31.7.05

LER...

... o Francisco José Viegas, Vencidos da Vida.

A MALDIÇÃO

Dei-me ao trabalho de ler a entrevista que Santana Lopes concedeu à revista Única do Expresso. Pode ser lida de trás para a frente, ou vice-versa, que o efeito é o mesmo. Tal como Lopes é o mesmo. Espremida, não vagueia por ali o que quer que seja de "ideia" ou de "projecto" políticos. É apenas um retrato menor de um ressabiado ex-futuro candidato a tudo e mais alguma coisa, arvorado agora em "patrulha" circunstancial de Soares contra Cavaco, com a "lebre" Marcelo estrategicamente colocada no meio. O resto são pequenos exercícios de vaidade saloia -"sou o político português com mais citações na Net" - ou de sublime provincianismo - veio directamente de uma reunião com Bush e Annan para Benfica, para estar uma hora com a antiga professora primária. No entanto, ele quer voltar a tropeçar na "história" que, assevera, lhe foi madrasta. Com um pouco mais de juízo e com o seu inegável talento político, Santana Lopes podia ser o que quisesse. Acontece que, nele, raramente o juízo e o talento coincidem. Essa é a sua maldição.

COMEÇAR DE NOVO

Há uns bons posts atrás que o meu "entusiasmo" pelo governo esmoreceu. Não que eu esperasse do PS ou de Sócrates milagres ou redenções. De todo. Sobre isso, tenho tantas ilusões como no amor ou no sexo. Apesar da melancolia com que encaro o "futuro", continuo a não encontrar melhor do que Sócrates, o que quer dizer praticamente tudo. Assusta-me a displicência com que ele anda para aí a "disparar" com milhões para isto e para aquilo, ao lado da sua "Mona Lisa" Pinho. Agora voltou a saga da "internet". Onde o dr. Barroso tinha o "Portugal em Acção", o eng.º Sócrates anunciou que vai "Ligar Portugal". Este chavão faz parte do "pacote" do famoso "plano tecnológico" (ex-"choque") e destina-se infalivelmente a "modernizar-nos". Quantas vezes, meu Deus, ah quantas, desde o século XIX, para não andar mais para trás, já fomos "modernizados"? Este conhecido fôlego do "tomem lá disto que depois logo se vê", tem deixado um lastro terrível nas nossas instituições e na nossa sociedade. O recrutamento para a eterna função "modernizadora" arrasta consigo um sem número de luminárias e de "chicos espertos" que o Estado suporta e paga sem que, a final, a contrapartida seja evidente. Com o seu sorriso evangélico, Guterres, há coisa de apenas cinco anos, também nos ia "mudar", desde a idade do bibe, através da "internet". Depois veio o dr. Barroso e o "e-government" do dr. Vasconcelos, com direito a uma "estrutura de missão" e tudo, sumariamente removido pelo PS. Pelos vistos, não chegou. Foi preciso emergir Sócrates e, a partir de Aveiro, com pompa e circunstância, começar tudo de novo.

30.7.05

DOIS LIVROS...

... de Pietro Citati, dos Livros Cotovia:

Israel e o Islão - As Centelhas de Deus e Ulisses e a Odisseia - A Mente Colorida


"A relação com Deus, tal como a conhecem hoje cristãos e muçulmanos, é de origem quase exclusivamente hebraica. Todos passámos pela Bíblia, pelo rosto múltiplo de Javé, pelos Salmos, por Job, pela leitura escrupulosa dos textos sagrados, pelo sonho do Messias, pela espera do fim dos tempos. Por isso, em primeiro lugar, cristãos e muçulmanos odiaram os hebreus. Odeia-se, sobretudo, os próprios pais e os próprios semelhantes. Os judeus ensinaram aos cristãos e aos muçulmanos uma ideia: que a cidade de Deus devia ser vivida aqui e agora, com um rigor absoluto, na pureza das leis e dos ritos. Nenhuma ideia é mais trágica; nenhuma causou mais desastres na história universal."

DANOS COLATERIAIS

Chegam ao fim, por causa da "vida material" e dos "interesses, O Comércio do Porto e A Capital, duas publicações que só subsistiam pela vontade espanhola em os manter a qual, aparentemente, acaba agora. A opinião que se publica fica mais pobre. A pública também.

"SFF"

"MICRO-CAUSAS: PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?" Apoiado.

"OTA É UM ERRO HISTÓRICO"

...para ler no suplemento de "Economia" do Expresso e, também, na Grande Loja. Também vale a pena este "Pinho rico" de Sérgio Figueiredo: "(...) O ministro Pinho justifica que, em quatro meses, um Governo não consegue realizar mais estudos. Está certo... Mas aprova um plano de 25 mil milhões!!!? Há duas coisas que Tavares [o ministro da Economia de Barroso]nunca percebeu da pátria que governou: que Portugal apenas precisa de ser um país normal; que isso só acontece com a simplificação. Ele só complicou. E este segue o mesmo caminho. Com um enorme inconveniente acrescido: não gosta de fazer contas."

NA MESMA

João Figueiredo, o secretário de Estado da Administração Pública, um "sobrevivente" à saída do ministro Campos e Cunha, afirmou no Parlamento que "em vez de haver auditorias a cada ministério separadamente, o Governo decidiu adoptar uma metodologia global de auditoria simultânea a todos os ministérios". Figueiredo, que é um homem da administração pública, com experiência e ainda por cima intelectualmente sério, já devia saber que a técnica mix anunciada é a melhor maneira de não se fazer nada. Uma "auditoria simultânea a todos os ministérios" - feita por quem (entidades públicas ou privadas) e com que metodologias? - parece-me qualquer coisa de inverosímil. A menos que se coloque um dos corpos de controlo do Estado, em exclusivo, a realizar a dita auditoria, ou se paguem milhares a uma empresa privada do "ramo". Salvo o devido respeito, julgo que anda por aí - e há bastante tempo - um Conselho Coordenador do Sistema de Controlo Interno da Administração Financeira do Estado (SCI), que inclui todas as inspecções sectoriais dos diversos ministérios, e que serve precisamente para avaliar, em permanência, o desempenho dos vários sectores, detectando anomalias e propondo ajustamentos. Passar a vida a "criar" ao lado do que já existe, outras coisas para fazer aquilo que justifica a actividade de controlo e avaliação do Estado, é apenas, como se costuma dizer, "bater no ceguinho". E é a maneira mais despachada de "fingir" que se está a mexer nalguma coisa para que o essencial fique na mesma.

DO "SPIN"

Por que razão o Diário de Notícias insiste em editar um "barómetro" sobre presidenciais em que Soares não figura, garantindo, por um lado, que a "direita é favorita nas presidenciais" e, por outro, que "os dados desta sondagem [surjem] desactualizados perante a realidade" que supostamente já inclui Soares? Qual é o interesse "noticioso" disto? O Paulo Gorjão, que percebe destas coisas de "spin", talvez nos consiga explicar.

29.7.05

NA GRANDE LOJA....

... estas "memória(s)".

LER...

...no Portugal Diário uma entrevista com Manuel Maria Carrilho. Dispensava-se o populismo "fadista" que não "cola" com a personagem.

"UM DESTINO COMUM"

Segundo O Independente, a famosa "reflexão" a que o dr. Soares está a proceder, inclui romarias à Fundação do próprio. Aliás, o próprio mencionou há dois dias os vários tipos de corporações e de notabilidades que andava a "ouvir". De acordo com o jornal, a gravidade do momento exigiu "conversas individuais" com vultos como o dr. Almeida Santos, o sr. Carvalho da Silva, o dr. António Reis, grão-mestre da Maçonaria, e um almoçinho com Domingos Abrantes, uma das maiores sumidades estalinistas do PC. Este exercício pantomineiro promete continuar. Quando chegar a vez da procissão da "cultura", então, é que vai ser mesmo divertido. Por ora, seria interessante perguntar a Soares - não fosse dar-se o caso de ele estar "recolhido" -, o que é que ele pensa acerca dos tumultos orquestrados pelo PC, ontem, no Parlamento. Ou das "medidas" que o mesmo Parlamento aprovou em relação à administração pública, os seus funcionários e, por tabela, às suas famílias, mais conhecidos todos por "eleitorado" e não propriamente da "direita". Em suma, e como escreve Vasco Pulido Valente no Público de hoje (sem link), "levado a Belém por essa grande coligação do imobilismo, Soares (ainda por cima ajudado pelas suas próprias convicções) não tardaria a paralisar o Governo e o país. Ninguém investiria aqui um tostão e Portugal, incorrigível e falido, ficaria para exemplo de um sistema "perfeito" e de uma vida miserável. Um destino comum."

O BRAÇO DA D. MARIA JOSÉ

O Paulo Gorjão está "admirado" com o silêncio de Jorge Sampaio em relação aos "investimentos" do dr. Pinho e dos engenheiros Lino e Sócrates. Descontando a relevância que parece atribuir ao "manifesto dos 13" - estas designações "definidas" e de teor "histórico", "dos 13" ou "dos 18", divertem-me imenso e são a demonstração eloquente da nossa pinderiquice -, o Paulo tem razão ao perguntar pelo "supremo magistrado". Parece que anda embarcadiço nos Açores, com os reis de Espanha (ontem vi a D. Maria José de braço enfiado no braço da Rainha Sofia e pus-me a cogitar sobre o que iria na cabeça da real senhora, tratada em mar alto como uma mera "comadre" prazenteira: há coisas que em dez anos de protocolo jamais se aprendem). Vi-o murmurar qualquer coisa sobre a sua própria sucessão e "sugerir" que podia perfeitamente seguir o belo exemplo do seu antecessor, transformando assim Belém numa espécie de Dinastia Ming "socialista", uma "região demarcada" para "democratas" com pedigree. Mas adiante. Saiba o Paulo que Sua Excelência tem opinião sobre a OTA e, imagino, sobre os vitessse. E é de ampla concordância com a "teoria do investimento" que o governo anda por aí a vender. O que ele ainda não teve foi "ocasião" para a divulgar, mesmo que sob a forma "redonda" habitual e com uns números à mistura (Sampaio, ao contrário de Soares, gosta de dossiês). Para além disso, o que é que ele tem a perder? Não é ele quem paga. Ele é apenas mais um "visionário" feliz que nos imagina prósperos numa próxima encarnação. O melhor mesmo, no meio desta "loucura normal", ainda é o braço da D. Maria José carinhosamente enfiado no da Rainha de Espanha. Se calhar, e para nossa felicidade, devia ter sido sempre assim.

28.7.05

"PEDAGOGIA DE QUÊ?"

