na SIC Notícias. Insistiu na tese do país anestesiado e do pesadelo que o espera quando acordar. Explicou Jardim. A pedra no sapato é, porém, a Câmara de Lisboa. O PSD que está agarrado a ela, não presta. Nem o que lá passou, nem o que lá está. Mendes é melhor que isto, só que isto pode transformar Mendes em pior do que ele, na realidade, é. Politicamente, claro. Quanto a Portas, ler dois posts de Henrique Raposo, "Portas I" e "Portas II". "Se for para regressar para fazer o costume, com as ideias do costume, com as caras do costume, com a praxis do costume, então deixe-se estar quieto. Portas tem de captar nova gente. Gente que se encontra dispersa porque não tem pachorra para as quadrilhas de mabecos. Os eleitores estão fartos das mesmas caras. Sendo Portas uma cara do costume, tem de aparecer com um novo discurso e com uma equipa nova."

O ESPLENDOR DA RENÚNCIA -3



O deus Wotan, o "senhor dos exércitos" e pai das Valquírias - são nove, mas Brünnhilde, filha de Wotan e de Erda, não é irmã uterina das outras oito - , deixou-se envolver pelo sortilégio do "ouro do Reno" no homónimo prólogo da tetralogia, cuja posse obriga a renunciar ao amor. Tudo gira, nestas quatro óperas, em torno da ambição, do amor, da renúncia, da solidão dos poderosos, o pathos para o "crepúsculo dos deuses" - anunciado por Erda no Prólogo - com que se encerra a tetralogia. Essa atracção pelo abismo começa logo na primeira jornada, presentemente em cena no São Carlos, com Wotan a reclamar "o fim" quando percebe que ele, o deus, é o menos livre de todos os homens. Menos do que Siegmund (também seu filho noutras "núpcias") cuja morte é exigida pela sua mulher, a deusa Fricka. É um Wotan impotente e dividido entre o poder e o amor que, no final da "Valquíria", reclama a vinda de um homem "mais livre do que ele, o deus". Será Siegfried, fruto do amor incestuoso de Siegmund e Sieglinde, e título da jornada seguinte da tetralogia. Wotan - como Brünnhilde, aliás - estão entre nós, simples e miseráveis humanos, e é esse o "sentido" da encenação de Graham Vick para o São Carlos, pejada de titãs solitários e de chiquérrimas "valquírias" que podiam perfeitamente ter sido vestidas por Yves Saint Laurent.

Nota: Fotos do 3º Acto de "A Valquíria", de Richard Wagner, numa encenação de Graham Vick para o Teatro Nacional de São Carlos. Até dia 10 de Março.

O SUPRA-PORTAS


A propósito da hipotética emergência de Paulo Portas, escreve Vasco Pulido Valente que "há um sentimento geral de que a direita está impotente perante Sócrates." Acrescentaria a este nome o de Cavaco Silva. A sua eleição "secou" a direita político-partidária. Marques Mendes não "descola" e enrola-se inexplicavelmente no drama lisboeta, o que lhe retira autoridade e credibilidade para falar sobre o que quer que seja. Ribeiro e Castro praticamente não conta. Até mais ver - e a direita político-partidária não pode esperar para ver -, o Presidente da República prefere, para já, ser um "terceiro Sampaio" do que o protagonista que se insinuou na campanha presidencial. Enquanto o artificialismo de Sócrates não se estatelar a seus pés, Cavaco não mexe uma palha. Sócrates quer outra maioria com os votos da direita e do centro e Cavaco, pelos vistos, acha bem. É aqui que pode entrar Portas. Como? É mais livre perante Cavaco. Portas, no galarim, incomoda Cavaco e, indirectamente, "puxa" por ele. Como Jardim a partir da Madeira. Em segundo lugar, e se - e só se - Portas se libertar da sua irritante caricatura, feita de um misto de gravitas, de "socialite light" e de feira de Carcavelos, valerá a pena prestar-lhe alguma atenção. Depois, Portas precisa de ultrapassar o tropismo paroquial que o empurra, não para fora do seu pequenino partido, mas bem para dentro dele. Seria desperdiçar a sua inegável inteligência política e, porventura, uma razoável oportunidade, aparecer para tratar de mera intendência que não interessa nada ao país. Só se impõe quem consegue crescer do partido (seja ele qual for) para a nação. Finalmente, Portas deve ser claríssimo quanto à recusa em dar uma "mãozinha" a Sócrates, a troco de umas migalhitas, se ele precisar dela em 2009. De invertebrados já estamos razoavelmente servidos, graças a Deus.

UM PRODUTO NACIONAL

Ramos Horta é um produto tipicamente português. Foi apascentado pelo orçamento português nas suas múltiplas viagens por esse mundo fora em nome de Timor-Leste. Foi o regime, o nosso, nas suas duas únicas cambiantes - a socialista e a "laranja", S. Bento e Belém - que, anos a fio, andou com o homem ao colo, do outro lado do mundo à 47ª Street em Nova Iorque. É, pois, este produto nacional devidamente reciclado pela "experiência" internacional e pelo Nobel da Paz que se prepara agora para suceder ao improvável mas generoso Xanana, doido por ir tratar da sua vida em sossego. “Foram semanas de reflexão e de muita hesitação. Reflecti sobre a honrosa mas muita penosa missão de me candidatar a chefe de Estado", afirmou, sem se rir, Ramos Horta. Há quantos anos é que que ele andava a preparar isto? Pois é. Uma vez "português", toda a vida "português".

MOVIES


Os "óscares" é matéria que não me interessa nada. Os nossos diários e periódicos encheram folhas e folhas com a coisa. Só prestei atenção a uma curta entrevista de um velho senhor, Peter O'Toole, que o Actual do Expresso reproduziu parcialmente. Parece que o pretexto - um filme intitulado "Venus" - não vale a deslocação. Já O' Toole vale a leitura. Está aqui, no original. Mais uma vez, aprende-se muito com os velhinhos.

Adenda: A propos, assisti a um filme cujo título original é "Little Children" e que, em português, deu "pecados íntimos". Com ou sem estatueta, é, na sequência de "American Beauty" ou de "Magnolia", um grande filme sobre esse case study chamado EUA, a nação das crianças grandes como o seu presidente. Grande - porque esquizofrénica - interpretação da rapariga da foto, a ex-menina "Titanic" do De Caprio, que a dada altura disserta soberbamente sobre Emma Bovary, a eterna "slut" da pequena burguesia de espírito. Sobre o livro, existe este post/artigo do Eduardo Pitta.

24.2.07

A MEMBRO DO CLUBE


Nunca estou de acordo com Ana Gomes. Nunca. Todavia, o "retrato" dela numa entrevista concedida ao Expresso revela uma mulher que possui algo que falta a muitos homens. Em certo sentido, pareceu-me um A. J. Jardim no feminino. Num partido artificial e monolítico como o actual PS, Ana Gomes está condenada o que, segundo a entrevista, não a maça nada. Depois, define primorosamente o dr. Barroso em dois ou três momentos. O primeiro, quando aponta a "espinha dorsal" como um grave problema do homem que exportámos para a Europa e que está morto por voltar. O segundo, quando ele lhe explicou, um dia, para que serviam os partidos. Bem vinda ao clube dos poetas mortos.

A QUADRATURA DO CÍRCULO

O Henrique Raposo sintetiza bem a coisa, ao contrário de alguns colegas de blogue que aprenderam na "cartilha anti-Jardim" em vigor há trinta anos com o sucesso que se conhece: "há que admirar a coragem do homem: diz o que pensa num país em que os políticos medem tudo o que dizem, com medo de desagradar a quadratura do círculo. Depois, Alberto João não enriqueceu. Não usou a política para ficar mais rico."

CHAMAR À RAZÃO

O primeiro-ministro "chamou a si" o dossiê das urgências que tem vindo a provocar assuadas um pouco por todo o país. Já anteriormente o chefe do governo tinha "chamado a si" outros dossiês que os respectivos ministros não sabem tratar. Tudo para evitar o óbvio: correr com eles. Em Lisboa, o presidente da Câmara "chamou a si" uma data de pelouros devido à lenta agonia em curso. Também para evitar o óbvio: eleições. Quando o chefe "chama a si" qualquer coisa é sempre sinal de que qualquer coisa não está bem. Aliás, no caso de Sócrates, isto só confirma uma evidência eucaliptal. Se com ele é assim, imagine-se o que seria sem ele. Chamem-no à razão.

