"O maior problema de Lisboa são os fazedores de opinião de Lisboa, precisamente esses que dizem que os maiores problemas de Lisboa são... etc e tal. Na verdade, achar que o problema de Lisboa tem que ver com maiorias camarárias ou finanças é indicativo de uma extraordinária miopia política e cultural que mostra muito precisamente o seguinte: Lisboa é um assunto demasiado sério para ser deixado aos lisboetas. Não me refiro à maioria dos lisboetas, aos lisboetas das 9-às-5, mas sim à elite lisboeta, aos fazedores de opinião lisboetas, aos seus colunistas, jornalistas, cineastas, escritores, poetas, músicos, actores - todos aqueles e aquelas que mostram Lisboa a si mesmos e aos outros, são ouvidos sobre Lisboa, fazem a "imagem" de Lisboa. São estes e estas que têm a responsabilidade de ter deixado chegar Lisboa ao estado a que chegou ao longo de sucessivas gestões camarárias de gente sem visão e sem rasgo, incluindo Jorge Sampaio, João Soares, Santana e Carmona. A elite (e os jovens, os jovens...) de Lisboa têm essa responsabilidade porque, iludidos pelo aumento da oferta cultural e de entretenimento que a cidade sem dúvida vem experimentando nas últimas décadas, não viram - literalmente não viram e não vêem - a degradação do espaço público, a fealdade crescente, a decadência brutal da qualidade de vida de Lisboa, uma das cidades menos user friendly da Europa, certamente a mais descuidada, suja, anárquica e rasca das suas capitais. A elite de Lisboa, aos gritinhos de contentamento com o "cosmopolitismo" da sua cidade, nem ao menos tem o discernimento de detectar o paternalismo condescendente com que os estrangeiros olham para o terceiro-mundismo dos graffiti, do lixo, dos carros estacionados por toda a parte, dos edifícios em cacos, do horror dos subúrbios, da vergonha das entradas na cidade, da porcaria dos transportes públicos, do inferno do trânsito. Esta elite, toda satisfeita, deixou a política de Lisboa aos políticos de Lisboa. E estes são tal e qual aquilo que Pacheco Pereira escreveu no PÚBLICO de 5 de Maio último, num dos mais certeiros e dramáticos textos alguma vez produzidos sobre a política portuguesa (Pacheco Pereira esqueceu-se do PCP, cujo aparelho lisboeta é do mesmo género que os do PSD e do PS; esqueceu-se até do facto de que a posição camarária dos comunistas em Lisboa constitui um dos factores históricos mais importantes da acomodação do PCP ao regime; pelas sinecuras da Câmara Municipal de Lisboa, o PCP passou a estar disposto a vender a alma. E vendeu-a várias vezes). O abandono da política de Lisboa pela sua elite é espelhado exemplarmente naquilo que sucedeu ao Bloco de Esquerda, um partido que deveria ser eco dessa elite mas que está entregue de pés de mãos atados a um candidato-vereador com mentalidade de polícia."
Paulo Varela Gomes, in Público
Paulo Varela Gomes, in Público
«(e os jovens, os jovens...)».
ResponderEliminar... os jovens aparecem requentados pelas Juventudes partidárias, sem frescura, golpe de asa ou generosidade genuína.
Onde está a Jamila, onde está ? Por onde andou o "menino Serginho" das fracturâncias ? Qual juventude qual carapuça, a boquinha aberta, o biberon, a mameca !
Por norma não comento artigos em blogs mas este seu post afectou-me de uma forma particular...
ResponderEliminarNão concordo que em Lisboa não se tenha feito nada e que tudo está feio e terceiro mundista. O próprio termo "terceiro-mundista" é empregue demasiadas vezes por gente que nunca quis saber do terceiro mundo e não faz a mínima ideia do que é viver num pais sem o mínimo de condições que nós (europeus ocidentais) damos por adquiridas.
Quem critica da forma virulenta e cega a gestão de Lisboa (como o faz no artigo citado) deve lembrar-se concerteza dos bairros do Casal Ventoso, Chelas, Curraleira etc...
Se acham que isso não conta nada e que é propaganda, aconselho um "tour" pela Cova da Moura, Bairro 6 de Maio etc... Ou ainda mais perto Camarate.
Qaunto aos carros, devo lembrar (e comprovei in sito esse fenómeno) quando a EMEL surgiu e fiscalizava as ruas com a Policia os Lisboetas das 9 ás 17, como lhes chamaram, estacionavam correctamente, e havia ordem. Depois, como bom tuga, arranjou-se uma lacuna na lei ou coisa que valha e as multas deixaram de ser pagas (pq eram inconstitucionais?).
Para acabar deixo uma pergunta: O que é que estamos dispostos a abdicar nas nossas vidas e pequenos confortos para que a situação mude.
É que democracia não é ir votar de quatro em quatro anos, é fazer parte da solução. Agora podemos sempre fazer da "Lamuria" o desporto nacional.
Por norma não comento artigos em blogs mas este seu post afectou-me de uma forma particular...
ResponderEliminarNão concordo que em Lisboa não se tenha feito nada e que tudo está feio e terceiro mundista. O próprio termo "terceiro-mundista" é empregue demasiadas vezes por gente que nunca quis saber do terceiro mundo e não faz a mínima ideia do que é viver num pais sem o mínimo de condições que nós (europeus ocidentais) damos por adquiridas.
Quem critica da forma virulenta e cega a gestão de Lisboa (como o faz no artigo citado) deve lembrar-se concerteza dos bairros do Casal Ventoso, Chelas, Curraleira etc...
Se acham que isso não conta nada e que é propaganda, aconselho um "tour" pela Cova da Moura, Bairro 6 de Maio etc... Ou ainda mais perto Camarate.
Qaunto aos carros, devo lembrar (e comprovei in sito esse fenómeno) quando a EMEL surgiu e fiscalizava as ruas com a Policia os Lisboetas das 9 ás 17, como lhes chamaram, estacionavam correctamente, e havia ordem. Depois, como bom tuga, arranjou-se uma lacuna na lei ou coisa que valha e as multas deixaram de ser pagas (pq eram inconstitucionais?).
Para acabar deixo uma pergunta: O que é que estamos dispostos a abdicar nas nossas vidas e pequenos confortos para que a situação mude.
É que democracia não é ir votar de quatro em quatro anos, é fazer parte da solução. Agora podemos sempre fazer da "Lamuria" o desporto nacional.
Daniel Azevedo
de facto não se percebe quem é paulo varela gomes, deve ser liboeta, mas de que tipo: jovem?, gente das 9-5? elite de lisboa? politico? fazedor de opinião? fazedor de opinião dos fazedores de opinião?
ResponderEliminar(gosto da frase 'o horror dos subúrbios', quais subúrbios? aqueles onde vive a 'elite', como cascais, ou onde vive a malta 9-5 que, como os outros, vive fora de lisboa e apenas a usa e abandona sem saudade nenhuma ao fim de outro dia igual ao outro dia que se confunde com o próximo dia. o problema não é os politicos da arquitectura dos opinadores é a vida, ou a falta dela.
Gostei deste blog e vou voltar concerteza, para ler mais e com mais tempo.
ResponderEliminarEric Lung