Isto está tão bem escrito e é de tal maneira certeiro, que certamente o Francisco José Viegas não se importará que eu o "copie" na íntegra para aqui:

O anúncio da candidatura de Soares à presidência, preparado e calculado há bastante tempo, veio interromper a modorra da política ou reconduzir os caminhos da política para lá dos limites do défice. Os portugueses terão, agora, mais com que se preocupar. Vai ser uma festa. Uma fonte próxima de Soares declarou ao jornal "A Capital" que espera uma campanha alegre e com ideias. Em simultâneo. Vai ser uma festa. Outra fonte próxima mencionou também a necessidade de mais ideias. Portugal vai, finalmente, regurgitar de ideias graças às presidenciais. Vai ser mais do que uma festa, porque se trata, ainda de acordo com essa fonte, um "acto cívico e pedagógico". Eu compreendo que se trata de um acto cívico dos 35 anos em diante, um dos direitos dos cidadãos é o de poder candidatar-se à presidência da República. Mas não entendo a natureza pedagógica da candidatura presidencial. Admito que o dr. Mário Soares tenha coisas para dizer (o que faz, aliás, num programa de televisão) e que tenha, até, ideias para discutir; o regime deve-lhe bastante e essa dívida tem sido paga em reconhecimento, respeito, silêncio e também veneração - infelizmente, há quem ache que o respeito pelas suas ideias se deve confundir com o respeito pela sua idade, o que é lamentável e o deve desgostar bastante. Não encontro nesta candidatura "virtudes pedagógicas" maiores do que em qualquer outra. A sabedoria que se retira da velhice é boa para relermos Séneca, mas não deve aprisionar-nos quando se trata de política. O pior que se pode fazer a Mário Soares e à sua candidatura é manifestar-lhe o respeitinho moral que fará dele um bonzo da República ou uma velharia aceitável e comovente. Parte da Esquerda vê nessa candidatura a salvação; provavelmente, até Sócrates a acolhe com alívio, ele que foi publicamente humilhado por Soares (que lhe chamou a parte "menos feliz da herança guterrista, pela falta de firmeza nas ideias"): porque esta candidatura "cívica e pedagógica" é entendida como "supranacional" ou apenas "superiormente orientada para o mundo das ideias" (já ouvi isto e ninguém se riu). Evidentemente que é um erro - e grave - dizer que a idade é um argumento sério contra Soares. No país que tem cada vez mais a mania imbecil da juventude eterna, a velhice merece ser valorizada, mas não idolatrada ou desculpada. E a candidatura de Soares servir-se-á certamente da idade como um valor essencial do seu marketing vejam como o velho combatente regressa; vejam como ele se submete ao confronto; vejam como ele tem, aos 80 anos, coragem de subir ao ringue e de assumir este "acto pedagógico"; vejam como a sua experiência é um valor. E virão então as imagens nos tempos de antena da candidatura: o velho resistente ao fascismo; o republicanismo a reboque; o regresso do exílio; os tempos da luta contra os militares e os comunistas; a primeira eleição presidencial; as suas presidências abertas contra Cavaco, "o gajo"; a sua amizade com "intelectuais e artistas"; a sua participação nas manifestações contra a guerra; e essa biografia avassaladora, cheia de momentos sublimes, de vitórias e de discursos, será servida como um antídoto contra a política e, justamente, contra as ideias. As dele, talvez; mas, certamente, as dos outros. O que estão a fazer a Soares é transformá-lo no semi-deus da democracia. O que é, manifestamente, um perigo para todos. Talvez uma derrota eleitoral o faça descer à terra e ser humano. Nessa altura discutiremos ideias.

P.S. Votei uma vez em Mário Soares nas eleições para a presidência da República porque não queria a vitória de um candidato antiliberal (Freitas do Amaral). Era bom que as pessoas se recordassem desses tempos.

A CEDÊNCIA

É isso mesmo, um "mau sinal", no Causa Nossa. Nenhuma das reivindicações dos camionistas me parece merecedora de ser satisfeita. Criação de privilégios e regimes especiais é coisa que neste momento deveria ser proibida, ainda por cima para um sector muito custoso em termos ambientais, que tem alternativa no transporte ferroviário. Mas o Governo já anunciou disposição para ceder, o que é mau, primeiro porque a causa não é meritória, depois porque a acção ilícita dos camionistas não deveria ser premiada.

UM LIVRO

Eça de Queiroz, Jornalista, Introdução, pesquisa e selecção de textos de Maria Filomena Mónica. Aprende-se muito com os "velhinhos"...

AUTO-RETRATO

"Para se ser advogado é preciso ter-se uma inteligência estúpida e que eu tenho é uma estupidez inteligente." Teixeira de Pascoaes

EMBARCAÇÕES PRESIDENCIAIS - 2

Eu e José Medeiros Ferreira, voltamos, afinal, a estar de acordo. Apreciamos a "passagem" de Heródoto pelas páginas de "O Doente Inglês", esse estranho e belo livro que aproxima as principais personagens da magnífica história de abandono, deserto e morte de Michael Ondaatje. Continuamos ambos "reformadores" e mantemos os dois - indemne - o "espiríto livre". Precisamente por causa destas duas últimas coincidências é que nos separamos nas "presidenciais". Não me preocupa minimamente o "destino" da "esquerda em geral" que, naturalmente, extravasa as fronteiras minimalistas dos partidos que a compôem. O meu Amigo, aliás, é um bom exemplo de alguém que, respeitando o papel da organização partidária na vida pública democrática, bem sabe que não é ali que esta se esgota. Da mesma maneira que não me maço com as venturas da "direita em geral". O próximo presidente da República deve estar acima desta "topografia política" demasiado primária. A questão está em saber qual é o "lado" que, nas presentes circunstâncias, mais "equilibra" e qual é o "lado" que mais "desequilibra". A maioria absoluta do Partido Socialista, numa altura em que simultaneamente as outras "esquerdas" cresceram, não foi conquistada pelo "lado esquerdo". Um presidente que "some" as "esquerdas em geral", desequilibra. Um presidente que "junte" o contributo para a solução maioritária de Executivo, encontrada em Fevereiro, com as expectativas legítimas de representatividade institucional do "centro-esquerda" e das "direitas", equilibra. De um lado, um potencial "desestabilizador". Do outro, um verdadeiro "moderador". E é precisamente por eu ser um espiríto livre, meu caro Amigo, que não cedo à chantagem reverencial que se prepara para acolher Mário Soares como o tal "salvador da pátria" de que tanto se falou e que, afinal, era outro.

O VÉU

A conveniente algazarra em curso por causa do dr. Soares, lançou como que um véu sobre dois assuntos importantes e recorrentes a que convém prestar toda a atenção. Refiro-me à preparação do orçamento de Estado para 2006 - a decorrer na maior das clandestinidades - e às eleições autárquicas de Outubro. No primeiro caso, desconhecemos as "prioridades" de Teixeira dos Santos. Será politicamente mais vulnerável às pretensões despesistas dos seus colegas do que Campos e Cunha o era? É mais condescendente ou não com o devorismo localista? Isto prende-se com a escolha autárquica. As abencerragens que concorrem em alguns lados, seja pela "antiguidade", seja pelas suspeitas de corrupção, fragilizam ainda mais a credibilidade de um "poder" que é tido invariavelmente por todos, desde o "25 de Abril", como "modelar". Redondo como as rotundas espalhadas pelo país, pelo menos é. Basta ver as caras dos principais concorrentes para desesperar de qualquer "renovação". A palavra das "finanças", por todas as razões, continua a ser determinante, independentemente da mudança "oportuna" ocorrida a semana passada, votada tão rapidamente ao esquecimento. A questão está em saber onde é que ela está. É que, no horizonte, só vejo florescer - e muito contentinhas - as megalomanias milionárias dos drs. Pinho e Lino, certamente acarinhadas por grande parte da boçalidade autárquica que aí vem.

LER

... o Paulo Gorjão, "Questões de semântica e de estratégia".

O "DONO"

Na Figueira da Foz e em grande forma - talvez ligeiramente irritado -, Mário Soares reiterou que estava "em reflexão" e que nem sequer sabe "se vai a campanha". Anda, disse ele, a ouvir "partidos" -no plural- e a famigerada "sociedade civil" que inclui "cientistas, universitários, sindicatos, associações" e "magistrados", enfim, "todo o tipo de gente". Pelo meio, fugiu-lhe a boca para a verdade e disse com todas as letras que, por terem existido "grandes falhas" em matéria de presidenciais dentro do PS, então "chegaram" a ele. O talento para a mistificação, em Soares, permanece intacto. Quem o conhece, sabe várias coisas. Soares pura e simplesmente não ouve ninguém. Não ouve, pronto. Eles podem falar, até admito umas trocas simpáticas de impressões, mas ele não que saber disso para nada. Nunca quis, nem precisa. Depois, é manifesto que há que tempos tomou a decisão. A "sociedade civil" virá apenas compôr, na hora certa, o ramalhete. Nada mais. Finalmente deu de barato que foi ele quem forçou o partido e, por tabela Sócrates, a "lá chegarem". E imagino com que "delicadeza". "Levar a água ao seu moínho" sempre foi o seu lema. Apenas um ano passado sobre a entrada em cena do "social-democrata" José Sócrates, Soares é ,de novo, o "dono" do PS.

27.7.05

A TEORIA DO PERIGO

Vital Moreira vem aqui apresentar a famosa "teoria do perigo", algo de que vamos ouvir falar muitas vezes nos próximos tempos. Segundo ele, Cavaco pode pôr em causa a "estabilidade e a natureza do regime político". Com o devido respeito, se há algo ou alguém que anda a pôr em causa "a estabilidade e a natureza do regime político", é a "situação". Refiro-me à situação de pobreza franciscana - politica e institucionalmente falando - em que vivemos desde, pelo menos, 2001, e a que, com imensa felicidade, António Guterres apelidou de "pântano". É, de facto, algo tão profundo que Mário Soares teve que "reencarnar" junto de Sócrates por manifestamente também não confiar nele. Acha verdadeiramente que Soares, uma vez em Belém, vai deixar Sócrates fazer o que tem de ser feito e que nada tem a ver com a mitomania faraónica das cimenteiras, tão em voga? Já imaginou o que seriam as romarias da "esquerda em geral" - de que fala Medeiros Ferreira - ao Palácio e os "Portugal, que futuro?" para domar Sócrates, partindo do princípio que este ainda não está completamente rendido à tal "natureza moribunda" do "regime"? A "estabilidade" do "regime" já não convence ninguém. O "regime", ou evolui, ou morre. E evolui melhor com Soares ou com Cavaco? Limito-me a reproduzir o seu (bom) argumento: o argumento mais errado contra a candidatura de Cavaco Silva é o de que ele não tem perfil para o lugar.

JÁ REPARARAM...

...que, desde a saída de Campos e Cunha do governo e da sua substituição pelo compagnon Teixeira dos Santos, só se fala em milhões, cimento, "ideias luminosas" e "inovação" - até o SIRESP do dr. Daniel Sanches, inicialmente tão conspurcado pelo dr. Costa, foi "recuperado" -, enquanto o "rigor" desapareceu, perdido porventura algures nos campos da Ota, onde Manuel Pinho nos promete o céu por cima dos malmequeres?

O "MANIFESTO" - 2

Comentário/pergunta de um leitor:

Em época de discussão de bons e maus investimentos, estranho o silêncio sobre a rentabilização do porto/terminal de carga de Sines e do aeroporto de Beja; aliás, no PIIP faz-se uma breve referência a um ramal ferroviário Sines/Elvas, mas não se voltou a ouvir falar deste assunto. Esqueceram-se do Alentejo?