O TRANSBORDO


Ana Paula Vitorino, futura substituta do seu ministro, Mário Lino, anunciou uma alteração ao "traçado" do TGV que permita a passagem do vitesse pela OTA para "largar" e recolher passageiros de avião. Em linguagem socrática, a única que Ana Paula conhece, chama-se a isto "serviço prestado aos passageiros na intermodalidade aéreo-ferroviária, pois não necessitará de um transbordo suplementar". Esta insensata dupla OTA/TGV, sobretudo o primeiro, à medida que avança, mais contribui para o "transbordo" do governo a que Ana Paula pertence. Espero que o colaborante PR tenha presente a sua opinião sobre esta delirante "infra-estrutura aeroportuária" que ameaça comprometer praticamente tudo se não for parada a tempo. Se é que ainda vai a tempo.

23.2.07

LER OS OUTROS

Está certo, anarca. Todavia, e que mal te pergunte, os "fundos" para Trás-os-Montes, Setúbal, Açores, Beiras ou outra "província" qualquer vêm de onde? Da Cordilheira dos Andes? Arranja aí umas fotos da Madeira em 1976, e depois falamos.

UM RETRATO...

... simplex ou pracex. Ou a distância entre o powerpoint e a realidade.

O PNAAEOT

Há já uns tempos que o senhor engenheiro não nos fornecia, em nome da modernidade que vagueia na sua soturna cabeça, uma sigla. É certo que, com o aborto, entrámos no século XXI, mas tardava outro sinal depois do PRACE ou do SIMPLEX. Por isso, chega hoje, certamente em powerpoint, o "Plano Nacional de Acção do Ano Europeu de Oportunidades para Todos" (o PNAAEOT). O título - pura poesia concreta - mais parece coisa da sinistra 1ª República, ou mesmo da FNAT do ominoso Salazar, do que de modernaços como Sócrates e seus epígonos amestrados. Mas isto sou eu, que sou muito antigo, a dizer.

OS CANIBAIS


Manoel de Oliveira fez, há muitos anos, um filme intitulado "Os Canibais". O protagonista era o inevitável Cintra que, se bem me lembro, ia-se "desfazendo" todo durante o filme até restar apenas uma cabeça que emitia sinais faciais. Vem isto a propósito da Câmara de Lisboa. Também ela se esfarela lentamente às mãos de meia dúzia de caciques político-partidários de diversas proveniências. Aparentemente ainda só estão imdemnes o sr. Fernandes do BE - esse é mais bandarilheiro do que vereador - e o Ruben de Carvalho, já que os delegados do sr. Coelho, os do PS, não contam. Aliás, a "postura" do PS, desde Carrilho até ao momento, é todo um programa de pura indigência e hipocrisia políticas. Finalmente, a governanta Zezinha também já entra nos jogos florais. Uma tristeza. Marques Mendes faria bem - só lhe fazia bem - em varrer sumariamente a Câmara e colocá-la à disposição do eleitorado de Lisboa. Nem que, a seguir, avançasse ele. Qualquer coisa é melhor do que esta miserável novela mexicana.

22.2.07

O "PAÍS BRAGAPARQUE"


"Entre 1991 e 2005, as leis anticorrupção estiveram na origem de 20 iniciativas legislativas, entre propostas de lei do Governo, projectos de lei da Assembleia da República, propostas de resolução. Destas, 17 foram aprovadas e três rejeitadas. Hoje, a Assembleia da República volta a discutir, de uma assentada, 15 projectos de lei sobre este crime. (..) Tácito, um filósofo e senador de Roma, dizia que "quanto mais corrupta é a República, mais numerosas são as leis" . A juíza Fátima Mata-Mouros cita-o no seu mais recente livro, "O Direito à Inocência", para sustentar que "de nada serve remendar a norma penal, se a evolução dos regimes administrativos e do direito empresarial persiste em percorrer o labirinto normativo, ainda que disfarçado de um propagandístico invólucro denominado "Simplex".

Nota: Do Público de hoje. E a partir do minuto (-2:17) do vídeo está o melhor "comentário" ao "país Bragaparque"

AJJ

Este post do Duarte Calvão é duplamente corajoso. Primeiro, porque ele é jornalista. Depois, porque é raro (raro é um exagero) ver um jornalista do regime - não é manifestamente o caso do Duarte, até porque ele não é dado a "regimes" - elogiar Alberto João Jardim. Salvo a parte do charuto, tiraste-me as palavras da boca.

A FALTA

O sr. Romano Prodi, que chefiava um governo improvável em Itália, demitiu-se. Prodi antecedeu o glorioso dr. Barroso na presidência da comissão europeia. Não brilhou, nem voou. Barroso também não voa. Limita-se a ser astuto, uma coisa que se aprende lendo o "livro vermelho" do Grande Timoneiro, uma falta imperdoável do sr. Prodi.

A CRISE DA IMAGINAÇÃO

"Se houvesse o hábito de estudar história, ter-se-ia reconhecido aqui uma repetição. Na segunda metade do século XIX, a expansão da rede escolar, que mal fez recuar o analfabetismo, e a construção de uma rede de caminho-de-ferro coincidiram com a quebra das taxas de crescimento. No fim, os gastos do estado aprisionaram os portugueses numa crise financeira crónica, que os impediu de tentar aproveitar a chamada "primeira globalização", a não ser através da emigração. Alguém quer aprender alguma coisa? Nos últimos meses, a crise económica atenuou-se. Mas basta ouvir os nossos governantes para perceber que a outra crise, a da imaginação, continua."

Rui Ramos, Público de 21.2.07

21.2.07

UM LUGAR NA HISTÓRIA

Não, José Medeiros Ferreira, não ando a "a tentar salvar o Salazar das perseguições do regime". Elas existiram e, em nenhum texto sobre o dito cujo, omiti a circunstância. Apenas entendo que, mais de 30 anos volvidos sobre o fim do regime e quase quarenta sobre o desaparecimento físico do seu mentor, é mais do que tempo de falar do homem sem complexos de qualquer espécie. É história e não adianta tentar, isso sim, removê-la ou rasurá-la. Salazar, luz e sombra, já não "encaixa" noutro lugar senão nela.

Adenda: Este texto, na sequência de outros, de Pedro Arroja.

CONVERSAS DE PORTEIRA

O procurador geral da República concedeu uma entrevista surrealista a uma Judite de Sousa a raiar a insolência. Todavia, a culpa não é dela. Pinto Monteiro não devia conceder entrevistas nesta altura do campeonato ou, provavelmente, mesmo em nenhuma. A prova está em que, para cumprir a lei, não pode abandonar o limiar da banalidade e do lugar-comum em público. O PGR tem uma missão que não é secreta, mas que deve ser discreta para ser eficaz. Não dá entrevistas ao "jornal do crime" ou a jornalistas, como a Judite de Sousa desta noite, que alimentam conversas de porteira.

O PAÍS ESQUISITO


No percurso habitual desta manhã, na TSF falava o Pedro Silva Pereira, meu "camarada" de tropa e actual ministro da Presidência. Falava do seu maravilhoso governo como se estivesse a publicitar o velho "Leite de Colónia". Mudei instintivamente para o "cd" onde Pierre Boulez dirige "A Valquíria" de Bayreuth. Nas ruas, cruzei-me com vários "agentes da autoridade" de trânsito, montados em carros, motoretas e a pé. Uma coisa um tanto ou quanto despropositada, tal como o palavreado doce do ministro. Lembrou-me a minha passagem por El Salvador. Mas esse país teve guerra civil, vive permanentemente em sobressalto e tem dificuldade em assimilar a chamada cultura democrática. Nós somos supostamente democratas há trinta anos. Ou será que não somos?

O ESPLENDOR DA RENÚNCIA -2

"Deixei-me aprisionar nas minhas próprias cadeias, eu, o menos livre de todos os homens. Oh santa vergonha, oh dor vergonhosa, desgraça dos deuses, fúria infinita, aflição eterna. Sou o mais triste de entre os homens. O que a ninguém revelei, fique para sempre não dito: é para mim que falo ao falar contigo. Quando o desejo próprio do amor juvenil me abandonou, a minha vontade dirigiu-se para o Poder: tomado por súbitos desejos feéricos, conquistei o mundo. Fui desonesto sem o saber, conduzi-me de forma desleal, concebi alianças com aqueles que escondiam fatalidades."

