24.7.05

BEM-VINDO, DR. SOARES

1. José Sócrates, famoso em Portugal e arredores pela sua presuntiva autoridade, sofreu, em apenas uma semana, dois reveses nessa sua "qualidade". O primeiro, constituiu-se na "fala" amplamente comentada de Freitas do Amaral, algo que ele suportou menos mal, ruminando a "inteligência" do exercício. Como quase sempre, Freitas marcha a reboque dos acontecimentos. Também aquela sua "fala", como escrevi, antecipou a verdadeira. E chegamos assim à segunda machadada na famosa autoridade. Ainda há poucos dias, Sócrates disse que as presidenciais não estavam nem na sua agenda, nem na agenda dos portugueses. Ninguém, acrescentou, lhe arrancaria o mais vago comentário sobre o assunto, de que cuidaria oportunamente. Engano dele. Mário Soares "obrigou-o" a dizer publicamente quem era o candidato do PS. Ou seja, Soares começa ao contrário. "Encolheu" da nação para o partido, quando normalmente um aspirante presidencial "cresce" de um partido para a nação. Não obstante, é o primeiro melhor último recurso depois de Guterres, Vitorino ou de Alegre que -imagino - deve estar nesta altura "invadido" pelos melhores sentimentos.
2. Os desenvolvimentos dos últimos dias, no seio do governo, trouxeram de volta a lembrança da verdadeira "génese" política de Sócrates. Primeiro, o "aparelho" local partidário, depois o "aparelho" geral partidário, com o mesmo apoio "logístico" de que Guterres já tinha beneficiado contra Sampaio, o omnipresente dr. Jorge Coelho. A grunhice de Mesquita Machado, o "patrão" dos autarcas socialistas, proferida acerca da demissão de Campos e Cunha, avivou-me definitivamente a memória. Mário Soares vem porventura tentar tapar o último buraco da sua carreira política, ao mesmo tempo que ajuda a tapar o do partido e o de Sócrates, manifestamente já "a reboque" do "fundador". O "modelo" presidencial, protagonizado durante algum tempo por Soares e durante todo o tempo por Sampaio, está claramente ultrapassado. Já não basta ser "moderador e árbitro". Vai ser, sobretudo, preciso um "orientador". Soares, de novo em Belém, não quererá deixar de o ser, especialmente em relação a um Sócrates que intimamente deve desprezar e que, mesmo sem ainda ter anunciado nada, já "comanda". Chamar-se-á a isto "estabilidade"?
3. Eu estive no MASP I e II, há mais de vinte e de quinze anos respectivamente, correndo riscos de expulsão partidária no primeiro caso. Quando o desvario Barroso/Santana Lopes estava no auge, defendi aqui uma recandidatura "soarista". Sobreveio inesperadamente Sócrates e, com ele, a maioria absoluta do PS, que apoiei. A entrada de Mário Soares na "corrida" de 2006 confere-lhe indiscutivelmente uma densidade política bastante mais interessante do que se esperava. E, seja qual for o resultado, dará uma legitimidade democrática robustecida ao novo presidente que eu continuo a defender que deve ser Cavaco Silva, por razões que a seu tempo detalharei. Desta vez não o acompanho, dr. Soares. Mas seja bem-vindo.

5 comentários:

  1. Anónimo8:51 p.m.

    Grande discurso e grande bofetada nos seus críticos mais jovens, este de Mário Soares, um espírito jovem com 81 anos.

    Aquela que ele disse que esteve numa manifestação na rua contra a guerra do Iraque vai levá-lo à vitória.

    O povo tem memória e na campanha Soares vai perguntar muitas vezes a Cavaco onde estava nessa altura. Estaria com Durão Barroso, o delfim de Cavaco Silva? Estaria na cimeira dos Açores, com o seu delfim Durão Barroso?

    Fez Cavaco Silva alguma coisa para evitar o desastre de Bush e de Durão Barroso nos tempos que antecederam a guerra do Iraque?

    Suponhamos que nessa altura Cavaco Silva era presidente da República. O que teria ele feito, iria receber Bush nos Açores e dar o aval de Portugal ao disparate que foi a guerra do Iraque? O que teríamos em troca desse apoio a Bush? Provavelmente o que tiveram Aznar e Blair, terrorismo em casa.

    Perceberam, idiotas cavaquistas e portugueses em geral, o que está em jogo na próxima eleição?
    Querem terrorismo em casa por uma causa idiota que não nos diz respeito?

    Cavaco Silva é autor moral da idiotice de Durão Barroso ao apoiar Bush na guerra do Iraque, porque Durão Barroso era o seu delfim. Não venha agora fingir que se distancia da posição de Durão Barroso quanto à guerra do Iraque, porque os portugueses nada viram dele nessa altura e depois.

    Os portugueses não gostam de múmias oportunistas e videirinhas. Gostam de Mário Soares, poque ele enfrenta os toiros quando todos fogem ou ficam calados.

    Viva Mário Soares, um dos mais valentes dos portugueses!
    Viva Portugal!

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  2. Anónimo9:08 p.m.

    bem dito caro anonimo.
    era o que nos faltava termos terrorimo em casa.

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  3. Anónimo6:13 p.m.

    Soares, por duas vezes que foi primeiro ministro, chamou o FMI para pôr as finanças em ordem. E pôs, com a ajuda de Vitor Constâncio e Hernani Lopes. Tem por isso CV nessa matéria.

    Depois, Cavaco Silva, nos (des)governos que teve, deixou um défice nas contas públicas ainda maior do que o de agora. E quem o diz é Miguel Cadilhe, ex-ministro de Cavaco Silva. Até o acusa de ter sido o pai do MONSTRO.

    Em tudo o resto Cavaco Silva perde para Mário Soares, incluindo na célebre farsa da cimeira dos Açores, apadrinhada pelo delfim de Cavaco Silva. E como este aos costumes nada disse nessa altura nem depois (porque também não sabe dizer nada além da tabuada da economia), quer dizer que está de acordo com o que Durão Barroso fez. Ora, para terrorismo em casa a convite de Cavaco Silva por intermédia pessoa(Durão Barroso, seu delfim por ele muito elogiado) bem nos basta o dos incêndios e o que aconteceu em Madrid e em Londres.

    É neste aspecto crucial que Mário Soares vai derrotar impiedosamente Cavaco Silva, já que quanto a finanças Soares tem CV governamental muito superior ao de Cavaco Silva. Resumindo, Mário Soares bate Cavaco Silva em tudo. É o que dá a pseudo-virtude do silêncio...

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  4. Anónimo5:15 p.m.

    Pois eu voto Cavaco Silva meus.

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