EMBARCAÇÕES PRESIDENCIAIS

O meu Amigo José Medeiros Ferreira, defensor "histórico" da recandidatura presidencial de Mário Soares, escreve pela primeira vez sobre o assunto no Bicho Carpinteiro. Devo-lhe -jamais o esquecerei- a minha "imersão" nas coisas políticas, nos idos de 79, através do "Movimento Reformador", com António Barreto, Sousa Tavares e outros. Não o acompanhei na "aventura" do PRD (nessa altura já era do PSD) e muito menos na campanha fratricida de Salgado Zenha, em 1986, contra um Soares que eu apoiava desde muito antes da "primeira volta". Nunca militei no PS - nem faço a mínima intenção de alguma vez o vir a fazer -, pelo que nunca senti qualquer impulso romântico para lá voltar. Estivemos em sintonia em 2001, com Jorge Sampaio, já que em 1996 apoiei, como hoje apoio, Cavaco. E presumo que teremos ambos votado no PS em Fevereiro deste ano, seguramente por motivos completamente distintos. Agora encontramo-nos, de novo, separados com - quem diria - Soares de permeio. Medeiros Ferreira "justifica" Soares "com o estado de desorientação das elites de imitação sobre o futuro de Portugal" e com a "firme convicção que ele trará força, determinação e ideias de futuro para Portugal e para a esquerda em geral." Termina, por causa da imagem da "batalha naval" utilizada por Marcelo, "desafiando" este a avançar "contra o velho porta-aviões". Esta visão jubilatória do regresso belenense de Mário Soares merece-me uns breves comentários. Em primeiro lugar, a sua emergência/urgência decorre precisamente da "desorientação" das "elites" do Partido Socialista em matéria presidencial e do fracasso das gerações políticas de Guterres e de Sócrates em produzirem "matéria comestível" aos olhos da opinião pública. O simétrico passa-se com a "direita", depois do clamoroso falhanço dos últimos três anos. Vitorino conta pouco, já que é politicamente cobarde. Alegre conta humanamente mais por ser frontal e corajoso, embora politicamente irrelevante. Não foi, pois, por estar a pensar no "futuro de Portugal" que Soares se chegou "à frente". Foi como militante e "dono" do património jacobino do PS, em "risco de vida" com este governo e com este secretário-geral, que Soares se impôs. A seguir, Soares traria "ideias de futuro" à "esquerda em geral", pelo que a sua aparição reveste-se de um inegável teor profiláctico para a dita. De facto, por ocasião dos trinta anos da Alameda, já com a candidatura no bolso esquerdo do casaco, Soares advertiu que agora o "perigo" vinha em "sentido contrário" ao de 1975. Curiosa lembrança. Soares, em 1986, "passou" à "segunda volta" graças ao "centro" político que o amparou para derrotar Freitas do Amaral. Se dependesse de Medeiros Ferreira - nessa altura já preocupado com a "esquerda em geral", ao lado do PC e de Zenha -, isso jamais teria acontecido. Finalmente chama-se Marcelo ao debate, uma "lebre-patrulha" que Medeiros Ferreira gostaria de ver avançar "contra o velho porta-aviões", provavelmente mais útil nesta altura do que o antigo primeiro-ministro. Como diria o nosso comum e saudoso amigo Cunha Rego, as coisas são o que são. Soares, ao contrário de 1986 e 1991, está apenas metido numa meritória "missão partidária" de redenção que não acrescenta nada ao "futuro" do país. Cavaco Silva deixou-se disso há muito tempo e a nação reconhecê-lo-á na devida altura.

O "MANIFESTO"

Voltaram os "manifestos". É um péssimo sinal. Nos dias "de chumbo" do "barrosismo/lopismo", "choviam" prosas deste estilo, assinadas praticamente pelos mesmos. Não estou a dizer que a coisa em si seja má. Não é, sobretudo este, que "alerta" para a circunstância de o investimento público não fazer milagres. E muito menos o que brota da temível e baça imaginação da dupla Pinho/Lino. Os "manifestos" espelham apenas a desacreditação crescente da actividade política sufragada eleitoralmente, bem como a eterna contradição entre a "política" e alguns dos seus executores momentâneos. Muitos dos que os costumam assinar foram responsáveis políticos governativos e em pastas apropriadas. Falam "de cátedra" como se não tivessem já "sujado" as mãos sem evidentes proveitos. Porém, a questão de fundo ali levantada permanece como uma ameaça que paira sobre a nossa cabeça. Num país de mitómanos desvairados e irresponsáveis como o nosso, querer "mostrar obra" significa invariavelmente "risco de vida" pública. No caso do aeroporto, o avisado e insuspeito Fernando Pinto da TAP já explicou o que se pode fazer. Quanto aos comboios, para quê pensar em ligações "vitessse", quando hoje, para chegar ao Algarve ou para ir ao Porto, os carris do dr. Salazar ainda não "dão" com os comboios "intercidades" ou "pendulares" do eng. º Cravinho? E não falemos do "metro" de Santa Apolónia, um dos maiores fracassos do betão e da nobre engenharia pátria, exposto em "carne viva" aos olhos de toda a gente que passa na zona ribeirinha de Lisboa. Os Linos e os Pinhos deste mundo passam. Estes abortos ficam para várias gerações pagarem. É o "pacote democrático" no seu esplendor. Não há manifesto que lhe valha.

SOBRE...

... a já "popular" questão da "Idade", Francisco José Viegas reflecte bem:

Se há argumento pernicioso é o da idade: Soares poderia candidatar-se aos noventa anos. Seria um bom sinal; a vida política não tem de ser entregue à rapaziada com bom aspecto. O problema da candidatura de Soares é que vai aproveitar a sua própria idade para pretender tornar indiscutíveis as suas ideias. É um poderoso instrumento de marketing.

26.7.05

CONCORDO...

...com estes "Argumentos Errados" apontados por Vital Moreira.

A "HONRA NACIONAL"

Há pouco mais de um ano - lembram-se? - era a "honra nacional". Desde Sampaio ao mais prosélito articulista, não houve cão nem gato que não balbuciasse, emocionado, o nome de Durão Barroso, mais tarde conhecido por José Barroso, um dos "campeões" na "luta" pela defunta Constituição Europeia. Passou um ano sobre a sua chegada à Comissão Europeia. Vale, pois, a pena ler este artigo do "Financial Times" dedicado ao balanço desse ano de desempenho da então promissora "honra" pátria. Como Sampaio sabe mais inglês do que português, pode ser que agora entenda.

José Manuel Barroso, European Commission president, heads for the beaches of Portugal this week with warnings ringing in his ears to start showing some leadership. A year after he was confirmed in the job, Mr Barroso's stock has fallen sharply. The knives are out in some of Europe's main capitals, and his own team is becoming restless. The former prime minister of Portugal knows that after a year of crises he needs to return from the seaside ready to help lead Europe out of its profound malaise. Mr Barroso is not short of advice. At the end of June, in a private meeting in a spa hotel in Aachen, Gerhard Schröder, the German chancellor, told him to take charge. “It was a barrage of bullying,” said one observer, who claimed Mr Schröder told Mr Barroso he must stand up to Tony Blair, UK prime minister, who holds the six-month rotating EU presidency. “Schröder told him to show leadership, and not to work with Blair, whom he claimed was out to wreck Europe. To his credit, Barroso stood his ground and said he would work with Blair.” Criticism of his leadership also rings loud in the European parliament and among his own team of 24 commissioners, who claim he is a remote figure and has failed to get a grip on the Brussels machine. Peter Mandelson, the British trade commissioner and a liberal ally of Mr Barroso, expressed the frustration in a carefully worded speech in Brussels last week. “This coming autumn the Commission has got to be bold, it has got to get out on the front foot,” he said. “What we need is focus and impact.” Mr Barroso's problems are often ascribed to the series of political storms he has endured some self-inflicted over the past 12 months. But they also reflect the decline of the Commission once seen as a federal European government-in-waiting in the face of resurgent national self-interest in the 25-member club. Mr Barroso's last 12 months have been a political horror show. At the start, his choice of the highly conservative Rocco Buttiglione as justice commissioner was rejected by the European parliament. He oversaw a shambolic retreat over the Commission's plan to open the EU's market in services, a measure strongly opposed by protectionist forces in France and Germany. Even his summer holiday last year, on the yacht of the Greek shipping tycoon Spiros Latsis, turned into a public relations embarrassment: Mr Barroso was responsible for handling an EU inquiry into shipping cartels.
Portrayed as an “ultra-liberal” by Jacques Chirac, the French president, Mr Barroso was told to keep quiet during the doomed campaign for a Yes vote in the French referendum on the EU constitution. After Dutch and French voters rejected the constitution, sending Europe's flagship project up in flames, Mr Barroso worked behind the scenes as EU leaders grappled with the next European budget. But his public backing for a big increase in EU spending infuriated Mr Schröder, the union's biggest budget contributor. While these political setbacks have weakened him personally, the post of European Commission president has become more difficult. National leaders increasingly put domestic concerns ahead of the European interest. Many see the Commission as little more than a secretariat. As Mr Mandelson observed last week, most recent EU initiatives have been driven by member states, including the Lisbon economic reform agenda, co-operation in justice and security, and foreign and defence policy. Mr Barroso also faces an unprecedented additional problem: he is the first person to have secured his job without the full support of France and Germany. Instead his appointment crystallised Europe's ideological divide: Mr Chirac and Mr Schröder favoured Guy Verhofstadt, their Belgian ally, who shared their scepticism towards the US and “Anglo-Saxon” capitalism. But they were over-ruled by an Atlanticist coalition headed by Mr Blair and Silvio Berlusconi, the Italian prime minister, broadly in favour of liberal economic reforms and a wider EU. The Commission president at least realises the limitations of his position and that he has no choice but to work with member states a political reality never fully grasped by Romano Prodi, his Italian predecessor. Mr Barroso also recognises the need to slow down an EU legislative machine Mr Prodi allowed to spin rapidly; he believes Europeans want fewer EU laws, not more. “He sees his role differently to the paternalistic vision of the Commission in the past,” says one Barroso aide. “He is an honest broker, a facilitator. If he can work with our British friends, so much the better.” Aides believe Mr Barroso's “jobs and growth” agenda will win increasing support across Europe. Angela Merkel, the German conservative leader expected to win power in September, is an ally. An autumn relaunch is likely to revolve around the priorities of the British presidency, including a deregulation initiative under which Mr Barroso will axe a number of proposed laws. He will also try to resurrect the EU services directive and broker a deal on the union's budget. Whether he succeeds depends partly on whether he can win some support from France and Germany. He will also have to galvanise his own commissioners, some of whom complain they never see him and that there is a lack of collegiate spirit. Peter Sutherland, the BP and Goldman Sachs International chairman who coveted the post, called it “one of the most difficult jobs in the world”. Watching Mr Barroso's travails, he may now be glad that he was not tapped.

CONTINUAR A LER...

... na Grande Loja, Equívocos & Presidenciais.

NÃO É...