Tradução livre - minha - de parte do monólogo de Wotan na 2ª Cena do II Acto de A Valquíria, de Richard Wagner, a estrear sábado, às 18:30, no Teatro Nacional de São Carlos

20.2.07

A NOVELA DA OPA

O "emporio" PT e o "emporio" SONAE continuam a marrar um com o outro. A conversa é exclusiva para iniciados. O tempo de antena que é dado a esta "guerrinha" é despropositado para o país real que, muito justamente, não liga um átomo a esta novela financeira. Tudo somado, só dá jeito ao dr. Strangelove.

LER OS OUTROS

Há vida - e formas de vida inteligente - na "esquerda" para lá do Daniel Oliveira, da Joaninha, de Vitalino Canas e do neófito Júdice. A serenidade do Tomás Vasques confirma-me isso mesmo. Por isso somos amigos.

O HOMEM DO CHOQUE

Fala-se dos dois anos de Sócrates como se Manuel Pinho, Mário Lino, Correia de Campos, o prof. Correia, Freitas do Amaral, Isabel Pires de Lima ou Mário Vieira de Carvalho não fossem Sócrates. Eles são Sócrates e Sócrates é o que eles são. Ora acontece que, não apenas são, como estão e ameaçam estar. Nas loas que li nos jornais, a fascinante (?) personalidade do primeiro-minitro emerge entre prosas e prosas derretidas dos mandarins de serviço. O tal "mel" de que falava João Soares a propósito de Santana Lopes, escorre agora por Sócrates abaixo. Como explicava Rui Ramos ontem à noite na RTP-N, do "choque tecnológico" só ficou o choque, o choque contra tudo e contra todos. Dos 150 mil empregos novos, ainda faltam 141 mil. E, sobretudo, a "situação" não entusiasma ninguém o que, numa sociedade eminentemente bovina como a nossa, corresponde ao "deixa arder" das sondagens. Um pouco mais de tempo e de paciência, e a máscara cai.

UM LIVRO...

... de um blogger. Uma ficção que começou aqui.

DR. STRANGELOVE - 2

No dia dos seus juvenis sessenta e cinco anos, José Medeiros Ferreira é o mesmo homem de futuro que conheci numa tarde longínqua de 1979, ao pé da pastelaria Cister, ao Príncipe Real. É dele este "retrato" da estranha criatura que, há dois anos, está no leme: "parece-me que ele tem uma mistura de frontalidade e de dissimulação, que é uma boa mistura em termos políticos." Parabéns ao amigo.

"UM POUCO MAIS"

"Não o acuso de não decidir. Censuro-o por tomar decisões erradas. Se fosse por diferenças ideológicas, seria normal. Mas não: erros como os do IVA e os ataques às classes profissionais devem-se à maneira de ser do primeiro-ministro, que nas suas políticas evidencia, por vezes, uma teimosia e uma agressividade prejudiciais para Portugal. O problema deste rumo errado não é de agora, com a economia da Europa e do mundo a crescerem a níveis confortáveis e com as novas perspectivas financeiras a tornarem-se realidade. Com as OPA até parecemos um país quase rico. É sempre assim quando os socialistas estão no poder. Quem muito tem não tem razão de queixa. E quem tem menos recebe um rendimento mínimo ou um complemento de reforma. O problema são os outros 90 por cento! Para terminar: apesar de tudo isto, o primeiro-ministro é popular. Sem dúvida. O país gosta de quem tome decisões e não tenha medo de mandar. Demora um pouco mais até cair o cenário e a realidade ficar à vista. Um pouco mais. "

Sócrates visto, dois anos depois, por Pedro Santana Lopes (Público, sem link)



INFELIZ E LAMENTÁVEL

Fernando Santo, o bastonário da Ordem dos Engenheiros, disse que o acidente do Tua foi "mais uma" consequência do "desmantelamento" dos organismos públicos responsáveis pela manutenção das linhas ferroviárias. E, acerca da Ota, afirmou não perceber por que razão só foram analisadas duas localizações possíveis. Mário Lino, o ministro, ficou "chocado". "Infeliz e lamentável", foi como o infeliz e lamentável ministro classificou a entrevista do bastonário.

O PAÍS DO DR. STRANGELOVE


"Portugal tem o pior resultado da UE [ 20 por cento de pobres entre a população portuguesa] num outro indicador, o dos trabalhadores pobres, o que significa que o salário não protege contra a precariedade: segundo os mesmos dados, 14 por cento dos portugueses com um emprego vivem abaixo do limiar de pobreza, contra 8 por cento no conjunto dos Vinte e Sete."

in Público

19.2.07

DR. STRANGELOVE


" 2 anos a aplicar aos outros aquilo que não serve para os amigos", o melhor balanço de dois enigmáticos "anos sócráticos".

MAU PROGRAMA


Só de pensar que passou - ou passa - pela cabeça do PS mandar o dr. Vitalina Canas, o seu maravilhoso porta-voz, para o Tribunal Constitucional, fica-se com a sensação de que Alberto João Jardim é um grande político e Canas meramente um mau programa.

O ESPLENDOR DA RENÚNCIA -1


O governo, na pessoa do "hermeneuta da Ajuda", vai deixar Paolo Pinamonti abandonar a direcção artística do Teatro Nacional de São Carlos, provavelmente para o substituir por um neo-realista qualquer devidamente reciclado. Estou à vontade porque, ao arrepio de muitos que agora se calam perante esta saída inevitável - muitos deles trouxeram Pinamonti para Portugal e andaram literalmente com ele ao colo enquanto lhes foi útil - critiquei e tirei, em Abril de 2003, as devidas ilações das críticas que fiz sobre a gestão do Teatro e sobre as posições da então tutela. O afastamento de Pinamonti - num momento em que o TNSC aposta numa extraordinária produção da "Tetralogia" de Wagner, com a primeira jornada, A Valquíria, a estrear no próximo sábado - fará o Teatro mergulhar uma vez mais numa crise, se é que alguma vez se viu livre dela nos últimos anos. Só e mal acompanhado, Paolo Pinamonti lembra-me o "herói" nuclear da "Tetralogia", Wotan. Afinal, A Valquíria mais não é do que uma trágica metáfora musical sobre a renúncia, uma coisa intelectualmente incompreensível para burgessos funcionais sempre prontos a servir qualquer deus.

REBUS SIC STANTIBUS


Alberto João Jardim fez, à semelhança dos de cá, o que lhe competia. Quando refiro os de cá, lembro-me de instituições e nada mais do que isso. A Madeira foi alvo de um ataque político-partidário gratuito e o presidente do governo regional mostrou ao país que ainda não estamos todos "normalizados". Agora, os nossos compatriotas vão falar. Depois, logo se vê.

DESENGRAVIDAR

Por falar em regime, parece que o glorioso empreendedorismo nacional privilegia o despedimento democrático de mulheres grávidas. É uma preciosa ajuda para o governo e para a sua maioria que têm pressa em aprovar a legislação abortiva. Podem até colocar no preâmbulo que é mais uma "reforma" destinada a combater o desemprego.

VINTAGE

O sr. Lello, do PS, foi eleito presidente da Assembleia Parlamentar da NATO. Vê-se mesmo que os seus pares não o conhecem mas que nos conhecem. Guterres, Barroso ou Lello representam eloquentemente o que de melhor temos para oferecer no estrangeiro. Vintage do regime, não haja dúvida.

18.2.07

CONTRA OS PRECONCEITOS DE ESQUERDA


Em Dezembro, quando estive em Paris, visitei túmulos. Um dos que vi pela primeira vez, do lado norte do cemitério de Montparnasse, foi o da família Aron. Aos vinte e poucos, li a as "memórias" de Raymond Aron que alguém me trouxe da Bélgica. Estávamos em 1983 e, em Outubro desse mesmo ano, Aron desaparecia. Os nossos "liberais" e os nossos "democratas" têm muito a aprender com Raymond Aron. Pertenceu a uma estirpe, praticamente extinta, com biografia. Teve a felicidade de integrar uma notável geração de intelectuais franceses com quem polemizou a vida inteira, sobretudo por causa da deriva marxista da maior parte deles, nomeadamente Sartre. Aron era um grande conhecedor do pensamento marxiano - tinha uma formação filosófica de raiz germânica - e, porventura por isso, combateu todas as suas manifestações totalitárias. "J'étais le plus résolu dans l'anticommunisme, dans le libéralisme, mais ce n'est qu'après 1945 que je me libérai une fois pour toutes des préjugés de la gauche", diz Aron a dado momento das suas "memórias". Mais de vinte anos passados sobre a primeira edição francesa, a Guerra&Paz faz-nos o serviço público de editar a tradução das Memórias de Raymond Aron. Deviam ser de leitura obrigatória para o nosso pequenino galarim político. Para ver se ele se liberta de vez dos seus cediços preconceitos de esquerda.