... a estação que é "silly". É mesmo o país. Leia-se esta grotesca trapalhada na Grande Loja.

EXISTÊNCIAS -2

Já se sabia que António Costa não morria de amores por Rodrigues Maximiano. No entanto, quando ele chegou, o magistrado já se tinha ido embora da Inspecção Geral da Administração Interna, um dos melhores e mais dinâmicos projectos da administração pública portuguesa dos últimos anos. Ao que parece, Costa não tem ligado pevas ao trabalho da IGAI e ainda não substituiu o anterior inspector-geral, mantendo-se a situação encontrada de "substituição". Até pelas contradições que reinam presentemente no sector policial, a IGAI precisaria de um apoio político forte o qual, aliás, nunca lhe faltou no tempo de Guterres ou de Barroso. E o ministro ganharia com a intervenção da Inspecção. Do que é que Costa está à espera?

LER...

... este magnífico post de Filipe Nunes Vicente:

AS ARMAS AO CANTO

O PS anda a "treinar" Manuel Alegre para "engolir" o "pai fundador" e para a "declaração" de apoio. Será que Alegre vê isto mais como um "acto poético" ou mais como uma "disponibilidade"?

EXISTÊNCIAS

Aqui está um "bom" exemplo do que é voltar ao essencial, ou seja, ao momento em que Campos e Cunha deixou o governo. Manuel Pinho veio fazer o favor de nos lembrar que existe politicamente e que, com ele, existem a OTA e o TGV. Ou será que a OTA e o TGV existem para que Pinho possa existir?

VOLTAR AO ESSENCIAL

Ainda nada de verdadeiramente palpável se passou, e já José Sócrates está refém do seu mais remoto antecessor no cargo de secretário-geral do PS. Eu explico. O primeiro-ministro, depois da maçada com Campos e Cunha e do episódio Freitas do Amaral, "apareceu" com uma imagem diferente daquela com que ganhou o partido, primeiro, e, depois, o país. Pressentiu-se ali - algo que, aliás, vinha de trás e era indiciado por sinais inconsistentes da governação - algum amadorismo, disfarçado pelo estatuto arrogante da "esquerda moderna", qualquer coisa de improvável e de imaterial que nem o seu autor consegue definir muito bem. Não convinha consequentemente deixar alastrar por muito mais tempo esta "impressão" negativa. Sem intervir directamente, Soares interveio realmente. O nevoeiro "presidencial" que caiu subitamente sobre a accão governativa - como se a famosa "agenda" socrática de há apenas uns dias tivesse desaparecido de cima da mesa por magia -, veio mesmo a calhar. Só que o nevoeiro esconde o mais hábil coveiro da "esquerda moderna", o "vingador" das humilhações a que estiveram sujeitos o jacobinismo partidário e a "esquerda" - a que não é "moderna"- nos últimos tempos. Quando Sócrates deu por isso, já Soares estava confortavelmente sentado sobre a sua "modernidade" puramente retórica. Daqui para a frente sabe-se quem manda. Sucede que as condições alarmantes do funcionamento geral da pátria, "aligeiradas" nestes últimos dias à conta do "folclore" presidencial, não mudaram. Suspeito mesmo que se agravaram. A emergência de Soares não resolve nenhum problema ao governo e, por tabela, ao país. Pelo contrário, "alivia" politicamente o governo na resolução dos problemas imediatos. Basta-lhe fingir que está a "resolver". Convém, por isso, regressarmos ao ponto exacto em que o anterior ministro das Finanças abandonou o governo e estarmos atentos ao essencial. E o essencial não é o nevoeiro nem quem, por vaidade ou tentação, vem lá dentro.

25.7.05

LER OS OUTROS

Ele é tão suspeito como eu porque esteve nos dois MASP's e apoia Cavaco. Ele sabe mais do que eu, porque defrontou Soares enquanto "cabeça-de-lista" nas "europeias" de 1999. Ler, no Abrupto, a sequência (anunciada) de posts denominados "Candidaturas Presidenciais".

A BABOSEIRA DO DIA

De acordo com o previsto, as baboseiras por causa de Soares já começaram. Não falo só do mau-gosto dos que criticam a idade, sem perceberem que não é por aí. Nem tão-pouco dos que referem o "déjà vu" e a "incoerência", lembrando o solene "basta!" à actividade política, proferido na FIL em Dezembro último. Nunca existem renúncias definitivas e a verdadeira "política" precisa de alguma pantominice para sobreviver. Para além disso, os "teóricos" da candidatura do "velho leão", alguns deles meus amigos, têm o resto do Verão todo para preparar a explicação adequada, a ser dada no momento certo. Soares não vai partir para a sua derradeira aventura sem encerrar este incómodo capítulo do "basta". Mas, dizia, eu, as baboseiras estão na rua. António Mega Ferreira, o soba da Expo98 e actual mandatário (não se pode ter tudo) da dupla Soares-filho/Coelho para Sintra - se eu lá residisse, votava neles, e jamais num Seara relaxado -, falou em "golpe de estado constitucional" a propósito de existir uma séria possibilidade de um economista poder ocupar o Palácio de Belém. O seu lado "escritor" deve ter inspirado esta deliciosa boutade. Ninguém "governa" ou "orçamenta" a partir de Belém. Para esse peditório, uns dias melhor, outros dias pior, já demos em Fevereiro. Soares, como escrevi por causa do célebre aniversário, resolveu-nos o problema da liberdade. Cavaco, em Belém, pode ajudar-nos a tratar do problema da credibilidade. Sem "golpes" ou delírios "salvadores". É que, em matéria de "salvadores da pátria", depois de domingo, estamos conversados.

MADE IN PORTUGAL

LIVROS

Felizmente há mais vida para além de Soares e Cavaco. Respira-se sempre melhor lendo. Ou relendo. Três sugestões:


De Miguel Sousa Tavares, Não te deixarei morrer, David Crockett, livro de crónicas e de "short-stories", reeditado pela Oficina do Livro, com outra "capa";

De Luiz Pacheco, o "clássico" Comunidade, da Contraponto;

De Donna Tartt, A História Secreta, de 1992, em boa hora "recuperado" pela Dom Quixote e pelo Círculo de Leitores.

ESTIMULANTE

Andam para aí umas almas penadas a afiançar que Cavaco está "inibido" e que não vai avançar com Soares na "corrida". Os "transversais" que costumam navegar entre o PSD e o PS e que apascentam algum "soarismo" - o meu "soarismo" não inclui qualquer tipo de temor reverencial por ninguém, mas apenas o respeito pela memória e pela história -, fazem parte desta "brigada" lúdica que não vai deixar de se manifestar (vão ver!) por Soares. Acontece que, desta vez, Soares não é o candidato do "centro". Vai tentá-lo, mas, salvo o devido respeito, o lugar já está ocupado. Podem, pois, ficar descansados que Cavaco Silva será oportunamente candidato, jamais em concordância com os "horários" dos outros. É ele quem está melhor "sintonizado" com os "tempos" do país, o "moderador e árbitro" a que aludia o ex-presidente da República. O dr. Soares, infelizmente, é um mero compagnon de route dos drs. Louçã, Drago, Rosas e Freitas do Amaral, apenas mais estimulante que qualquer um deles. É pouco e o pouco que é, não deixa de ser perturbador.

DA DUPLICIDADE

Ler no Bloguítica este post. Parece que, afinal, o eng. º Sócrates já andava para aí há um mês em "conversações" com Mário Soares, que incluíram um "jantar" com o dr. Coelho (quem não janta com o dr. Coelho, "leva"). No entanto, ia deixando "cair" que tinha uma conversa marcada com Alegre para o fim do mês e dava conta aos "próximos" que o poeta era viável como candidato. Vistas as coisas pelo lado "deles", portaram-se muito bem uns com os outros, dando-se a circunstância de serem amplamente "amigos". Talvez Manuel Alegre perceba finalmente o não-sentido do seu falhado "acto poético". Se há coisa que Soares e Sócrates não são decididamente em política, é poetas. E têm razão. Tal como a têm ao reafirmarem o velho princípio de que, em política, não existe lugar para a amizade ou para a gratidão. Alguém outro dia, a propósito de Carrilho, falou em "deficiências de carácter". Eu gosto mais de "duplicidade". Por que é que Manuel Alegre não nos faz o favor de explicar - poetica ou politicamente - o conceito, pelos vistos tão em voga no PS e no governo?

24.7.05

O AVANÇO

Convém estarmos preparados para ouvir nos próximos dias os mais extraordinários derrames, delíquios e aquiescências acerca da candidatura de M. Soares. Aliás, o próprio já anunciou que vai "reflectir e contactar sectores muito alargados da sociedade portuguesa", bem como "escutar o sentimento e o pensar profundo dos portugueses, nos seus anseios, angústias e esperanças". Isto, traduzido do "soarês", quer dizer que Soares vai querer ouvir apenas o que já sabe e vindo de quem ele sabe que vai dizer o que ele quer ouvir. Nada mais. Devemos, pois, aguardar a emissão das mais solenes baboseiras sobre o assunto. A diferença em relação a outras "eras" está na circunstância de o "frentismo" poder começar já a ser exercido, sem angústias existenciais, face à "profundidade" do "programa": deter Cavaco a tempo.Não foi o PC o primeiro a ir ao Campo Grande, ainda reinavam Barroso e Lopes, pedir ao agora candidato que "avançasse"? Para quê um ou dois "homens-de-palha" de novo?

"PUTA QUE OS PARIU"

Na passada sexta-feira, a "2", ainda do Manuel Falcão, passou um excelente documentário com e sobre Luiz Pacheco. Em A Capital é hoje entrevistado. Retive a frase final do documentário, quando comentou aquela irritante pergunta que costumam fazer, tipo "o que é que tem a dizer às novas gerações de escritores". Pacheco foi eloquente: "puta que os pariu".

POR QUE É QUE SERÁ...

... que, aquando dos ataques terroristas a Londres, fomos literalmente bombardeados com todos os detalhes e com todas as mais sórdidas minudências - as nossas televisões fizeram "directos" desde os locais dos crimes até ao último ramo de flor deixado na rua-, horas a fio, e agora, que as mais de oitenta vítimas mortais dos actos terroristas em Sharm El-Sheikh não pertencem ao nosso glorioso "way of life" e são praticamente todas muçulmanas, a "cobertura" é diferente e não chega sequer a um terço da outra? Será que o terrorismo só é "terrorismo" quando atinge os "nossos"?

BEM-VINDO, DR. SOARES

1. José Sócrates, famoso em Portugal e arredores pela sua presuntiva autoridade, sofreu, em apenas uma semana, dois reveses nessa sua "qualidade". O primeiro, constituiu-se na "fala" amplamente comentada de Freitas do Amaral, algo que ele suportou menos mal, ruminando a "inteligência" do exercício. Como quase sempre, Freitas marcha a reboque dos acontecimentos. Também aquela sua "fala", como escrevi, antecipou a verdadeira. E chegamos assim à segunda machadada na famosa autoridade. Ainda há poucos dias, Sócrates disse que as presidenciais não estavam nem na sua agenda, nem na agenda dos portugueses. Ninguém, acrescentou, lhe arrancaria o mais vago comentário sobre o assunto, de que cuidaria oportunamente. Engano dele. Mário Soares "obrigou-o" a dizer publicamente quem era o candidato do PS. Ou seja, Soares começa ao contrário. "Encolheu" da nação para o partido, quando normalmente um aspirante presidencial "cresce" de um partido para a nação. Não obstante, é o primeiro melhor último recurso depois de Guterres, Vitorino ou de Alegre que -imagino - deve estar nesta altura "invadido" pelos melhores sentimentos.
2. Os desenvolvimentos dos últimos dias, no seio do governo, trouxeram de volta a lembrança da verdadeira "génese" política de Sócrates. Primeiro, o "aparelho" local partidário, depois o "aparelho" geral partidário, com o mesmo apoio "logístico" de que Guterres já tinha beneficiado contra Sampaio, o omnipresente dr. Jorge Coelho. A grunhice de Mesquita Machado, o "patrão" dos autarcas socialistas, proferida acerca da demissão de Campos e Cunha, avivou-me definitivamente a memória. Mário Soares vem porventura tentar tapar o último buraco da sua carreira política, ao mesmo tempo que ajuda a tapar o do partido e o de Sócrates, manifestamente já "a reboque" do "fundador". O "modelo" presidencial, protagonizado durante algum tempo por Soares e durante todo o tempo por Sampaio, está claramente ultrapassado. Já não basta ser "moderador e árbitro". Vai ser, sobretudo, preciso um "orientador". Soares, de novo em Belém, não quererá deixar de o ser, especialmente em relação a um Sócrates que intimamente deve desprezar e que, mesmo sem ainda ter anunciado nada, já "comanda". Chamar-se-á a isto "estabilidade"?
3. Eu estive no MASP I e II, há mais de vinte e de quinze anos respectivamente, correndo riscos de expulsão partidária no primeiro caso. Quando o desvario Barroso/Santana Lopes estava no auge, defendi aqui uma recandidatura "soarista". Sobreveio inesperadamente Sócrates e, com ele, a maioria absoluta do PS, que apoiei. A entrada de Mário Soares na "corrida" de 2006 confere-lhe indiscutivelmente uma densidade política bastante mais interessante do que se esperava. E, seja qual for o resultado, dará uma legitimidade democrática robustecida ao novo presidente que eu continuo a defender que deve ser Cavaco Silva, por razões que a seu tempo detalharei. Desta vez não o acompanho, dr. Soares. Mas seja bem-vindo.

21.7.05

A ESCOLHA

Entre duas nulidades pomposas e politicamente débeis - Manuel Pinho e Mário Lino -, e uma criatura séria, mas politicamente desapoiada e imatura - Campos e Cunha-, Sócrates não hesitou. A não ser no Parlamento, nunca vimos o primeiro-ministro "ao lado" do ex-ministro das Finanças. Pelo contrário, quando houve cheiro e anúncios de (falsos) milhões, Sócrates nunca faltou aos espectáculos. O betão e os nababos do "poder" local estão de parabéns. Teixeira dos Santos, que, por mero acaso, estava logo ali à mão de semear, já garantiu a OTA. Por mais que Sócrates e o novo ministro tenham rapidamente "garantido" a continuação do "rigor", não é preciso meter explicador para entender como é que as coisas se vão passar daqui em diante. A retórica opaca de Pinho e Lino serve perfeitamente para os estrados dos comícios autárquicos. O "rigor" rapidamente passará de moda e ninguém vai quer ouvir falar mais de impostos. Campos e Cunha, sobretudo depois do artigo do Público e de uma presença cansada numa Comissão parlamentar, traçou para si próprio um destino bem longe da Praça do Comércio. Nem sei mesmo se se sentia bem acompanhado pelos seus ambiciosos secretários de Estado, gestores cuidadosos de "agendas" próprias e muito bem "pilotadas", tantas vezes à distância. Será curioso verificar quais é que permanecem com Teixeira dos Santos ou quais são os que se "solidarizam" com o primeiro que os escolheu ou aceitou. Voltamos, pois, ao velho problema da credibilidade. Desde há três anos que o país é governado por amadores. O que tem um preço inelutável. Apesar da rapidez com que Sócrates "resolveu" o episódio - uma vez mais dando consistência ao murmúrio de que tudo não passa de uma boa gestão das "questões de forma" -, abre-se inequivocamente um novo e preocupante "ciclo" em apenas cinco meses de nova "situação". O recurso a um "camarada" confiável, como Teixeira dos Santos, independentemente dos seus maravilhosos atributos técnicos e académicos (os jornais da "especialidade" já se babaram), tranquiliza muita gente que não devia sentir-se tranquila. Não julguem Sócrates e o PS que, com a remoção de Campos e Cunha, o "ciclo" eleitoral surge mais animador. Não surge. Os portugueses, mesmo distraídos e em férias, de vez em quando "intervalam" no seu torpor cívico. Campos e Cunha, que não percebia nada de "política", foi sacrificado por ela. Mas não o foi seguramente pela "melhor".


Adenda: Como Campos e Cunha partiu, posso revelar que, em Março, pouco depois da sua posse, pôs-se a hipótese de eu ir integrar o seu gabinete. As pessoas que amavelmente se lembraram de mim (coitadas) devem ter explicado a quem "de direito" quem eu era e o que tinha feito. Como o senhor não me conhecia de lado nenhum, deve ter legitimamente perguntado a quem me conhecia quem eu era. Esses anónimos que eu não sei quem são mas que, pelos vistos, me "conhecem", fizeram chegar a mensagem que eu era demasiado "complicado". Tive pena de nunca ter podido explicar a Campos e Cunha a minha "complicação". Talvez ele perceba agora que, se calhar, a "complicação" já lá estava. E se calhar para lhe sobreviver, como sobrevivem todos os bons e espertos "descomplicados" deste mundo.

INCÚRIA

Depois de Figueiredo Lopes e de Daniel Sanches, cuja habilidade política em lidar com a temática dos incêndios deverá ficar registada dos anais adequados, estou em crer que António Costa também não está para se maçar em demasia. Por causa dos fogos e da seca, o segundo semestre vai ser de profunda agrura para muitas regiões do interior e, eventualmente, para todo o país. Esta causa é tão ou mais "política" do que andar ao colo com gente que não merece. A médio e a longo prazo toda a incúria se paga. Todinha.

20.7.05

O PUSILÂNIME

Salvo erro, por ocasião das eleições legislativas de 1991, Freitas do Amaral deu uma preciosa entrevista ao Expresso. Era, de novo, líder do CDS e prometia "equidistância" face ao PS e ao PSD. Sabe-se o que aconteceu. Cavaco repetiu a maioria absoluta e Freitas viu o seu partido reduzido a uns reles quatro por cento. Anos volvidos, depois do deserto e de outras humilhações, Freitas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, dá nova entrevista. Trata-se - não sei se ele se apercebeu disso - de uma nova humilhação. Mais patética - por causa da idade e da "experiência" - mas na mesma linha pusilânime que é a sua maior característica. Por ser quem é, trata-se de uma caso (grave) de pusilanimidade de Estado. Freitas sonha em ser o candidato presidencial das esquerdas, já que não pode ser o das direitas. Isso impele-o a dizer as baboseiras mais extravagantes em nome dessa sublime ambição. Por outro lado, como nunca sabe bem qual é o seu lugar em lado nenhum, "adoça" a boca de Sócrates e do PS com uma convesa sonsa e paternalista sobre "comunicação" e "impostos", manifestando-se muito "solidário" com tudo e todos. Imagino a alegria que deve reinar no Rato com estes "conselhos". Freitas foi MNE noutra encarnação, quando não havia União Europeia, e é quase como um bimbo poliglota que manifesta as suas posições em matéria externa. A parte tragico-cómica da entrevista é, porém, a que concerne às presidenciais. Como o melhor representante da "ala soarista" do governo, Freitas pronuncia-se como se fosse Mário Soares a falar. O novo "frentismo/freitismo", contra o chamado "salvador" da "direita", tem nesta entrevista miserável o seu acmê ideológico. Não é por acaso que, ontem, a pretexto dos trinta anos da manifestação da Alameda, Soares meteu esse "passado" na gaveta, e lembrou - jamais inocentemente - que agora o que é preciso é lutar contra o "perigo" de "sentido contrário". Não sei se os "ideológos" do PS já deram por isso, mas este género de contributos só serve para baralhar ainda mais as contradições do partido em torno das presidenciais. E não ajuda nada ao desempenho, desde já bastante atribulado, do governo. Freitas do Amaral não me surpreende. Da mesma forma que aqui o defendi quando apoiou o PS em Fevereiro - contra os ataques idiotas da "direita" a que ele cerebralmente nunca deixou de pertencer -, logo ali avisei acerca da sua irresistível atracção pela pusilanimidade política. Ele chama-lhe "centrismo", coitado, e há quem , por caridade ou oportunismo, finja que acredita. É o caso do dr. Soares que jamais brinca em serviço. Depois deste episódio grotesco, só posso aconselhar o Prof. Cavaco Silva a permanecer em silêncio até ao momento extremo em que já não haja mais circo deste para oferecer aos distraídos. E, depois, sim, que apareça. E nos "salve" definitivamente "disto".