O MANDO

Correia de Campos até pode ter razão no fecho de algumas urgências. Acontece que se explica tão bem como Manuel Pinho. Fala demasiado, mal e com uma arrogância insuportável. Deu-lhe para exibir o mando da pior maneira, evidenciando, sem margem para qualquer dúvida, que não tem um rumo. Tem dias. É com ele que contam para o aborto nos hospitais públicos? Pois.

ANNA/MARILYN


Tinha 39 anos e chamava-se Vickie Lynn Hogan. De verdade. A natureza, ao contrário da vida, foi-lhe generosa. Graças ao corpo, Vickie passou a ser Anna Nicole Smith. Tinha intimamente a ambição de se tornar, primeiro, Norma Jean, e, depois, Marilyn Monroe. Porventura a cabeça não a ajudou a chegar ao patamar mínimo do esplendor trágico da carreira cinematográfica da original. Só se encontraram na morte, eventualmente tão desejada por Anna como por Marilyn, cada uma à sua maneira, depois te terem sido tudo e o seu nada. Juntaram-se nesse instante imperceptível que todos os artigos, fotografias, filmes, revistas, noites, livros e dinheiro do mundo não chegaram para o evitar. Jogaram o lance solitário definitivo das suas vidas nas quais, aliás, nunca existiu propriamente uma vida. Aos 18 anos, já Vickie/Anna era mãe involuntária de um filho que a precedeu na solidão e na morte. Norma Jean quis ser mãe para poder ser a mãe que não teve, e nunca conseguiu. No momento derradeiro, só tinham por companhia o álcool e esses falsos amigos que são os comprimidos, os únicos que ficam depois de tudo desaparecer. Para muitos, Anna era apenas um belo corpo e umas belas mamas, tal como Marilyn era suposto nunca ter aberto a boca. O lugar comum do "morrem cedo aqueles que os deuses amam" aplica-se a estas mulheres com que a vulgaridade ainda hoje sonha e se masturba. A celebridade traiu-as. No momento em que desapareceram, já só eram dois seres humanos que se aperceberam da sua dramática condição. Como escreveu Norman Mailer a propósito de Marilyn - e, porque não, de Anna - qualquer delas foi atraída por aquela eternidade "she has heard singing in her ears from childhood, she takes the leap to leave the pain of one deadned soul for the hope of life in another, she says goodbye to that world she conquered and could not use. We will never know if that is how she went. She could as easily have blundered past the last border, blubbering in the last corner of her heart, and no voice she knew to reply."

17.2.07

UMA VISITA


Passam amanhã 50 anos sobre o início da visita de Isabel II de Inglaterra a Portugal. O Diário de Notícias lembra o evento, conseguindo - apesar do título - "omitir" Salazar das fotografias escolhidas. Pois bem. Quando estive na direcção do Teatro Nacional de São Carlos, o João Borges de Azevedo ofereceu-me a fotografia que ilustra este post, da autoria de um repórter da revista "Panorama". A "história" da foto é muito simples. Já nessa altura, o Presidente do Conselho tinha a mania de se "atirar" para as cadeiras. O sorriso dos dois estadistas deve-se à circunstância de Salazar se ter sentado bruscamente ao lado da Rainha, como se tivesse caído no sofá que ainda lá está. O repórter supreendeu o momento e a censura, pelos vistos, aprovou. Não consta que Isabel II se tivesse queixado.

AGORA OU NUNCA


Luís Campos e Cunha, que foi "só" o primeiro ministro das Finanças de José Sócrates, escreveu ontem um artigo no Público. Não vi ninguém fazer-lhe referência ou sequer citá-lo. Campos e Cunha, para a propaganda e para o pessoal do métier, é um "poeta morto". Que o desemprego tenha aumentado ao arrepio dos 150 mil novos postos de trabalho prometidos nos outdoors do PS, que o ministro da Economia raramente ultrapasse o patamar da anedota e que o orçamento de Estado "viva" dos mesmos "registos" de que viveram os antecedentes, nada disso parece preocupar as elites. Naturalmente, não são elas que estão desempregadas ou à espera que a economia desembuche. Na entrevista colorida ao Expresso (Única), o primeiro-ministro falou para o "centro" e para a "direita" que votou "não" há oito dias, e pouco mais. Ou seja, passou a entrevista a "malhar em ferro frio" e a não falar do que se segue ao defunto referendo que já não interessa a ninguém a não ser à D. Inês Pedrosa que supreendeu nele a "conclusão" do "25 de Abril". Que imagem tão poucochinha para tão ilustre "escritora". Volto a Campos e Cunha e ao que interessa. "Dentro de três ou quatro meses, saberemos como classificar o actual Governo. Se um governo de reformas estruturais, na Segurança Social (regime geral e função pública), nos impostos, nos custos salariais do Estado, na reorganização do ensino e da saúde, no apoio a idosos pobres. Se um governo do congelamento das propinas, do desrespeito pela independência das autoridades reguladoras, da gestão política de empresas públicas, da concentração de poderes, da TLEBS, dos "grandes" projectos injustificados. Seja pelas implicações orçamentais para 2007, seja pelo impacto na economia, seja pela exposição internacional do país no segundo semestre, seja pelo calendário eleitoral, ou ainda pela fotografia deste Governo na história, os meses que vivemos são absolutamente cruciais. A posição do Governo, agora reforçada politicamente pelo sucesso no referendo, não admite desculpas. A hora da definição já há muito que chegou, mas, neste momento, nada pode ser disfarçado nem adiado: é agora ou nunca."

OPÇÕES

O dr. José Miguel Júdice, cuja escrita me habituei a admirar noutra encarnação, saiu do PSD. Júdice fez parte daquele bando do eixo Lisboa-Cascais que, nos anos 80, se arremessou contra Balsemão e apoiou Cavaco na Figueira de Foz, em 1985. Depois afastou-se a dedicou-se ao negócio da advocacia - com o sucesso que se conhece - passando fugazmente pela direcção partidária de Marcelo. Como bastonário dos advogados, teve alguma piada. Como ex-bastonário, não tem graça nenhuma. Deu em andar zangado (só lá vai velar mortos e não quer retrato) e, agora, tomou-se de amores pelo senhor engenheiro que considera rigorosamente "ao centro" e putativo líder do mesmo. Júdice veio das "extremas" e passou pelas prisões do PREC. "Democratizou-se" tanto que, nesta última campanha sobre o aborto, andou de braço dado, salvo seja, com os "herdeiros" daqueles que o prenderam. Costumava pensar bem. Agora, nem o leio. Ele considera o PSD dispensável por causa do sobredito engenheiro. Por isso, ele saiu. Por isso, eu regresso.

A BANDEIRINHA


Embalada pela "entrada de Portugal no século XXI" que aparentemente teve lugar no domingo passado, a Juventude Socialista - uma mistura de "bloquistas" frustrados com adolescentes precocemente envelhecidos que se levam a sério - vai, uma vez mais, tentar provocar o senhor engenheiro com a discussão em torno de um projecto de lei acerca de casamentos entre same sexers. A JS quer, ou imagina que quer, apresentar tal projecto na AR. Volta não volta, vem esta conversata inútil para não nos esquecermos que o PS é "moderno" e, em momentos de profundo delírio, até "progressista". Ora, nesta matéria, não se trata de ser "moderno" ou "progressista". Trata-se de ser realista. E o realismo manda que se diga, de novo, o seguinte. As disposições sobre "direito da família" que constam do nosso Código Civil e legislação conexa, estão concebidas para a família dita tradicional, constituída a partir de criaturas de sexo diferente. Gosto tanto de uma "família" dessas como de quaisquer outras. No entanto, entendo que devem ser criados institutos jurídicos distintos dos preconizados no "direito da família" e legislação complementar para salvaguardar direitos e consagrar deveres a quem é feliz de outra maneira. Andar a brincar com isto, dia sim, dia não, apenas por causa da bandeirinha, é que não.

16.2.07

CML

De arguido em arguido, até à dissolução final.

LER OS OUTROS


PIOR

O senhor engenheiro quer ver aprovada a nova legislação sobre o aborto até 7 de Março. Não haverá nada de mais urgente para fazer neste país ? É que, quanto mais depressa, pior.

A VINGANÇA...

... serve-se com aguaceiros.

AO VENTO - 2

O PS de Lisboa, entregue ao sr. Miguel Coelho, também está muito bem servido, não haja dúvida.