17.7.05

O AZUL

1. Pela primeira vez na minha vida, experimento um "café internet". E cedo aos Jaquinzinhos. Gosto do peixe - não como outra coisa -, contemplo o mar - não quero outra coisa -, reparo, embrutecido, nas pessoas ao meu lado - são inexplicavelmente sempre a mesma coisa - e leio uma boa surpresa de setecentas páginas, bem traduzidas por Pedro Serras Pereira, chamada "A história secreta", de Donna Tartt (penso que é assim que ela se chama), muito curiosamente referenciado pelos nossos "jornalistas culturais". O calhamaço jazia lá em casa e eu ainda não tinha dado por ele.
2. Acontece que também leio jornais e vejo (alguma) televisão. A supressão do Ballet Gulbenkian pela "culta" e esfíngica Teresa Patrício Gouveia, com a conivência dos não menos "cultos" Vieira Nery, Pereira Leal e Rui Vilar, releva como acto de "gestão", prático e desembaraçado, como convém aos dias de hoje. Eu não falo pelos outros e muito menos pelos que andaram a pavonear-se pelos jardins da Gulbenkian ou a exibir "petições" infantis. Falo apenas por mim, por ter sido privado de mais uma coisa de que gostava.
3. Soube do desaparecimento de Piero Cappucilli, um dos maiores barítonos verdianos da sua geração. Tive a ventura de o ver e escutar num São Carlos de 1983, num tempo em que ele - o teatro- era manifestamente vivo. Era então presidente do Teatro o dr. Serra Formigal, porventura o último director que o Teatro teve. Nessa altura, a maior parte dos analfabetos que perora agora nos jornais sobre "crítica musical", pura e simplesmente não existia. Cappucilli ofereceu-me, numa récita inesperada de "Um Baile de Máscaras" em que não houve greve, uma versão inesquecível, ao lado de um Carlo Bergonzi em permanente fim de carreira. Estávamos, pois, todos vivos. Até o Teatro - ao que parece, transformado num restaurante com plateia e camarotes para papalvos absorverem - também era, imagine-se.
4. Carrilho continua a sua caminhada imparável para o desastre. Eu só posso lamentar. Com uma lista de putativos vereadores assaz medíocre - li qualquer coisa que o seu "número dois" disse contra Carmona e fiquei esclarecido sobre a natureza do ilustre desconhecido -, com o dr. Coelho a "puxar" pela esposa do candidato, com a "factura" apresentada pelos apoios errados e oportunistas, e o mais que há-de por aí aparecer, espero o pior. É pena. Há mais de um ano, quando a aventura solitária de Carrilho prometia e muitos dele desconfiavam, fui dos primeiros a testemunhar-lhe apoio. Estou completamente à vontade, por isso, para o ir zurzindo sempre que achar conveniente. Para que não digam que ninguém avisou.
5. Vejo, sem alegria, mas com ironia, que o país oficial continua a afundar-se mansamente. Quando reparei no "elenco" do Conselho de Estado reunido no final da semana para tratar da Europa - que certamente não deixou de "reparar" em nós e na nossa maravilhosa "opinião"(o comunicado do PR é uma pérola) -, percebi tudo. Até o dr. Campos Cunha não quis ficar atrás e escreveu um pequeno texto a prometer-nos mais privações em 2006. Para não falar na "nata" banqueira, sempre tão querida da nossa "opinião" editorialista, na versão Ulrich. O cavalheiro pretende redimir a pátria cortando 10% nos salários de toda a gente e privar-nos de gozar o que de melhor ainda temos, o mar. Se eu fosse o Luíz Pacheco, respondia-lhe.
6. Finalmente, e mesmo antes de se declarar candidato, Manuel Alegre já tem garantida a sua estátua em Coimbra. Tudo indica que Sócrates o vai "engolir", a ele e a toda aquela magnífica retórica anti-fascista e "combatente" que faz mexer o bardo e os seus "apoiantes". Eu acho bem. Tem boa figura e uma voz extraordinária. Apareça, pois, nas presidenciais. Cá o esperamos.
7. A vida devia ser só e exclusivamente isto, o azul.

13.7.05

UM VERÃO ANTES DAS TREVAS

O "prefeito para a congregação do défice", o honorável Vitor Constâncio, veio uma vez mais dar más notícias. O Boletim Económico do Banco de Portugal/Verão 2005 não é leitura que se recomende para a praia. De nada valeram estes três anos em que, mês sim, mês não, nos vieram prometer a "retoma". Nunca chegou a chegar. Segundo o proficente Constâncio, sem ainda termos propriamente saído de uma, já corremos sérios riscos de entrarmos noutra recessão. A imatura economia portuguesa, sombria e cercada pelas piores "perspectivas" exteriores, continuará axfixiada. Os milhões do eng.º Sócrates e do dr. Pinho correm o risco de submergir neste turbilhão global em que uma economia periférica, pobre e materialmente subdesenvolvida, pouco mais pode fazer senão esperar. Entretanto o país arde alarvemente perante a impotência aparente dos poderes públicos. Isso também soma ao "incremento" negativo da economia e da "confiança" das gentes. Uns escassos meses depois de um novo fôlego e de uma "nova esperança", o país adormece para o Verão em estado de pré-pesadelo. O regresso à realidade, com autárquicas, escolas, fábricas, empregos públicos e privados "a arder", promete ser doloroso. No fundo, a "história" destes últimos tempos apenas regista o percurso de um imenso fracasso, uma espécie de "choque tecnológico" ao contrário. E a falta de vivacidade e o ar permanentemente timorato do ministro da Finanças já começam a fazer parte desse percurso. Tudo e todos me fazem lembrar o título de um livro antigo e esquecível que não desejo premonitório: um verão antes das trevas.

12.7.05

O REGRESSO DO GRANDE EDUCADOR

Não perdendo o melhor da sua condição de ex-"grande educador da classe operária", a que ostensivamente protestou não pertencer, Arnaldo Matos disse duas coisas acertadas no "Prós e Contras" da RTP, ambas ligadas à justiça. Os magistrados deviam ser legitimados democraticamente e não corporativamente, e, muito menos, exibirem "sindicatos". Não é estranho pensar-se em remover o actual procurador-geral da República. O que é estranho é que ele ainda lá esteja.

A VIA ESPANHOLA

Espanha, Espanha, Espanha... Com esta cadência reiterada, José Sócrates explicou a essa coisa mítica chamada "tecido empresarial português", o gentil propósito de o tornar mais "competitivo". O método é sempre o mesmo. Ele, o "tecido", espreme-se um bocadinho e o Estado subsidia. Depois, com jeito e devagarinho, "avança" para o mercado aqui do lado que aparentemente suspira por ele. Achei piada ao anúncio da "via espanhola" do primeiro-ministro. Tratou-se de um mero mimetismo de algo defendido, ainda não há muito tempo, por Cavaco Silva por causa da célebre "competitividade". Porventura este detalhe terá escapado aos assessores do chefe do governo. Mas isso agora não importa. O que releva é saber se o famoso "tecido empresarial português" mexe e se é "competitivo". Para ele "mexer", não dispensa o concurso do Estado. Manuel Pinho não tem feito outra coisa senão andar por aí a oferecê-lo. O que tem e o que não tem. Acontece que realisticamente o Estado tem por ora muito pouco para dar. Não se viu, aliás, ninguém particularmente entusiasmado com o exercício, à excepção dos bonzos do costume, nomeadamente os banqueiros do regime. E quanto a ser "competitivo", vou ali já venho. Eu julgo que a Espanha agradece o voluntarismo dos nossos poderes públicos e a "iniciativa" do nosso "tecido empresarial". Um e a outra deixam-na naturalmente tranquila.

11.7.05

PENSAMENTO DO DIA

Diálogo em Sex and the City:




Samantha: Carrie, you can't date your fuck buddy.
Carrie: Say it a little louder, I don't think the old lady in the last row heard you.
Samantha: You're going to take the only person in your life that's there purely for sex, no strings attached, and turn him into a human being? Why?

10.7.05

PERGUNTA...

... O Jumento a Sócrates:

Por que é que na Administração Pública as regalias são cortadas a direito sem mais conversas e no Banco de Portugal tem de haver uma comissão de vencimentos em que quem representa o primeiro-ministro é ex-governador daquela instituição, ele próprio um dos beneficiados das mordomias locais? Se na Administração Pública as medidas são tomadas de um dia para o outro, qual o prazo dado ao Banco de Portugal para repor a verdade económica nas suas regalias? Se os direitos dos funcionários públicos podem ser retirados por iniciativa do Governo, porque é que o ministro das Finanças promoveu uma conferência de imprensa em moldes santanistas só para dizer que a sua pensão do BP é um direito adquirido, o que entenderá o ministro por direito adquirido?

DELÍQUIOS

Ouvi há pouco o dr. Barroso, com aquele seu optimismo de pacotilha, babado de alegria por o Luxemburgo ter votado favoravelmente o tratado constitucional europeu. De uma penada, e graças ao voluntarismo do sr. Juncker - que foi, aliás, recompensado nas urnas -, Barroso voltou a desenterrar o cadáver da Constituição Europeia. Falou num "plano D", de "diálogo", de todos com todos, para ultrapassar a "crise". Estava muito contente. Felizmente para ele e para a Europa, agora quem manda provisoriamente é outro mestre do sorriso plastificado, o sr. Blair. E de certeza que a última coisa que o preocupa neste momento, é o futuro do tratado. Depois de Londres e dos transes da União, este semestre britânico anuncia-se de chumbo. As medidas de vigilância avançadas pelo ministro inglês do Interior, com limitações declaradas dos direitos de cidadania, não auguram nada de bom. Se começamos a ter medo da própria sombra, instituindo sistemas de controlo securitário para além do estritamente necessário, entramos num caminho perigoso e declaradamente inútil de "prevenção" do que é imprevisível. Abusar, em democracia, dos privilégios que ela outorga ao poder, é diminui-la e apoucá-la diante dos seus inimigos. Não se ganha nada em "fechar" a "sociedade aberta". Este é um dado a que convém prestar verdadeira atenção e jamais aos delíquios provisórios do dr. Barroso.

RUÍNA SOBRE RUÍNA

Tenho evitado "olhar" para o PSD. Como disse aqui, por alturas do desvario completo atingido no fim do ciclo Barroso/Santana, ficou desse partido um amontoado de escombros insignificantes. A circunstância de a liderança ter sido disputada por Menezes e por Marques Mendes, foi suficientemente esclarecedora. Consta agora que Mendes, uma compostinha realidade virtual, está à espera de ganhar as autárquicas para se "afirmar". Engano dele. Se os candidatos apoiados pelo PSD vencerem um maior número de câmaras, encarregar-se-ão de reclamar, para eles e para os seus caciques locais, a respectiva vitória. Mendes será olimpicamente ignorado e ainda poderá ter de engolir os sucessos dos sobas Isaltino e Major Loureiro. Depois Mendes também não está à vontade para criticar este governo e para lhe "despejar" "ética" e "coerência" para cima todos os dias. Era - e com inteira justeza - considerado um dos melhores "braços" políticos no governo de Durão Barroso que ainda há pouco mais de um ano, lá estava. E manifestamente não manda quem encolhe os ombros e sublinha "paciência" quando é publicamente desautorizado pelo partido na Madeira e quem vê tratada como "inconveniente" a sua presença num evento local do PSD. Santana Lopes já percebeu o tremendo equívoco que grassa no seu partido. Avisou que tenciona "passar" pelo Parlamento, provavelmente para "ensinar" Mendes a fazer aquilo que ele sabe fazer melhor: oposição. A conjugação destes "sinais", mesmo com o eventual sucesso de 9 de Outubro, mostram que a "crise" laranja veio para ficar. Não tenho a certeza que a história venha a julgar os responsáveis por esta tragédia partidária, apesar da sua identificação, de Bruxelas ao Porto, passando por Lisboa ou pela Madeira, ser perfeitamente clara. O "tempo" da política de hoje é condescendente para com os seus piores servidores. De besta a bestial e de bestial a besta, vai apenas a distância de um editorial hebdomadário. Contudo isso não invalida que o PSD, muito por força dessa superficialidade e dessa insolência, seja neste momento aquilo que é, uma ruína sobre uma ruína.

9.7.05

LER OS OUTROS

No Diário de Notícias, o artigo de Ruben de Carvalho, Informação e Sobriedade, sobre a forma contida como os media britânicos trataram os atentados de Londres, contrastando com registo histérico-palavroso dos nossos "correspondentes" e "especialistas". E Medeiros Ferreira no Bicho Carpinteiro, De novo as ideologias? Por outro lado, não vejo ninguém deveras preocupado em perseguir seriamente os verdadeiros actos de terrorismo nacional que consistem em atear incêndios. Este é um problema político e não apenas de bombeiros.