AO VENTO

Quando marchava em direcção à minha viatura, estacionada bem perto do Tejo, depois do cais do Sodré, passou por mim Fontão de Carvalho, na Rua do Arsenal. Com tantas câmaras à porta da Câmara, ignoro como é que o dito cujo conseguiu escapar. Mais adiante, alguém - uma voz feminina - o chama do parque de estacionamento de Santos, meio vazio e com o ar lúgubre próprio da noite fria que começava. Fontão e Gabriela Seara - que acabava uma conversa ao telefone - entraram no Megane cinzento da ex-veradora e conversaram, anónimos, às escuras. É uma imagem eloquente do estado da CML. Ao vento, entre sombras e árvores.

CHUTOS E PONTAPÉS

Estava preparado para lhe responder, a si, a quem a blogosfera engraçadinha trata por "maradona". Como o seu nome desapareceu do Pulo do Lobo, não consigo tratá-lo pelo nome próprio como gosto de fazer. Não tenho procuração póstuma daquele a que delicadamente V. apelida de "cobarde mesquinho cabraozinho de merda com o campo de visão de uma toupeira" para o "defender". Aliás, eu estava a gostar da sua prosa musculada "à El Pibe" (acho que era assim que lhe chamavam) até chegar ao "cobarde mesquinho cabraozinho de merda com o campo de visão de uma toupeira". Para estar à altura das suas "questões" e de um "rigor histórico" desta natureza, precisava de escrever no Braganza Mothers, coisa que ainda não me decidi a fazer. Assim, e se não se importa, espere por um dos próximos números da Revista Atlântico em que, humildemente, este seu "cabraozinho de merda" tentará responder-lhe. Bons chutos e pontapés.

OS LADOS DA QUESTÃO

O dr. José Miguel Júdice pergunta no Público se "há futuro para os partidos da direita em Portugal". Tem razão em perguntá-lo. Com pessoas como ele, da dita "direita", em alianças espúrias e em convergências "intelectuais" com as "esquerdas", é que de certeza não existe futuro algum.

JÁ CHEGA

Esta moça não consegue libertar-se dos maus fígados nem do PREC soixante huitard que lhe vai na cabeça. Já chega.

PAIS E FILHOS


Não existe melhor forma de começar o dia do que a ler umas "verdades". O que me encantou mesmo foi o cuidado posto no termo utilizado. O vernáculo assenta melhor aos destinatários. Já ontem, na capa do Público, reparei numa noticiazinha que informava serem as criancinhas portuguesas do mais triste que há na Europa. Pudera, coitadinhas. Com os pais que têm.

NOTÍCIAS DE UM DIÁRIO

A seguir.

15.2.07

"BOAS PRÁTICAS"


Cavaco Silva escolheu ausentar-se do debate sobre o aborto. Aterrou agora nele. Em apenas dois dias, já falou duas vezes no assunto para lembrar ao Parlamento que convém ter em conta as famosas "boas práticas" europeias sobre a matéria. Ou seja, Cavaco percebeu a tempo que, fora o "a pedido", não existe mais nada. A D. Odete e o sr. Fazenda, aliás, lembraram isso mesmo ao PS "responsável". "A pedido", ponto final. De qualquer forma, o SNS e o dr. Campos foram mandatados pelo "povo" para criarem as condições que possibilitem a realização segura e "livre" de abortos até um determinado período, com ou sem razão alguma. Ao menos nisto, que haja lugar a "boas práticas", já que realizar um aborto, acho eu, é tudo menos isso. E Cavaco está atento à contradição.

NÃO VOLTAM

Carlos: será que as recentes companhias no referendo sobre o aborto te fizeram mal? Ou o Daniel Oliveira, o "papa mobile" dessas companhias, é assim tão convincente? Da direita, de liberal, de europeu, de defensor da liberdade das pessoas, de acolhedor da tradição naquilo que a tradição tenha que mereça ser acolhido, enfim, de tudo isso eu comungo um pouco. Constatar duas ou três evidências a propósito de Oliveira Salazar, faz parte deste acervo. Repara que, no limite, nos podemos dar ao luxo de sermos "salazaristas" tal como possuímos uma estátua do Sebastião Carvalho e Mello no meio da cidade de Lisboa e nunca ninguém se queixou. Ao contrário dos "danieis oliveira" desta vida, eles não voltam.

CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS

Se todas as pessoas que são constituídas arguidas, sejam elas condutores de automóveis ou vereadores de câmaras municipais, desaparecessem de cena em virtude dessa fatalidade, o país paralisava. Dito isto, o líder do PSD deve tirar consequências políticas (apenas isso, políticas) da rebaldaria em curso em Lisboa. Se o não fizer, como - e bem - fez nas eleições de Outubro de 2005, será altura de começar a tirar consequências políticas dele.

OS ENGRAÇADINHOS -2

Nem o Público resistiu à vulgaridade dos engraçadinhos - aliás, paga a alguns deles para isso - e lá colocou o homem na primeira página como o "pior português de sempre" naquela "eleição" circense desta semana. De resto, tem razão o Eduardo Pitta. "Optar por uma galeria de medíocres em obediência ao pluralismo, não leva a lado nenhum (para isso já temos a Assembleia da República). O progressivo descrédito da “opinião” radica nesse pecado original. O problema não são os militantes partidários — há três ou quatro que não deixam por isso de ser bons colunistas —, o problema é mesmo a incompetência. Eu não quero saber se fulano é “engraçado” e até é do Bloco. Ou se beltrano é sisudo e pertence ao comité central do PCP. Ou se sicrana é bonita e tem pedigree. A mim interessa-me ler. Mas para isso é preciso que haja texto."

O PAÍS DELE

Muitos comentadores excitados vieram aqui travar-se de razões com a história recente. Tudo por causa de Salazar. Pelo meio, naturalmente, apareceram os insultos costumeiros que bani. Dá-me ideia que não leram o que está lá escrito. Leram apenas o que a respectiva predisposição genetico-intelectual lhes permitiu ler. Não sendo manifestamente um democrata, Salazar, em cinquenta anos de vida pública, nunca enriqueceu de um dia para o outro. Pelo contrário. A documentação é de consulta pública. Hoje em dia, quaisquer meses numa sinecura pública dão direito a enriquecimento instantâneo, provavelmente lícito porque "democrático". Salazar perseguiu, mandou prender, exilou, louvou o "safanão dado a tempo", censurou etc., etc.? Claro que sim. No entanto, a mentalidade persecutória e mesquinha das "esquerdas" não os autoriza a ir demasiado longe nesta matéria. Pelo contrário, fui claríssimo sobre a natureza autoritária do regime. De lá para cá, apenas mudou a natureza do autoritarismo e dos pides. Agora é democrático e eles são democratas. De resto, tirando a Europa, alguns costumes básicos de civilização, a oportunidade histórica e o "equipamento social", o país é essencialmente o dele, porém desprovido da "recta intenção" de que falava o insuspeito António José Saraiva. E sem ela, não vamos a lado nenhum.

O MAIS PEQUENO GRÃO -2

A COMPREENSÍVEL INSENSIBILIDADE DO SER


Estreia hoje Hannibal, A Origem do Mal que traduz em filme o último livro de Thomas Harris sobre um dos meus "heróis" preferidos, o dr. Hannibal Lecter. Deve ser uma rematada porcaria. O livro está longe do melhor da tetralogia em torno do estranho psiquiatra - Hannibal, de 1999 - cuja reprodução cinematográfica é, essa sim, grandiosa. Fica isto. "Jantou sozinho e não estava só. Hannibal tinha entrado no longo inverno do seu coração. Dormia profundamente e não era visitado em sonhos tal como os humanos são".

14.2.07

NO DIA DE SÃO VALENTIM...

... a melhor definição que conheço do chamado "belo sexo". Melhor é, de facto, impossível.

DANIEL, O CENSOR

Abespinhado e traumatizado, o Daniel Oliveira, verdadeiro factotum da televisão "democrática" e conhecido evangelista das boas causas - as dele e as dos amigos dele, naturalmente -, indignou-se com a exibição do documentário de Jaime Nogueira Pinto sobre o Doutor Salazar. A indignação foi tanta que lembrou imediatamente a natureza de "serviço público" da RTP. Não sei se o Daniel entende que a melhor forma de prestar "serviço público" corresponde a rasurar a história. Ia a dizer censurar, mas isso é suposto ser um exclusivo do documentado. Não é verdade, Daniel?

A PERGUNTA...

... não era clara?