SALDOS

A "época de saldos" que constitui a aventura presidencial no PS, conheceu esta semana três momentos divertidos. Tudo começou com uma entrevista de Manuel Alegre ao Jornal de Letras. Aí Alegre assegurou que ele, "o poeta", estaria "disponível" para a "aventura" (a presidencial) e até mesmo "tentado" por ela, contrariamente ao "político". De "invadido pela história" no ano passado, aquando da sua frustrada candidatura a líder do partido, Alegre sente-se agora "tentado" pela mesma, embora na suave condição de bardo. Pegando nesta sublime confissão, Eduardo Prado Coelho foi mais longe. Elegeu Alegre "o candidato da esquerda" e, num acesso verdadeiramente místico, não hesitou em ver nele "o primeiro presidente na era da globalização". No mesmo dia, João Soares, também conhecido pela sua profunda imaginação política, encarou com bons olhos a hipótese de Freitas do Amaral vir a ter o apoio do PS para Belém. Eu ainda sou do tempo em que o Partido Socialista, por estas alturas, ou seja, a sensivelmente meio ano de distância das eleições presidenciais, já tinha candidato e, por sinal, vitorioso. Foi assim em 76 e 80 com Eanes. Soares "apareceu" em Julho de 85 contra o referido Freitas. E Sampaio "consagrou-se" candidato em Julho de 95, nos Jerónimos. Depois da debandada final dos "desejados" Guterres e Vitorino, estes floreados em torno de nomes recorrentes para 2006 tornam ainda mais grotesco o "processo". O PS, pelos vistos, já só pensa em tentar não perder completamente a face. Quanto ao resto, trata-se de saber, com Alegre, Freitas ou outro qualquer, qual é a percentagem menos humilhante para um partido no governo e com uma maioria absoluta no Parlamento. Tal como Cavaco Silva em 91 ordenou ao partido que não se mexesse se Soares se recandidatasse (Cavaco queria continuar a governar, com maioria e tranquilamente, depois das eleições de Outubro), o PS no governo podia dizer às suas hostes para não disparatarem tanto perante o putativo avanço de Cavaco. Nem que fosse para acabar de vez com os "saldos".

8.7.05

REVISÃO DA MATÉRIA

Graças aos ataques bombistas de Londres, as nossas televisões e as nossas rádios "descobriram" e revelaram-nos milhares de "especialistas" em "segurança" e "terrorismo". Horas a fio, desfiaram uma verdadeira procissão de cabeças das mais diversas origens que nos "ilustraram" sobre a matéria. Todos invariavelmente nos descansaram quanto às "intenções" da Al Qaeda em relação a Portugal. Todos deram as mais extraordinárias explicações para o ocorrido. Discorreram sobre o islão que não conhecem e sobre o ocidente que não sabem manifestamente como se pode defender. Até o dr. Soares, na sua versão de evangelista do Fórum de Porto Alegre, veio falar da "pobreza". No meio de tanto disparate, os rapazes da Al Qaeda continuam a rir disto tudo e às escâncaras. Sempre que lhes apetece, enterram cobardemente a "superioridade ocidental" - de que todas estas luminárias se reclamam -, num arranha-céus ou num comboio, à custa da vida de centenas de inocentes. Talvez estivesse na hora destes "iluminados" reverem a matéria dada.

7.7.05

CREPÚSCULO EM LONDRES

Claude Monet, London - Houses of Parliament at Sunset

MERECIMENTOS

Os miseráveis actos de terrorismo ocorridos em Londres distraíram a opinião pública do "debate" sobre o "estado da nação". Pelo que pude ver e ouvir, ninguém perdeu nada. Aliás, as bravatas que presenciei revelaram um dos mais medíocres debates dos últimos tempos. Apanhei uma parte em que o governo, pela voz de Santos Silva, e a oposição, julgo que do PP, requeriam ao presidente do Parlamento que fossem tiradas e distribuídas fotocópias de ditos do passado, de uns e de outros, para - digo eu - apurar o mais ou o menos mentiroso, consoante as perspectivas. São chincanas deste teor que emporcalham a "imagem" do regime. São discursatas de efeito nulo e rebarbativo que diminuem o respeito pelo "sistema" democrático. São estas criaturas que nós não sabemos que estamos a eleger quando votamos que depois nos aparecem pela frente, vagas e imateriais, nos "debates". Elas, as criaturas, "representam-nos". Por estas e por outras, cada vez menos encho a boca com a "democracia representativa". Porém, quando ando por aí e ouço falar os meus concidadãos, penso que tudo, afinal, está tudo no lugar certo. Eles e nós. Merecemo-nos.

6.7.05

VISIONÁRIOS

De manhã, quando liguei o rádio do carro, estava a perorar o presidente do comité olímpico português, salvo erro o eterno Coronel Moura. Apanhei a prosa a meio, mas percebi o contexto. Tal como Londres, Paris, Nova Iorque ou Singapura, também Lisboa merecia organizar uns joguitos. O argumentário do Coronel era infalível. Resmas de postos de trabalho e a já célebre "auto-estima" estão sempre na "linha-da-frente". Por que não, dizia o Coronel, sermos candidatos em 2016 ou, digo eu, sempre por aí adiante até ao ano 3000, em nome desse extraordinário reforço sempre adiado da "auto-estima" nacional? A baboseira megalómana, quando ataca - e ataca forte -, custa muito a passar. O mais recente adepto da modalidade é o eng.º Mário Lino, das Obras Públicas. Mesmo ao arrepio da prudência voluntarista do primeiro-ministro, Lino quer a Ota, os comboios e o mais que puder juntar ao "bolo" cimenteiro. Se lhe falarem um bocadinho nos jogos olímpicos, ainda o vamos ver de mãos dadas com o Coronel Moura a correr atrás do nosso justo lugarzinho ao lado dos "grandes". Esta gente acha-se subtil e toma-se normalmente por "visionária". Pensa - julga - em "grande". Em suma, não se enxerga.

SÓCRATES, JULHO DE 2005

Continuo a achar que não há melhor alternativa a Sócrates. Reconhecer isto é já uma evidência da melancolia que me atravessa cada vez que penso na "coisa" pública. Adiei a passeata nocturna do meu cão para ouvir o primeiro-ministro na SIC. E, depois, estive a rever o Million Dollar Baby em "dvd". Que espantoso argumento quando comparado com o que Sócrates me ofereceu! Quando, em Fevereiro, votei no PS, já não tinha ilusões. Muitos dos meus amigos e conhecidos continuaram - e continuam - a acreditar piedosamente no Pai Natal. A minha natureza "contra mundum" não me deixa, no entanto, grande margem de manobra. Mesmo assim, escutei o que o homem tinha para me contar. Desde logo, pareceu-me que foi muito mal entrevistado. Ricardo Costa tem a mania que é engraçadinho e Sócrates - e bem - fez questão de lhe demonstrar precisamente o contrário. O rapaz da economia contou pouco. Tinha "pano para mangas" e não soube aproveitá-lo. O registo discursivo de Sócrates é de uma clareza cristalina, assente em duas ou três "ideias-chave" que raramente ultrapassam o limite da banalidade. Jamais abandona aquele estilo misto de "campanha eleitoral" com o do "estudante aplicado". Não tem rasgo, mas também não ofende. Se ainda houvesse, estaria no "quadro de honra" do liceu. Tem uma magnífica presença física e não se defende mal. Seja lá o que for que isto quer dizer, deixou uma impressão de "força de vontade" por vezes traída por algum voluntarismo fácil. Passou praticamente incólume perante o "pacote" arco-íris, embrulhado em cimento e em belíssimas intenções, que tinha apresentado de manhã. Não convenceu na história das SCUT, um outro "pacote" que, mais tarde ou mais cedo, vai ter de engolir. Safou-se razoavelmente na questão Souto Moura com uma resposta académica. E "diluiu" com inteligência as "mágoas" dos setecentos mil funcionários públicos nas "dores" dos quatro milhões de trabalhadores "privados". Tudo em nome de uma coisa a que chamou "uma ideia de esquerda". Nada do que foi dito me entusiasmou particularmente, nem a mim nem sequer a um morto. Apesar de tudo, devemos estar agradecidos por, cerca de um ano depois, termos um Sócrates no lugar de um Santana Lopes. Não quero com isto dizer que vamos parar a algum lado, em especial, por causa disso. Com o outro é que, de certeza, não íamos a lado nenhum.

5.7.05

O "PENSAMENTO" DO DIA

Quando ouço a palavra "cultura", puxo pela betoneira.

O "PRÉ-BETÃO"

"As obras para a construção do aeroporto na Ota e das ligações de comboio de alta velocidade (TGV) só devem avançar na próxima legislatura. Os montantes previstos nos próximos quatro anos para cada um desses projectos no programa de investimentos que o Governo hoje apresenta destinam-se a mais estudos, projectos de engenharia e expropriações", diz-nos o Público. Insistir nestas tretas e apresentá-las como "grandes investimentos" para "relançar a economia" até dois mil e tal, é o mesmo que continuar a hipotecá-la em nome de uma "elasticidade" e de uma robustez que ela manifestamente não tem. É prosseguir a mito faraónico dos estádios de futebol sob outra forma. É vender "gato por lebre" aos ingénuos. "Mais estudos, projectos de engenharia e expropriações"... Todos sabemos o que é que isto quer dizer, o que é que isto custa e, sobretudo, quem é que beneficia. Pior do que o betão só mesmo o "pré-betão".

4.7.05

4 DE JULHO

Ten days before Jefferson died, he wrote some notes for the approaching fiftieth anniversary of his Declaration of Independence. "May it be to the world what I believe it will be... the signal of arousing men to burst the chains under which monkish ignorance and superstition had persuaded them to bind themselves, and to assume the blessings and security of self-government... The general spread of the light of science has already laid open to every view the palpable truth that the mass of mankind has not been born with saddles on their backs, nor a favored few booted and spurred, ready to ride them legitimately, by the grace of God..." Science! To us that means total sorveillance, electronic devices to track others, weapons of mass...
On July 4, 1826, Jefferson died. For posterity he wanted to be known as the author "of the Declaration of American Independence, the statute of Virginia for religious freedom, and father of the University of Virginia."
A few hours later, the dying John Adams said, "Thomas Jefferson still lives." But Jefferson had already departed. John Adams had his epitaph ready; it was to the point: "Here lies John Adams, who took upon himself the responsability of the peace with France in the year 1800".
"Let us now praise famous men and our fathers that begat us", as the New England hymn of my youth, based on Ecclesiacticus, most pointedly instructed us.


(Gore Vidal, Inventing a Nation - Washington, Adams, Jefferson, 2003)

O PAÍS ERRADO

Primeiro foi o ministério das Finanças que errou o orçamento. Depois, soube-se que, antes deste erro, já o Banco de Portugal tinha errado o défice. Agora foi o ministério da Justiça - e essa entidade misteriosa que é o INE - que transmitiram dados errados sobre a Justiça a Bruxelas. O senhor "entidade reguladora da saúde" - outro mistério -, apaparicado pelo Presidente da República e pelos governos, percebeu que estava no "lado errado", ou mesmo em lado nenhum, e demitiu-se. O senhor presidente do Governo Regional da Madeira acha "errada" a presença de "indianos" e "chineses" na sua coutada praticamente privada no meio do Atlântico. Esta pequena e grotesca tragicomédia elucida-nos um pouco mais sobre o país em que temos a infelicidade de viver. Um país errado, irremediavelmente errado.

A GRUTA DOS NADADORES



Deu-me para reler um outro "alter ego" meu, o Conde Ladislaus de Almásy, O Doente Inglês, de Michael Ondaatje. Concentrei-me apenas no famoso capítulo IX, A Gruta dos Nadadores. Uso a tradução de Ana Luísa Faria para a Dom Quixote. Muito antes de o livro sair por aí, já o tinha lido no original. O essencial, na minha pobre e pessoal leitura, está concentrado nesse capítulo. Gostava de o poder pôr todo aqui. É um belo momento literário a que gosto de voltar de vez em quando. Sobretudo agora, quando tanto se incensa um livro notoriamente menor de Alan Hollinghurst, The Line of Beauty, traduzido pela Asa, e igualmente vencedor de um "politicamente correcto" Booker Prize, em 2004. De facto, quem não aprecia a mistura da então fogosa Mrs. Thatcher com "tories" sexualmente mal resolvidos e túrgidos adolescentes, ambiciosos ou ingénuos?

Eu era um homem quinze anos mais velho do que ela, está a ver? Tinha atingido essa fase da vida em que me identificava com os vilões cínicos dos livros. Não acredito na permanência, nas relações que duram anos e anos. Era quinze anos mais velho. Mas ela era mais esperta. A sua ânsia de mudar era maior do que eu pensava.

As palavras do marido em louvor dela não faziam o menor sentido. Mas eu sou um homem que em muitos aspectos da vida, mesmo como explorador, se deixou sempre guiar pelas palavras. Por boatos e lendas. Coisas registadas por escrito. Cacos com inscrições gravadas. O tacto das palavras. No deserto, repetir alguma coisa era como lançar mais água à terra. Ali qualquer pequeno cambiante significava um desvio de cem milhas.

Sou um homem que virou quase por completo as costas ao convívio mundano, mas às vezes sei apreciar a delicadeza de maneiras.

Esta é a história de como eu me apaixonei por uma mulher que me leu uma determinada história de Heródoto. Ouvi as palavras que ela foi desfiando do lado de lá da fogueira, sem nunca erguer os olhos, nem mesmo quando provocava o marido. Talvez fosse só para ele que lia o episódio. Talvez não houvesse na escolha outro motivo exterior ao casal. Era simplesmente uma história que a perturbara pela familiaridade da situação. Mas revelou-se-lhe de súbito um caminho na vida real.

Ela parou de ler e ergueu os olhos. Arrancando-se às areias movediças. Ela estava a evoluir. De modo que o poder acabaria por mudar de mãos. Entretanto, com a ajuda de uma historieta, eu apaixonei-me. Palavras, Caravaggio. As palavras têm o seu poder.

Sou um homem capaz de jejuar até ver aquilo que quer.

"Acho que te tornaste desumano", disse-me ela.
"Não sou o único traidor."
"Não me parece que te importe, isto que aconteceu entre nós. Passas por tudo de largo, com o teu medo e o teu ódio à posse, à ideia de possuir, de ser possuído, de ser nomeado. E julgas que isso é uma virtude. Eu acho que tu és desumano. Se eu te deixar, para quem é que te viras? Arranjas outra amante?"
Eu não disse nada.
"Diz que não, raios te partam."

Daqui em diante, segredou-me ela, ou encontramos ou perdemos as nossas almas. Se os mares se afastam, porque o não fariam os amantes? Os portos de Éfeso, os rios de Heraclito desaparecem e são substituídos por estuários de sedimentos. A mulher de Candaules torna-se mulher de Giges. As bibliotecas ardem. Que havia sido a nossa relação? Uma traição aos que nos rodeavam, ou o desejo de uma outra vida?

Todas as coisas que amei ou acarinhei me foram roubadas.

Morremos albergando em nós uma miríade de amantes e de tribos, de sabores que provámos, de corpos como rios de sabedoria onde mergulhámos e nadámos contra a correnteza, de personalidades como árvores a que trapámos, de medos como grutas onde nos escondemos. Quero tudo isto marcado no meu corpo quando morrer. Acredito nessa cartografia - quando é a natureza que nos marca, em lugar de apenas inscrevermos o nosso nome num mapa, como os nomes dos ricos nas fachadas dos edifícios. Somos histórias colectivas, livros colectivos. Não somos escravos nem monogâmicos nos nossos gostos ou experiências. Eu só desejava caminhar por uma terra assim, onde não existissem mapas. Levei Katherine Clifton até ao deserto, onde se abre o livro colectivo do luar. Estávamos no meio do rumor das nascentes. No palácio dos ventos.

3.7.05

O FRANCISCO JOSÉ VIEGAS...

... já foi à Espanha "pós-21%". Pena não chegarem cá pelo mar.

UM PAÍS QUE TEM O QUE MERECE

Para ler na Grande Loja. Só se esqueceu de uma tal Elsa Raposo, uma "celebridade política" descoberta pelos manos Câmara Pereira para Cascais. E por falar em Cascais, o PS, com a habilidade com que anda a tratar do "dossiê" autárquico, foi buscar o sr. dr. advogado Arrobas da Silva (parece que é assim que ele se chama) para enfrentar Capucho, já que, por motivos diversos dos de Elsa, também ele é uma "imagem" televisiva. Longa vida e obra, pois, ao António Capucho!

"UNIDADES"

O Jumento não entende. Eu também não. Mas da luminosa cabeça de Guilherme Oliveira Martins, uma espécie de factotum do regime, tudo pode brotar e o seu contrário.

Existe todo um sistema de contabilização das contas públicas, existe uma direcção-geral do Orçamento e um Tribunal de Contas, e agora vem Guilherme d'Oliveira Martins [
Correio da Manhã / Recortes de Imprensa] propor a criação de uma “unidade técnica independente de acompanhamento de execução orçamental”; proponho desde já a criação de uma outra unidade, a unidade técnica de acompanhamento da unidade técnica independente de acompanhamento de execução orçamental, e se mesmo assim não for possível poupar o país às gralhas de Constâncio então que se crie mais uma unidade para vigiar aquelas.

2.7.05

UM RUMO?

Eu não gosto particularmente de Tony Blair. Mas já consigo gostar menos de, por exemplo, Durão Barroso. Contudo, creio que é útil ler a "síntese" do que move o novo presidente em exercício da União Europeia nos meses que se seguem. Vem no Diário de Notícias e intitula-se "Responder aos Europeus". Lamentavelmente não tem link. Como as ideias são as mesmas, pode ler-se aqui o discurso de Blair aos parlamentares europeus quando apresentou as grandes linhas da sua presidência. Em suma, haja quem mande e, por tabela, oriente.

1.7.05

LISBOA A CINCO

Decorreu hoje na Antena Um o primeiro debate entre os candidatos à principal autarquia do país. Apesar das intermitências e de algumas interrupções, consegui ouvir tudo. Na aridez que constitui o nosso panorama político, Lisboa não tem por que se queixar. Carrilho, Ruben de Carvalho, Maria José Nogueira Pinto, Carmona e Sá Fernandes formam um razoável ramalhete para as actuais circunstâncias. Carmona Rodrigues, o "vereador, como foi tratado por Carrilho, esteve fraco. Tal como Sá Fernandes, cujas debilidades políticas me pareceram óbvias, faltou a Carmona algum rasgo na "defesa" - porventura indefensável - das "soluções" paradoxais de uma Câmara bicéfala. Essa é, aliás, a maior "pedra no sapato" do candidato que eu considero um homem sério e empenhado. Nogueira Pinto, num estilo entre o blasé e a dona-de-casa, foi suficientemente populista para marcar, com subtileza, o seu "território". Restam aqueles que eu estimo como os melhores candidatos, sendo certo que um deles - Carrilho - recebe, à partida, o meu apoio. Descontando umas picardias levemente sofisticadas, Carrilho "passou" bem a ideia de que, na realidade, tem "ideias" e que quer ser efectivamente o próximo edil lisboeta. Nestas coisas, a vontade e a persistência têm mais importância do que parece. Quanto a Ruben de Carvalho, a serena e não demagógica forma de abordagem dos problemas e o conhecimento que possui sobre a cidade, tornam-no, no mínimo, um candidato a seguir com interesse. Não fosse dar-se o caso de o PS e o PCP não se terem entendido, esta dupla seria concerteza vitoriosa.

DIREITO DE RESPOSTA

Em jeito de resposta/comentário ao post "Queer as Foleiro", o Nuno Pinho, autor de um blog assaz interessante, escreveu o que se segue. Não há "notas da redacção".



O
João Gonçalves acha, como pessoa racional. que os homossexuais devem ter os mesmos direitos que toda a gente, "ponto final". Estamos de acordo. Não percebo é como o discurso moralista que depois nos apresenta, ao abrigo do "politicamente incorrecto" (em cujo nome se podem dizer, aliás, as maiores barbaridades), nos vai ajudar a isso. JG desgosta do estilo de vida e comportamentos de alguns gays - que parece descortinar perfeitamente através da sua marcha anual - e acha que deviam ficar em casa. Como os políticos também "ficam em casa" nesta matéria, não se vê então como poderia a comunidade LGBT reivindicar os seus direitos. Todos os outros grupos podem, mas os gays devem ficar em casa em prol de um melhor ambiente nas ruas. Deixe que lhe diga, tal pensamento é duplamente foleiro. Foleiro pela desconsideração cívica e pela hipocrisia do discurso do "não sou homofóbico, mas pronto, a lei está como está. Paciência". Se todos ficassem em casa, até seria fácil dizer que provavelmente não existem. Foleiro porque assume que todos os homossexuais sem comportam desta maneira, o que não é verdade. E aqui se vê que JG não esteve na Marcha Gay, e não viu que estariam uns 5% de transformistas, se tanto. Ou, pior, baseia a sua análise em reportagens televisivas sensacionalistas. E mesmo que fossem 100%, qual o problema? Para além de haver "transgenders" que têm direito à vida e à luz do sol, o orgulho gay surge em oposição à vergonha gay. Em adição, uma marcha também tem um lado de provocação e carnaval. Aposto que JG não se insurge contra outros mascarados libidinosos em situações festivas. Caro João, até poderá ter razão em realção a algumas críticas que faz em relação ao associativismo LGBT, mas é intelectualemente errado partir daí condenar qualquer luta pela alteração de leis e mentalidades que, até à data, só envergonham Portugal e as suas elites.Ps. Vi ainda um engraçado "sketch" do Contra-Informação que colocava a manifestação de neo-nazis em algum paralelo com a Marcha Gay. A comparação surgia através do baixo número de manifestantes em ambos os casos. Porém, para que não restem dúvidas, é preciso dizer que os primeiros procuram limitar direitos e impor comportamentos que afectam directamente todos os que não professem a xenofobia nacionalista enquanto os segundos querem apenas igualdade de direitos que não afectam (a não ser nos preconceitos) as vidas de ninguém.