"HARMONIAS SOCIAIS"


O prof. Vital Moreira, por causa do cartãozinho, teve um momento de rara beleza. Escreveu o ilustre mestre coimbrão o seguinte: "a primeira cidadã portuguesa a ter o novo cartão é aluna da Escola Manuel de Arriaga, no Faial. Curiosamente, dizem-me dos Açores, o primeiro cartão oficial de identidade nacional também foi atribuído, há quase um século (1914), a outro faialense, o primeiro presidente constitucional da então jovem República, justamente Manuel de Arriaga. Não pude confirmar esta informação. Mas se não é verdade, bem poderia ser. A História tem destas coincidências felizes..." Os "republicanos", entre outras coisas, gostavam de exibir estes "vultos" supostamente dados a transportes líricos como prova da sua superioridade intelectual e política. Arriaga era convenientemente poeta. Segundo os "ditadores democráticos", estava demasiado conotado com os "moderados". Viam nele, mais do que o PR, um chefe de facção. Por isso, nunca podia ter sido a "salvaguarda" constitucional e institucional de um regime dominado essencialmente pelos "democráticos". Nem tal lhe estava na "massa do sangue". Deste modo limitava-se a tentar cumprir o seu papel ornamental, o que, aliás, nem ele nem ninguém pretendiam que ultrapassasse. Quanto ao resto, a história registou o fundamental. E o fundamental é muito pouco. As palavras de Vasco Pulido Valente em O Poder e o Povo - A Revolução de 1910, resumem-no. "Em nenhum momento da sua longa vida excedera (ou haveria de exceder) uma mediocridade honesta. A seu favor contava-se apenas um passado de pioneiro, assaz diletante, e quase quatro décadas de fiel serviço ao Partido [Republicano]. Mas agora estava velho e cansado e a cada passo mostrava que não percebia nem se adaptava às duras realidades do mundo republicano. Sobrevivente de mais simples e tranquilos tempos, autor de um livro chamado Harmonias Sociais, entrou para a presidência em estado de inocência política e saiu para morrer, deixando atrás de si só desilusões e ruínas". Arriaga, "uma coincidência feliz"?

LER OS OUTROS

(...) E que conceito de "modernidade" e "progresso" autoriza a fazer dos concelhos mais rurais, envelhecidos e analfabetos do Sul - aqueles em que o "sim" teve os melhores resultados -, a vanguarda do "progresso" e da "modernidade"? Para perceber esta estranha mentalidade, teremos de recuar ao século XIX. As esquerdas em Portugal acreditaram sempre que a "modernidade" consistiria numa simples versão laicista da homogeneidade católica do Antigo Regime: onde antes todos eram "católicos", todos um dia seriam "homens de esquerda" (inclusive as mulheres...). Foi o que aprenderam com Auguste Comte. O "progresso" iria consistir no triunfo total do secularismo socialista, tal como a história antiga teria consistido na expansão da igreja cristã. As direitas seriam uma espécie de índios americanos, condenadas a desaparecer perante as caravanas e comboios da esquerda. Foi assim que Afonso Costa, em 1910, se convenceu de que podia acabar com o catolicismo em "duas gerações". O que aconteceu a seguir é conhecido. Mas, pelos vistos, houve quem não tivesse aprendido nada. As esquerdas portuguesas dão-nos as boas-vindas ao século XXI com as ideias do século XIX. Se algo define a "modernidade", não é o triunfo exclusivo desta ou daquela ideologia ou modo de vida, mas a institucionalização do pluralismo. O "não" de domingo não representa o Portugal antigo: é apenas a outra metade de um país fundamentalmente plural. Já houve quem, a propósito, lembrasse o mapa eleitoral de 1975. Mas há projecções geográficas mais antigas da diversidade política dos portugueses. A primeira que conheço é a do mapa do apoio das câmaras municipais ao Governo liberal de 1822: lá está, já muito nítida, a separação entre o Sul e o Norte. Assim como as esquerdas não têm o monopólio do Portugal "moderno e progressivo", também as direitas não possuem o exclusivo do Portugal "antigo e tradicional": a base sociocultural que sustenta as esquerdas políticas é tão antiga como a que sustenta as direitas. Ninguém, neste país, tem o privilégio do progresso e da democracia, ou das cidades e dos jovens. Por exemplo, nos distritos em que o "sim" ganhou, foi nos concelhos das capitais de distrito que o "não" obteve resultados acima da média: no Sul, o "não" é urbano. Isto quer dizer apenas que as cidades são, em cada área cultural, mais heterogéneas do que o campo envolvente. Em Identificação de Um País (1986), José Mattoso explicou como esta pluralidade estava inscrita no código genético de Portugal. Pouca gente, pelos vistos, percebeu a lição. O que a modernidade fez em Portugal foi dar dimensão política a velhas fronteiras culturais. É significativo que, tendo a sociedade portuguesa mudado tanto nos últimos quarenta anos, essas fronteiras tenham permanecido, independentemente das velhas civilizações rurais com que andaram associadas. Aqueles que aspiraram a governar Portugal longamente e mais ou menos em sossego souberam sempre que, além do país que estava com eles, havia outro país que precisavam de ter em conta. Até os republicanos, no fim, procuraram corrigir o seu terrorismo laicista, com António José de Almeida a impor o barrete cardinalício ao núncio papal. E Salazar, ao contrário do general Franco, nunca restaurou a monarquia e o catolicismo como religião de Estado. Este país e o seu futuro não pertencem ao "sim", nem ao "não". Não entrámos na modernidade no domingo passado. Estamos nela há duzentos anos. O tempo suficiente para percebermos que nunca teremos todos as mesmas opiniões. Tirem portanto as pêras postiças à Afonso Costa, e portem-se como gente grande.

Rui Ramos, in Público

O CARTÃOZINHO

No Faial, para acentuar devidamente a nossa endémica periferia, o senhor primeiro-ministro apresentou o famigerado "cartão único", uma coisa que nos estava manifestamente a fazer muita falta. Mais. O chefe do governo escolheu o "cartão" como a evidência "de uma administração pública competente". Tem graça. Para umas coisas, a administração pública é incompetente. Tão incompetente que o governo imagina "reformá-la" das formas mais desconexas e incongruentes, surpreendendo em cada funcionário um putativo inimigo a abater. Todavia, para fazer o cartãozinho do dr. Costa e aproveitar para um naco de propaganda, a administração pública já serve. Uns dias besta, outros dias bestial.

DANIEL PLENÁRIO


Que dê por isso, é a primeira vez que o Daniel Oliveira aqui vem e que eu me arrasto até ao seu Arrastão. Qual é o "tribunal plenário" onde me quer levar, Daniel? O do BE? Ou o da velhíssima "frente" do correcto em que andou misturado com salazarinhos envergonhados? Não tenha medo da história que ela não se pega. Apesar de tudo, vejo que aprendeu com os maus exemplos. Lá por vir da "esquerda", o respeitinho é uma coisa sempre bonita, não é verdade?

UM DOS NOSSOS MAIORES


Jaime Nogueira Pinto apresentou um programa notável sobre o Doutor Oliveira Salazar. Falou, como lhe competia, na "ditadura democrática" da I República, a famosa "ditadura da rua" a que o "28 de Maio" pôs cobro. Falou das origens humildes, da rectidão e da probidade do homem do Vimieiro, dentro das ruínas da casa de alguém que deteve o poder máximo no país durante mais tempo, em pleno século XX, sem tergiversações e com absoluta frieza. Falou do patriota, do rigor financeiro sem demagogias, do "fomento económico", de um regime autoritário sem veleidades a pretender ser outra coisa qualquer. Falou da firme e intransigente defesa do Ultramar como último avatar de uma "grandeza" que sempre nos escapou e que, aos de hoje, soa a algo incompreensível. A partir dos anos 50, Salazar "internacionalizou" Portugal como pôde e, vagarosamente, afastou-se - a ele e a nós - do mundo. Falou, em suma, de um "Salazar que agarrou o país". Não foi um democrata e isso, na altura, não era exactamente um pecado. Em nome da sua concepção do país como "império", perseguiu, prendeu e exilou. Percebeu muito cedo que, depois dele, não haveria mais lugar para ele. "Cheguei ao fim. Os que vierem depois de mim, vão fazer diferente ou vão fazer o contrário e contra mim", confessou a Franco Nogueira em 1966. Nunca sentiu a necessidade de se afirmar ou de se disfarçar como "progressista". Pelo contrário. Era um pessimista impenitente, profundamente conhecedor dos desequilíbrios humanos, um anti-liberal e um conservador. À sua peculiar maneira, foi um dos nossos maiores.

13.2.07

OS ENGRAÇADINHOS

Na SIC Notícias está um bando de engraçadinhos do regime - só falta o Araújo Pereira, o Herman do socialismo "socrático" - a "eleger" o "pior português de sempre". Por que é que não se escolhem uns aos outros?

SÉGOLÈNE, LUZ E SOMBRA


Outra tontinha que anda a ameaçar a França com a hipótese de ser "presidenta", é a sra. D. Ségolène Royal. De Gaulle, Mitterrand, e até Giscard d'Estaing, os dois primeiros na tumba, devem rebolar-se de riso com a emergência desta criatura puramente artificial que pretende aquele que, malgré tout, ainda é um belo posto político neste mundo de Cristo. Não, policiazinhos de costumes, não é por ser uma mulher. Já aqui saudei a sra. Clinton em quem, se fosse americano, não hesitaria em votar. Ségolène apresentou ontem as suas "ideias" para a França. Tudo disparates despesistas que incluem uma extravagância musculada: o enquadramento militar dos jovens criminosos, para, julga ela, agradar à "direita". Há dias saiu um livrinho de uma antiga colaboradora da senhora Royal, de seu nome Evelyne Pathouot, Ségolène Royal, ombre et lumiére (Editions Michalon). Nós não temos esta tradição de "biografar", em tempo real, os nossos políticos. Na verdade, para a maior parte daqueles que estão no activo, qualquer nota de rodapé serviria. Ségolène lembra um Blair da "loja dos trezentos". Infelizmente não está sozinha. Esperemos, para sossego da Europa, que a senhora desapareça tão depressa como apareceu.

PALAVRA DE ESTALINISTA

E o sr. Jerónimo já veio avisar que não há lugar a objecções de consciência no SNS. Palavra de estalinista.

NÃO SE PODE ELOGIAR -2

Nas ditas jornadas, o dr. Correia de Campos falou da saúde como se fosse um "comboio" ou uma "caravana". E o senhor engenheiro auto-classificou-se de "progressista" por causa do referendo. Que tristeza de país. Que parolice.

NÃO SE PODE ELOGIAR


Ainda não passaram vinte e quatro horas sobre este post e já o dr. Alberto Martins deu o braço a torcer. Numas obscuras jornadas parlamentares do PS, Martins jurou que afinal não haverá "aconselhamento obrigatório" pré-aborto na regulamentação legislativa por vir. Isto comprova duas coisas. A primeira, que o PS, nesta matéria, foi "capturado" pelas e pelos extremistas do "na minha barriga mando eu", pelos do BE e pelos do PC, tudo gente que quer uma espécie de PREC abortivo imediato. A segunda, talvez mais grave, que o PS não tem uma ideia sobre o que fazer em concreto do seu maravilhoso "sim responsável" ao contrário daqueles seus ilustres compagnons de route. Cavaco, que esteve desatento em todo este processo, deverá prestar agora mais atenção ao que aí vem, se fizer favor. O "logo se vê" que procurei explicar aqui chegou mais cedo. Enfim, não se pode elogiar.

INTENDÊNCIA

Os comentários imbecis e "afonso costistas" ao post sobre o Papa serão oportunamente banidos, bem como os que vierem aqui acusar-me de censura. Se quiserem ter uma opinião e uma cara, são só três passos via Blogger.

OS MONOPOLISTAS


Espero que o Eduardo não se congratule com a circunstância dos 480 euros vezes não seu quantos mil, anunciados pela veneranda figura jurisprudencial Fisher Nogueira. Dá-me ideia que existe por aí uma perversa e oculta alegria por ver o sargento atrás de grades - alegria essa partilhada por muitos dos "libertários" do domingo passado - e uma ternura inexplicável pelo famigerado "pai biológico" de Esmeralda Porto. O tropismo legalista e o respeitinho ainda podem muito neste pequeno país de salazaritos, verdadeiras cópias ordinárias do original. Sou o mais insuspeito possível em matéria de manadas. Os que bramiram muito adequadamente contra a prisão das mulheres - por acaso não existe nenhuma em tal condição por ter realizado um aborto contra-legem - concordam com os seis anitos de prisa para o sargento de Torres Novas, não é verdade? Depois não me venham com o monopólio do coração (e da razão, naturalmente) para eu não ter que os mandar para o Braganza Mothers.

O MAIS PEQUENO GRÃO


Na abertura de um seminário sobre "direito natural", Joseph Ratzinger explicou, uma vez mais, que nenhuma lei terrena pode contrariar a do Criador. Não excomungou ninguém, nem chorou sobre o leite derramado. O Papa não ignora que, dia após dia - e desde há séculos - a lei e vontade "terrenas" não têm feito outra coisa senão "contrariar" a lei e a mensagem do Criador. Aliás, haverá porventura maior contrariedade do que a própria Cruz? Milhões de católicos por esse mundo fora não deixam de sentir profundamente o mistério, a fé e o sacrifício do Filho do Homem e, no entanto, "pecam", naquele incontornável sentido que a Igreja, a Bíblia e os seus Doutores sempre ensinaram. Não é por causa do "progresso" ou da regulação da vida privada ou pública que a Igreja, nos seus fundamentos e como lugar de referência, se diminui. Pelo contrário. O Papa Bento XVI - homem moderno que os filisteus ignorantes se recusam a ver como tal - sabe perfeitamente em que mundo vive. Como Jesus, o seu Reino não é exactamente o "deste" mundo, mas o Papa está nele, conhece-o melhor do que ninguém e não abdica de defender, como lhe compete, o mais pequeno "grão". E não abdicar, nos dias que correm, é um sinal permanente de esperança contra o fracasso.

O BEZERRO DE OURO

Os jornais de hoje já dão conta do "negócio". Mais rápido que a lei, mais pragmático que os bons sentimentos, mais utilitário que a burocracia, o negócio do aborto começa a montar-se. Correia de Campos e o "sim responsável" do PS, menos de quarenta e oito horas depois, já estão nas mãos do instinto rapace da "modernidade" e do dinheiro. Ao contrário deles, o bezerro de ouro não dorme em serviço. Não se ponham a pau e depois queixem-se.

STARDUST MEMORIES

À memória do Duarte e do José Manuel que, se ainda cá estivessem, teriam votado "sim", ao contrário de mim. Continuaríamos amigos, sempre à espera do imprevisto. E à Fernanda, porque ela sabe porquê.

12.2.07

O FIO DO HORIZONTE

1. Sim senhor, é mais bonito. Porém, ao percorrer a lista dos "colunistas" e "opinadores", disponibilizada na última página, fiquei com uma dúvida. O Vasco Pulido Valente mantém-se? Não o vislumbrei na "pauta horária". Dos "novos", vale a pena saudar Luís Campos e Cunha, fugaz ministro das Finanças. Espero que não se limite à economia.
2. O Eduardo Prado Coelho está a recuperar de uma delicada intervenção cirúrgica. Dizem-me que bem. Como ele escreveu em O Reino Flutuante de outras eras, a vida - o "nosso quotidiano trabalho na história" - é "luta e rouquidão, risco e manhã". Força.

MUDANÇAS

Atacado de excepcional moderação e de raro bom senso, o líder parlamentar do PS, Alberto Martins, deu uma entrevista a Mário Crespo sobre os "trabalhos de parto" do Parlamento depois do "sim" de ontem. É de elementar justiça reconhecer isto já que Martins baralhou-se demasiado no passado por causa do referendo. A entrevista também serviu para colocar um freio nos dentes àqueles que julgavam que, a partir de hoje, íamos assistir a uma espécie de "milagre de Fátima" ao contrário no SNS e no Código Penal. Não vamos. Todavia, não tenho a certeza que Correia de Campos seja a pessoa indicada para preparar a regulamentação que se seguirá, porventura só em 2008. As declarações que proferiu sobre o SNS demonstram um irrealismo assustador. Com o devido respeito, o governo podia aproveitar a mudança legislativa que se avizinha, "mudando" Correia de Campos. Ganhávamos todos com isso. Ele também.

O NOVO SNS

As novas funções do SNS pelo João Miranda.

TREMORES

Parece que ocorreram uns tremeliques em Lisboa. No dia 31 de Outubro de 1755 foi mesmo a sério. Não houve liberalização que nos safasse.

DAQUI PARA DIANTE

Não existem duas leituras. A partir de agora, há legitimidade para alterar a lei e liberalizar o aborto a pedido da mulher, sem qualquer tipo de justificação, até às dez semanas de gestação. Daí para diante, como é óbvio - e convém lembrá-lo agora que se encerra definitivamente este debate – o aborto continua previsto e punido como crime, com as causas exculpativas em vigor. Ponto final quanto a isto. O resultado, no entanto, foi desastroso para a “política”. Em primeiro lugar, para um dos vencedores, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro. Empenhou-se quanto pôde neste referendo e, mesmo assim, não conseguiu convencer mais de cinquenta por cento dos eleitores pelo menos a votar. Aliás, todos os líderes da “esquerda” estiveram de alma e coração nesta campanha e, nem por isso, os eleitores se excitaram com isso. Ribeiro e Castro conta pouco e aparentemente ninguém lhe deu muita atenção. Marques Mendes lavou vagamente as mãos e também não ganhou nada com isso. Finalmente, o Presidente da República nem sequer apelou ao voto na véspera. Por causa do aborto, toda a gente se distraiu da actividade do governo socialista, justamente no ano crucial da legislatura. Resta, pois, o futuro. E o futuro passa obrigatoriamente por acompanhar com a maior atenção toda a actividade do governo daqui em diante. Pode, aliás, começar-se pelo “serviço nacional de saúde”. O governo fica com o ónus de, entre outras coisas, dotar este sistema com condições para que a nova lei se possa cumprir com segurança e eficácia. E, por outro lado, o de não viabilizar os negócios chorudos que se avizinham com a liberalização aprovada a qual, certamente, não acabará com os abortos clandestinos. Daqui para diante, não há desculpa para mais nada.
publicado no Diário de Notícias

LER OS OUTROS

Escrever isto, em 2007:

"Acordar

com a sensação de que a longa noite obscurantista chegou ao fim."

Nem dois pares de estalos serviam para a acordar da "longa noite" que vagueia na cabeça dela, se é que a tem. Outro a precisar de duas bofetadas - estas posso dar-lhas porque é meu amigo - é este. Oh rapaz, a "formiga branca" e a "carbonária", só mesmo nos livros de história. E a um cosmopolita como tu fica mal tanto jacobinismo demodée.

CONTRA A FANTASIA


De um amigo de muitos anos feito, um e-mail que merece um post. Eu sei perfeitamente que Marcelo fez o que pôde pelo sucesso do "não". O problema não é esse. É tê-lo feito à sua maneira, uma maneira que, a dado passo, dava a volta a si mesma. De resto, amigos como dantes, quartel-general em Abrantes. Agora, existe uma outra "luta" que continua. Contra a fantasia. E aí, acho que estamos todos juntos.

"És mto injusto com o MRS, que se bateu com coragem pelo não. Podes pôr em questão a forma como o fez. Mas surpreende-me que, numa floresta de silêncios, de transigências, de cumplicidades calculistas e oportunistas, vás bater num gajo que deu a cara e palmilhou km's para defender, como soube e como achou que pôde, aquilo em que acreditava. Que o Pacheco Pereira, adepto do sim, o faça - ele que não disse uma palavra sobre a crueza feroz das intervenções do Rui Rio, p. ex. - percebo. Está condizer com a sua inteligência e, sobretudo, com a sua formação ideológica-político-cultural. Que tu o faças, surpreende-me e entristece-me. A derrota do não não é culpa do MRS. A derrota do não é culpa dos inteligentes que, sob o patrocínio do actual Patriarca, destruíram a TVI (no tempo em que esta sigla designava a Televisão da Igreja) para serem muito apreciados pelos laicos, republicanos e socialistas deste mundo. Ou dos conservadores, dos liberais ou dos social-democratas que, entre nós, têm tido responsailidades no domínio da educação, da cultura e da comunicação. Os que subsidiam generosamente as Barracas ou as Cornucópias deste mundo, os que colocam na RTP as direcções de informação e programas que agora lá estão, a contratar gatos fedorentos, etc., etc."

11.2.07

NÓS


Parece, a avaliar pelas esclarecidas declarações de membros do governo, do dr. Louçã, do prof. Rosas e do sr. Jerónimo de Sousa, que entrámos na civilização do século XXI depois das 20 horas de hoje, seja lá o que isso for. Para outros, andámos para trás nesse momento fatal. Modestamente, acho que estamos exactamente no mesmo ponto em que sempre estivemos. E o primitivismo não se referenda.

OS COLABORACIONISTAS (versão final)

Uma das coisas mais desagradáveis da campanha que hoje culminou no voto, foi ver que nem toda a gente que se envolveu nela directamente percebeu de que lado estava. Explico-me. Amanhã, ou o mais tardar depois de amanhã, o país tal como ele é volta às nossas vidas em todo o seu horrível esplendor. Começa, finalmente, o pior ano da legislatura - não me digam que ainda não tinham percebido a evidência- e aquele que poderá salvar ou crucificar o governo e a maioria do espartano Sócrates. Muita gente válida do lado da denúncia e da crítica impiedosas (não conheço outras) ao manto diáfano de fantasia em que o PS e o governo nos pretende envolver com o seu "reformismo" de opereta - devidamente apaparicado pelo prof. Cavaco - esteve com o governo e com o PS nesta campanha. Por exemplo, ao alinhar pelo "sim", essa gente está implicitamente a dizer que acredita no SNS, nas urgências, nos hospitais e no INEM do dr. Campos, que aceita o negócio privado e chorudo do aborto "privado", que acha sublime essa fada do PS que se chama Maria de Belém, que aceita o autoritarismo do chefe e do seu - para já - mais dilecto colaborador nesse autoritarismo "democrático", o dr. Costa (o tal do "não estão em causa considerações éticas"), etc., etc. Como o "sim" ganhou, convém a esses colaboracionistas perceberem que, acima de tudo, ajudaram a uma vitória deste PS e deste governo. Ou será que, na sua inquietante ingenuidade, imaginam que são as mulheres, humilhadas e ofendidas, que preocupam o senhor engenheiro e respectiva tropa de choque? Que foi por causa delas, coitadinhas, que Sócrates veio a correr da China, declamou piedosa retórica em jantares e conferências, e mandou avançar com o espantalho do "fica tudo na mesma se não me derem o votinho"? A "direita" sai duplamente humilhada desta cena. Primeiro, pelas parvoíces que alguns dos seus prosélitos disseram e escreveram a propósito do aborto. Em segundo lugar, pelos silêncios comprometidos e pelos alinhamentos com espertalhões da política "dura" com quem andaram a dançar o vira em nome de uma "causa" que não lhes pertencia. Ninguém, da "esquerda" ou da "direita", lhes agradecerá o disparate e, muito menos, o frete.

Adenda: Este texto é igual ao que escrevi de manhã, lá mais atrás. Limitei-me a actualizar os tempos verbais e a evidência da vitória do "sim", desaparecendo os "ses". Apenas uma palavra final sobre isto. Marcelo Rebelo de Sousa teve uma péssima prestação durante toda a campanha, ora aparecendo como "comentador", ora como "partidário", ora como nada. Mais valia ter ficado pela última.

DAQUI PARA DIANTE - 5

Na SIC, o ministro da saúde não pára de falar em "boas práticas". De que SNS estará ele a falar? Ou será do INEM?

DAQUI PARA DIANTE - 4

Um senhora doutora do "sim", rodeada de criaturas do mesmo sexo, todas lacrimejantes, anunciou ao país que amanhã há um novo "serviço nacional de saúde". Só se for na cabeça dela.

DAQUI PARA DIANTE - 3

Também existe outra hipótese. Cumprindo-se o ritual de 1998-2007, ficamos à espera de um novo referendo com a mesmíssima pergunta?

DAQUI PARA DIANTE - 2

Por uma vez, o prof. Vital Moreira tem razão. Se o "sim" ganhar, mesmo em maré abstencionista, existe legitimidade para alterar a lei. O aborto poderá assim ser liberalizado até às dez semanas de gestação e ser realizado dentro desse prazo a mero pedido da mulher, sem nenhuma justificação. Daí para diante, o crime continua previsto e punível. Se ganhar o "não", a impunibilidade só abrange as excepções em vigor.

DAQUI PARA DIANTE - 1

Para além da dimensão da abstenção que tornará não vinculativo o resultado do referendo - apesar de, desta vez, provavelmente o "sim" ficar à frente -, importa meditar na circunstância de que todos os líderes partidários - Marques Mendes "assim-assim" - participaram vivamente na campanha. Todos os de "esquerda", pelo "sim" - senhor engenheiro incluído -, e um de "direita", Ribeiro e Castro, pelo "não". Serviu isto para alguma coisa?